Opinião: Do Prado ao Prato ou do Supermercado ao Prato?!

Texto de opinião de António Malheiro - a.malheiro@publindustria.pt

No âmbito da estratégia Do Prado ao Prato a União Europeia pretende reduzir a utilização de pesticidas para metade até 2030. Para uns é um passo importantíssimo para enfrentar a crise climática e estancar a perda acelerada de biodiversidade. Para outros será a ruína de milhares de agricultores e a desarticulação da cadeia agroalimentar com graves perturbações, agora agravadas com a guerra na Ucrânia.

A guerra civil é a pior das guerras e parece ser esse o caminho que a Europa seguirá com a discussão da nova diretiva para o uso dos pesticidas.

De um lado da trincheira, os cidadãos liderados pelos ambientalistas encartados. Do outro, os agricultores e a agroindústria liderados pelas associações representativas e seus lobbys.

O vice-presidente da Comissão Europeia, Frans Timmermans, desencadeou as hostilidades, mas Ursula von der Leyen, que tem dado de provas de competências bélicas, travou os beligerantes com o adiamento da discussão da nova diretiva.

O bom senso no contexto atual de conflitualidade na Europa terá de prevalecer – energia, cereais, fertilizantes, logística e embargos são incógnitas a mais para uma equação que no limite nos garanta a soberania alimentar e que na ambição o faça com respeito pela biodiversidade.

Ao longo de décadas foi-se construindo um modelo de produção agrícola suportado nos pesticidas, fertilizantes e mecanização que gerou abundância e até excedentes por vezes pornograficamente destruídos em manifestações de protesto pelos preços ou escoamento.

A grande distribuição e a indústria agroalimentar modelaram um novo estilo de vida, modelaram comportamentos e induziram a agricultura intensiva como face da mesma moeda – consumo em massa / produção em massa.

Hoje é inquestionável que este modelo de produção agroalimentar e cumulativamente de organização social de forte matriz urbana é insustentável e levará a humanidade a uma catástrofe. No entanto, não se pode colocar o pé no travão em cima da curva sob pena de criarmos na sociedade uma onda de choque de consequências imprevisíveis que, em última análise, pode criar anticorpos de resistência da opinião pública ao processo de mudança em curso.

Os pesticidas são uma parte do problema, mas seguramente que sem uma visão holística das causas a Europa não atingirá os seus objetivos para 2030.

Não é fácil passar de uma sociedade formatada para o consumismo desenfreado – do supermercado ao Prato – para uma sociedade do Prado ao Prato, mas terá de ser feito sob pena de uma catástrofe planetária.

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