Pistácio: uma cultura que ganha terreno em Portugal
A cultura do pistácio é ainda pouco explorada em Portugal, sobretudo porque necessita do clima apropriado ao seu desenvolvimento. O Agronegócios falou com José Martino, presidente do conselho de administração da Fruystach, empresa detida por produtores de pistácio, e que abriu a sua sede no Fundão, no início de janeiro de 2016. Um dos objetivos é claro: «promover 3000 hectares de pistácio em regadio até 2018». A exportação é «o principal desígnio das produções» no país, sobretudo para os países do centro e norte da Europa.
Um dos principais objetivos do lançamento da empresa passa por se assumir como uma referência na fileira dos frutos secos. O projeto, que se irá transformar numa OP (Organização de Produtores), tem como prioridades criar riqueza, postos de trabalho, e dinamizar a economia das regiões mais desfavorecidas de Portugal.
Para além disso, a Fruystach quer, ainda, contribuir para travar a desertificação destas regiões, desenvolvendo o apoio à criação de projetos agrícolas sustentáveis.
José Martino, presidente do conselho de administração da empresa, começa por dizer que a cultura do pistácio em Portugal «é pouco conhecida, tal como outras atividades agrícolas com muito interesse e rentabilidade porque falta uma entidade pública que faça o trabalho de pesquisa e prospeção internacional destas atividades alternativas, sejam agrícolas ou agroindustriais, a análise e validação dos respetivos dados estatísticos, adaptação aos solos e climas de Portugal, mercados, etc. bem como construção do modelo técnico económico de produção e comercialização, rentabilidade e elaboração do plano de desenvolvimento estratégico».
Após o trabalho de bencharking (processo contínuo que permite a comparação das performances das organizações e respetivas funções) e validação, «esta entidade pública deveria fazer a divulgação pública das atividades e partir deste ponto passaria para a esfera da iniciativa privada, do investimento privado», considera o responsável.
Sobre as regiões onde o clima é mais favorável à prática desta cultura, José Martino afirma que «só tem aptidão climática a região de Portugal com muito frio de inverno e muito calor de verão, baixa humidade relativa e precipitação de abril a Setembro», ou seja, regiões confinadas dentro dos distritos de Bragança, Vila Real, Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja.
Sobre a Fruystach, e como surgiu a ideia de lançar o projeto, José Martino, explica que «só é possível desenvolver desde o zero uma fileira que quer que os seus produtos tenham algum peso, dentro de cinco anos, no mercado internacional se houver uma Organização de Produtores (OP) que a organize, congregue os interesses dos produtores, a lidere prestando serviços de assistência técnica, dado ser uma atividade desconhecida e lance a comercialização para os mercados internacionais».
A Fruustach surgiu com esta matriz, esclarece, e garante que «está a trabalhar para cumprir estes objetivos».
A escolha do Fundão
«O Fundão é o centro de gravidade da região onde esta organização dos produtores se propõe intervir, tem boas acessibilidades e uma gestão política municipal que entende os problemas da instalação das empresas e dos seus quadros na região do Interior de Portugal, cria e oferece soluções praticamente únicas», assegura.
Os distritos que a Frusytach se propõe trabalhar são Bragança, Vila Real, Guarda, Castelo Branco, Portalegre, Évora e Beja, como referido anteriormente.
O objetivo, explana, «é implantar o pistácio no sítio certo, solos e climas adequados, tirando partido dos agricultores/empreendedores que sejam rigorosos e disciplinados no investimento e exploração agrícola».
A Fruystach iniciou a sua atividade no passado dia 4 de janeiro. Até final de 2016 irá ter uma equipa de quatro pessoas: direção geral, técnicos e administrativo.
«A região interior de Portugal precisa de uma política fiscal efetiva que motive as empresas a instalarem-se e deslocalizarem-se junto com existência de concursos de atribuição de ajudas públicas ao investimento na agricultura, indústria e serviços exclusivos para o Interior», alerta José Martino que defende, por exemplo, que o «Programa de Desenvolvimento Rural (PDR2020) que tem escassez de meios financeiros, nos próximos concursos de atribuição das ajudas públicas ao investimento na agricultura, só sejam elegíveis os distritos indicados acima».
E acrescenta que «seria um sinal de quem está no Litoral e quer investir na agricultura terá de o fazer na região Interior, pois é o superior interesse nacional que o dinheiro público seja alocado onde estruturalmente é mais caro e complicado fazê-lo, e mais premente promover o desenvolvimento económico e social».
Os objetivos da empresa, diz o presidente do conselho de administração da Fruystach, «são dar assistência técnica aos seus associados desde a fase da implantação, organizar a comercialização e promover 3000 hectares de pistácio em regadio até 2018».
De que forma esta cultura pode de facto enraizar-se no país? À pergunta, José Martino responde perentoriamente: «a forma para enraizar a cultura é desenvolver um processo de comunicação e animação da fileira, constante, permanente, sistemático, mostrando as plantações, e sobretudo os seus resultados financeiros. O motor de promoção de uma atividade agrícola é o ganho financeiro efetivo do agricultor. Neste ponto o pistácio vai-se impor e terá sucesso porque tem rentabilidade muito elevada, é difícil encontrar uma atividade agrícola com rentabilidade tão alta».
Da produção à comercialização
Sobre todo o processo, José Martino narra que «o pistácio é uma árvore que demoras alguns anos a formar-se até atingir a plena produção. Tem poda de inverno, praticamente não necessita de tratamentos fitossanitários, fertilização na rega, alguma poda verde, controlo de infestantes na linha e do prado na entre linha, a colheita é mecanizada tirando partido da estrutura de mecanização do olival (vibrador e lona de receção dos frutos). Os frutos serão entregues à Fruystach para descasque e secagem, calibragem, armazenagem, embalagem e comercialização».
Quanto à exportação do fruto, «como o pistácio é muito bem pago ao produtor, logicamente terá um preço elevado ao consumidor».
O responsável sublinha, por isso, que «infelizmente Portugal não possui rendimentos disponíveis na sua população para consumo de milhares de toneladas deste fruto».
«Assim sendo, a exportação será o principal desígnio das produções de pistácio de Portugal. Os principais mercados são os países do centro e norte da União Europeia (UE).
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Fotos: Arquivo e Fruystach