Maracujá Roxo

Por: Bernardo Madeira

Um dos frutos exóticos que melhor se adaptou ao sul e norte litoral de Portugal é o maracujá roxo (Passiflora edulis). É fruto redondo, tendo aproximadamente o tamanho de um ovo grande, de peso médio entre os 60 e os 150 gramas, de sabor doce, acidez variável de acordo com a variedade, estado de maturação e local de produção, sendo apenas comestível o conteúdo, que tem um forte e muito agradável aroma a... maracujá.

As cascas têm usos medicinais e podem ser consumidas por animais. A floração, exuberante, produz belo efeito ornamental em jardins. O género deve o seu nome “Passiflora”, ao facto de se ter encontrado uma simbologia entre as suas flores e a paixão de Cristo, da seguinte forma: os três estigmas seriam os três pregos de Cristo crucificado, as cinco anteras representavam as cinco chagas; as gavinhas eram os açoites usados para o martirizar e a flor a coroa de espinhos.

Planta nativa da América do Sul, ocorrendo em matas do Brasil e Argentina, trata-se de uma espécie sub-tropical, sendo as variedades roxas muito tolerantes ao frio e à geada, podendo ser cultivadas sem receio do Algarve ao Minho, onde as temperaturas mínimas invernais não baixam, habitualmente dos 0 ºC, podendo suportar episódios de algumas horas de -4 ºC, mas nestes casos deve acautelar-se o uso de sistemas de rega por aspersão para evitar os danos do frio ou abrigos, polituneis, como os que se usam para a framboesa (técnica que permite obtenção de maiores rendimentos).

Embora existam já alguns pomares industriais no Algarve e vários ensaios de média dimensão (cerca de 1 ha) na região de Braga e Viana do Castelo (ao ar livre e em abrigo), é a Madeira que lidera a produção nacional.

O maracujá tem, quer no mercado nacional quer internacional, um escoamento regular, que não é mais fluído em Portugal em virtude das elevadas cotações que o fruto atinge, pela falta de produção e pelo abastecimento estar, quase totalmente, suportado pela fruta importada, sendo frequente, dependendo da época do ano, apresentar-se entre os 4 e os 10€/kg.

Instalação do pomar

A forma mais prática de instalação de um pomar de maracujá é a plantação, em março ou abril, de plantas enraizadas em alveólos ou em vasos.

Tratando-se de uma planta trepadora, de caules herbáceos, providos de gavinhas, deve assegurar-se um suporte por onde as plantas possam trepar, podendo orientar-se a plantação em ramada ou em “bardo”, como na vinha. Nas regiões mais frias a produção em bardo (basta um a dois arames, à altura máxima de 1,6 a 2 m de altura), é mais recomendada, sobretudo, por garantir uma maior exposição da fruta e da cortina de vegetação ao sol, obtendo-se, assim, uma melhor maturação, fruta mais doce e menos ácida, além da facilidade de colheita, podendo aproveitar-se os bardos de vinhas abandonadas.
Na cultura em bardo as plantas são instaladas a intervalos que vão dos 2 a 5 metros na linha e 2,5 a 3 m nas entrelinhas, guiadas por estaquinhas de cana ou melhor, por fios, como é uso fazer-se com o tomate e o feijão, desde o solo até ao primeiro arame, ao qual a planta se agarrará por meio das sua gavinhas, formando, depois, uma cortina retumbante.

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Durante a formação da guia principal deverão ser eliminadas as ramificações laterais que cresçam baixas, de modo a garantir o crescimento de apenas uma haste até à altura do arame, e quando se ultrapassa, cerca de 30 centímetros a altura deste, é feita a desponta (corte da gema do ápice), estimulando-se a rebentação de ramos laterais, escolhendo-se então duas hastes que serão orientadas sobre o arame, mantendo os ramos que surgem a partir destes deixados retumbar pendurados no arame, como se se tratasse de uma cortina.

Como a planta tem uma duração produtiva relativamente curta, até 3 anos, deve-se acautelar a constante renovação da plantação.

Deve-se manter uma faixa livre de infestantes de cerca de 1 metro para cada lado da planta, não faltando as regas diárias no verão, mas não excessivas, sendo os bolores da raiz temíveis inimigos da cultura, sendo esta uma das razões para nunca se realizarem mobilizações do solo, (herbicidas, capinagens e uso de plásticos para proteção contra infestantes).

O pH do solo deve encontrar-se entre os 6 e os 7,5, procedendo-se a correções se necessário, e a uma abundante fertilização de fundo, rica em estrumes bem curtidos.

A cultura do maracujá apresenta uma média de produção das 10 a 15 toneladas/hectare, tendo, contudo, um potencial superior às 30 toneladas por hectare, em excelentes condições produtivas e usando variedades melhoradas australianas ou brasileiras.

Notas finais

A polinização é um dos aspetos melindrosos da cultura, sobretudo pelo facto de a flor só estar recetiva apenas durante um dia e exigir a presença de elevado número de abelhões ou bezouros (Bombus spp.) pelo que a presença destes na plantação deve ser reforçada, eventualmente com a instalação de colmeias deste inseto, e mesmo assim, por vezes pode ser de recomendar que se assegure manualmente a polinização (para atingir o máximo potencial produtivo).

De notar que a abelha doméstica, Apis mellifera, em caso de falta de abelhões, pode ser um problema para a polinização, pois “rouba” grande quantidade de pólen sem, efetivamente, realizar a polinização.

É uma planta de rápida instalação, mas com um ciclo produtivo inferior a 3 anos. Além da necessidade de renovação de plantas é conveniente planear uma rotação de culturas, por exemplo, a cada 6 anos, para evitar a prevalência de doenças, sendo a amora, por exemplo, uma das culturas que poderá aproveitar a infraestrutura tutora e de rega.

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