Produção de mirtilo em abrigo

Por: Bernardo Madeira, Fotos: Haygrove

Embora a cultura do mirtilo seja, normalmente, realizada ao ar livre, para o que encontra naturalmente, em Portugal, condições muito propícias, a produção em abrigo está a expandir-se em todas as regiões. Este tipo de produção apresenta, comprovadamente, vantagens que podem justificar a sua adoção e que se resumem a seguir:

1.     Maior precocidade;
2.     Antecipação/atraso da produção;
3.     Maior produção;
4.     Possibilidade de duas colheitas;
5.     Produção de melhor qualidade;
6.     Colheita segura (temporais e pragas) / racionalidade uso da mão-de-obra.

1.     Admitindo que a cultura de mirtilo se faz sob abrigo desde a sua plantação (plantas com 2 anos), regista-se, por este facto, de acordo com ensaios realizados em várias regiões, uma maior precocidade da cultura, ou seja, esta entra em produção com menos anos de plantação.  No ambiente de uma estufa, se bem gerida, as plantas encontram condições vegetativas muito mais favoráveis, desde logo pelo alongar da época de crescimento. Por este motivo os ramos crescem mais e mais depressa, conseguindo-se, assim, formar mais cedo, uma copa produtiva, podendo este ganho ser de um ano de produção, e em alguns casos essa antecipação foi de dois anos.

2.     A maioria dos estudos conhecidos, incluindo os ensaios realizados nas Astúrias (incluindo variedades tipo “Sul”), no norte de Espanha ou pelo INRB na Herdade da Fataca, relatam a antecipação da floração e da maturação da fruta produzida em abrigo que, dependo dos anos e dos autores (testando variedades e abrigos diferentes), variaria entre os 15 dias a mais de 40 dias de antecipação. Esta antecipação da colheita tem sido um dos principais objetivos das regiões produtoras do Sul da Europa que assim conseguem uma melhor remuneração da fruta que, em alguns casos e semanas, pode ser superior ao dobro do preço pago na época de maior produção. Como se sabe, o mirtilo apenas teme o frio aquando da floração, consequentemente, alguns estudos norte-americanos referem o risco de, com a produção em abrigo, a antecipação poder implicar a ocorrência de geadas no interior do abrigo com as plantas em floração, algo que não ocorrerá na maioria das regiões produtoras portuguesas. Contudo, de sublinhar que a floração muito temporã pode ocorrer em período em que não há polinizadores, pelo que estes devem ser reforçados. Algumas empresas anunciam plásticos de cobertura que permitem (pela redução da luminosidade), atrasar a maturação da fruta em aproximadamente 15 dias. Esta solução poderá ter interesse quando se pretende concentrar a maturação no final da campanha, em concorrência com a fruta precoce do hemisfério Sul.

3.    Não será difícil admitir que se registe um aumento de produção quando se cultiva o mirtilo em abrigo, tal como sucede com a maioria dos pequenos frutos. Estes resultados devem-se a uma maior sobrevivência das flores, uma maior viabilidade do pólen, melhor condições vegetativas, uma forçagem do desenvolvimento vegetativo e menor incidência de problemas fisiológicos.

4.    Para alguns tida como uma curiosidade, para outros uma oportunidade imperdível, facto é que certas variedades de mirtilo de tipo Sul (Sharpblue, Star, etc), com baixíssimos requisitos de frio, diferenciam botões florais e quebram a dormência no final do verão, conseguindo-se uma pequena produção de mirtilo em pleno outono. Trata-se de uma técnica ainda pouco desenvolvida, que tem sido objeto de atenção, incluindo em Portugal. Esta segunda colheita só é possível conjugando práticas culturais, variedades, abrigos e, obviamente, um clima regional favorável.

5.    Os frutos amadurecidos em abrigo têm potencial para produzirem fruta com menor acidez e maior grau brix. A maturação será mais uniforme, sincronizada e, potencialmente, o calibre aumentará (desde que não haja falhas na polinização) nem stress hídrico.

6.     Para muitos a decisão de optar pelo uso de um abrigo põe-se pelo facto de, por pequeno aumento de preço, poderem fazer um “up-grade” da estrutura da rede antipássaro para um abrigo. De facto, com a cultura coberta com plástico torna-se dispensável a utilização de proteção contra aves, desde que todas as entradas estejam devidamente protegidas e, além disso, com o uso de redes finas nas aberturas pode-se defender a cultura do ataque de insetos, incluindo a temível Drosofila suzuki. Algumas empresas reforçam, como argumento de venda, que a simples proteção da cultura contra a geada, a chuva e sobretudo o granizo, são vantagens que permitem o antecipado pagamento do investimento no abrigo, uma vez que estes eventos meteorológicos impõem graves perdas nas colheitas, quer diretamente, quer indiretamente. Por último, refira-se que a produção em abrigo permite o uso da mão-de-obra sem perda de eficiência, todos os dias do ano, independentemente das condições climatéricas.

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Obviamente que o uso de abrigos não se reveste apenas de vantagens. E a maior desvantagem é, sem dúvida, o custo de instalação e de manutenção, diluída em custos com a renovação de plástico mas, também, com a mão-de-obra no fecho e abertura de coberturas. Por outro lado refere-se, em alguns casos, quando as condições do abrigo não são as ideais, um aumento da humidade atmosférica, com o consequente agravamento do ataque de doenças fúngicas. Assim, a opção pela instalação de um abrigo deve obedecer a um cuidadoso estudo económico. Como abrigos encontramos no mercado uma multiplicidade de estruturas, que podemos dividir em 3 categorias:

1.    Túneis baixos;
2.    Túneis altos;
3.    Estufas.

1.    Os abrigos baixos, frequentes no Sul de Espanha, são estruturas muito leves, de baixo pé direito e que, normalmente, não permitem a cultura nas linhas onde se encontram os pés que suportam os arcos. Esta estrutura é muito económica, conseguindo-se preços a partir dos 3€/m2. Apresenta a vantagem de permitir a abertura e fecho dos topos quando desejado, normalmente de forma total, porém, por ter uma pequena caixa-de-ar não permite um aceitável condicionamento ambiental, e em regiões do norte acaba por servir sobretudo como mera proteção da cultura contra pragas (aves), chuva e granizo.

2.    Os túneis altos partilham as mesmas vantagens dos túneis baixos, nomeadamente um custo muito reduzido e a possibilidade de proceder à abertura e fecho total da cobertura, porém, a sua maior caixa-de-ar permite um razoável condicionamento ambiental e a união de vários túneis com maior aproveitamento de área (por não se perder área nas linhas onde se fixam as patas. Todos estes tipos de abrigos são construídos sem sapatas, o que lhes dá uma grande mobilidade e facilidade de montagem.

3.    As estufas, e dentro destas existe uma grande variedade, são as estruturas nas quais se pode obter um melhor condicionamento ambiental e onde se registam as melhores performances. São estruturas muito mais caras, mas também mais resistentes. Neste caso a cobertura plástica não pode ser facilmente removida, o que pode ser um obstáculo nos mais quentes dias do ano, uma vez que o calor excessivo é um dos inimigos da cultura de mirtilo, pelo que se exige modelos bem ventilados, por outro lado, o aquecimento só se admite nestas estruturas, que permitem o seu encerramento quase perfeito.

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