Portugal não consegue travar avanço da vespa asiática

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Portugal vai ter de aprender a conviver com a vespa asiática, inseto predador de abelhas que, além de ser responsável por uma quebra na produção de mel, está também a preocupar as autoridades, pelo à-vontade com que instala os seus enormes e populosos vespeiros em zonas urbanas.

Estas duas características levaram as autoridades nacionais a definirem um plano de ação para controlo desta espécie invasora, que constitui também uma ameaça à biodiversidade e à saúde pública.

Mas, no terreno, as organizações de apicultores e os bombeiros, que assumem o trabalho de identificação e destruição de ninhos, queixam-se de falta de apoio, e pedem mais verbas nacionais para uma tarefa que se multiplica de dia para dia.

Só este ano já foram destruídas muitas centenas de ninhos de vespa asiática nos distritos de Viana do Castelo, Braga e Porto, os mais afetados pela presença desta Vespa velutina nigrithorax.

Não há um número exato, só os que cada concelho vai revelando.

Portugal tem uma plataforma online, a SOS Vespa, para mapear todas as ocorrências, mas esse instrumento está refém da colaboração de cidadãos e instituições na notificação, eletrónica, dos casos.

Por isso, a informação que ali surge não está atualizada, garantem várias entidades que, no terreno, se têm envolvido no combate a esta espécie.

A vespa velutina é uma espécie exótica, mas não está ainda sequer classificada como tal, no nosso país.

Essa prerrogativa de classificação cabe ao Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, que gere também o sistema de informação SOS Vespa, mas sobre este tema não foi possível, no final da semana passada, obter explicações deste organismo, dado o facto de estar “fora do país” quem as poderia dar, explicou o gabinete de comunicação do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF).

Esta entidade tem um papel de coordenação, no Plano Nacional de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal, tal como o Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), ao qual foi atribuída a coordenação das ações de formação e de divulgação.

No plano que data já de 2014, todo o trabalho de vigilância passiva e ativa, controlo e destruição ficou nas mãos dos produtores e das entidades municipais, bem como o grosso da despesa com equipamentos e outros recursos necessários para eliminar esta ameaça que não gosta das zonas frias do interior, mas na faixa atlântica avança para sul ao ritmo de 30 quilómetros por ano.

Portugal «perdeu uma oportunidade de controlar com maior eficácia» a expansão da vespa velutina no território continental, lamenta António Cruz, comandante dos Bombeiros Municipais de Viana do Castelo e um dos homens que, desde 2012, foram obrigados a aprender o mais que pudessem sobre ela, para melhor a combater.

Este inseto foi detetado no final de 2011, precisamente em Viana, numa altura, nota Cruz, em que a sua ecologia na Europa «era já bem conhecida», por via da atenção que em França lhe era prestada há anos.

«Tínhamos muita informação disponível. Faltou um ataque mais intenso, coordenado, e com alocação de meios nacionais, para evitar a sua propagação. Mas como isto estava confinado ao Alto Minho, as entidades nacionais demoraram a reagir…», lamenta, numa crítica repetida pelos apicultores da região que desde cedo puseram pés ao caminho e começaram a contactar as associações e universidades de Espanha e de França, país onde numa década a vespa colonizou 70 por cento do território.

Na verdade, e dada a excelente capacidade de adaptação às condições no terreno e o ritmo de reprodução da espécie, António Cruz não sabe se teria sido possível travar totalmente a evolução que o fenómeno teve.

«Mas pelo menos saberíamos que tínhamos tentado», insiste. Neste momento, o investigador José Manuel Grosso-Silva, entomólogo do Cibio, centro de investigação da Universidade do Porto, não tem dúvidas de que a parente asiática das vespas que já existem em Portugal veio para ficar, e que neste momento o país vai ter de melhorar os mecanismos de deteção e controlo preventivo.

Fonte: Público

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