O arroz

o Arroz

Por: António Sevinate Pinto, Eng.º Agrónomo - Administrador da Lusosem S.A.

O Arroz é dos cereais mais cultivados e consumidos no mundo inteiro. A cultura do Arroz, conjuntamente com a do Trigo e do Milho, ocupam mais de metade das terras agrícolas do globo.

Originária do sudoeste asiático e com sinais conhecidos da sua existência com mais de 5.000 anos, deve a sua dispersão pelo mundo inteiro às grandes navegações dos séculos XV a XVII. Chegou ao Brasil no final do seculo XVI e à América Norte já um pouco mais tarde. Uma produção mundial superior a 700 milhões de toneladas é obtida em cerca de 160 milhões de hectares, mais de 50 % dos quais na China e India, com 35% e 22%, respetivamente. Mais de 90% da produção mundial é obtida na Ásia e apenas 6/7% dessa produção global circula no comércio mundial. Os Estados Unidos são os principais exportadores, com cerca de 60% desse comércio, seguidos da Argentina.

Desde o início do século assistiu-se a um crescimento da produção mundial superior a 20%, apesar do fraco aumento da área disponível para a cultura. O grande contributo tem sido a evolução positiva da produtividade, obtida pela melhoria da gestão da tecnologia e principalmente através da Qualidade das Sementes utilizadas.

Atualmente, o arroz é a base da alimentação e a principal fonte energética de mais de metade da população mundial. É normalmente consumido após a operação de “branqueamento”, que consiste na extração, por meios mecânicos, da casca e pelicula do arroz que, por isso, perde grande parte do seu valor nutritivo, minerais e vitaminas. Um processo idêntico mas com uma cozedura sob pressão antes do branqueamento, concentra os nutrientes no centro do grão, aumentando assim o rendimento alimentar e o valor nutritivo.

Golden rice – já em 2004, cientistas do International Rice Research Institut, IRRI, a partir de uma variedade das Filipinas, obtiveram, por manipulação genética, uma nova variedade de arroz, o Golden Rice, bastante mais rica em beta-caroteno, um percursor da vitamina A. Estima-se que, por falta desta vitamina, pouco presente no grão de arroz, morrem anualmente cerca de 600.000 crianças antes de atingirem os 5 anos de idade.

Posteriormente, foi anunciada uma nova variedade, Golden Rice 2, capaz de produzir até 23 vezes mais de beta-caroteno que o GR original.

Apesar da importância humanitária evidente, este importante resultado do progresso científico tem encontrado forte oposição ao seu desenvolvimento, pela parte de ativistas ambientais. Só recentemente, a credível organização Green Peace iniciou uma alteração de comportamento no sentido da “aprovação” do Golden Rice.

O Arroz na Europa

O Arroz consome-se em toda a Europa, com bastantes taxas diferentes de consumo e tipos de arroz, adaptados às várias gastronomias e hábitos alimentares. O risoto em Itália, a paella espanhola, os inúmeros pratos de arroz e doçaria regional portuguesa, o arroz solto, branco ou o aromático em praticamente todos os países, fazem da Europa o quarto importador mundial.Com uma produção global de cerca de 3,1milhões de toneladas de arroz branco (4,5 milhões de toneladas de arroz em casca), produzidas em 470 mil hectares (apenas a cargo dos países do Sul), a Europa atinge uma taxa de autossuficiência de cerca de 65%. Com mais de metade da área, a Itália representa cerca de 48% da produção europeia. Segue-se a Espanha com um quarto da área e cerca de 30% da produção, a Grécia (8%), Portugal (6%), França (4%) aparecem nos lugares seguintes. Roménia, Bulgária e Hungria têm menos de 2% da produção.

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O Arroz em Portugal

Em Portugal, cultivam-se cerca de 30.000 hectares de arroz, repartidos maioritariamente pelos Vales do Mondego (6.000 ha), do Tejo e Sorraia (14.300 ha), do Sado (9.000 ha) e ainda em regadios privados um pouco por todo o sul do país.

Conforme o comprimento do grão do arroz, da sua largura e do quociente entre as duas medidas, classifica-se comercialmente o arroz entre três tipos diferentes (a classificação italiana prevê 5 grupos): grão curto ou redondo, grão médio e grão longo. Este último grupo, com mais de 95% da nossa produção, ainda se subdivide em: grão estreito ou Longo B, com quociente C/L superior a 3, o Arroz Agulha; e grão oblongo ou Longo A, com C/L inferior a 3. Neste último subgrupo inclui-se o nosso Arroz Carolino, desde que a sua composição química (taxa de amilose) respeite os parâmetros definidos e exigidos pela nossa gastronomia.

Os portugueses têm o maior consumo per capita de arroz, 16/17 kg/ano. Este valor, não sendo mais do que um décimo da média asiática, ultrapassa largamente o consumo em outros países europeus, incluindo a Itália. Este facto, certamente herdado dos nossos navegadores, assumiu particular importância nos hábitos alimentares enriquecendo a nossa gastronomia regional.  Este consumo marcadamente de Arroz Carolino, tem vindo a dar lugar aos Agulhas, muito pela adoção de “modernos” hábitos alimentares, consequência da ação, fortemente apoiada, da Grande Distribuição.

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A obtenção de duas IGP`s, Indicação Geográfica Protegida, do Arroz Carolino da Lezíria Ribatejana e o Arroz Carolino do Baixo Mondego, coadjuvadas pela recém-criada Organização de Fileira, a Casa do Arroz, deverão tentar a revitalização dos Carolinos, medida de profundo interesse para a Orizicultura Nacional.
Com uma produção total de cerca de 190 mil toneladas de arroz em casca, apenas cobrimos 70/75% das nossas necessidades. Somos, no entanto, autossuficientes na produção de Carolinos.

As Variedades

Um fator de forte constrangimento da nossa Orizicultora é o facto de não dispormos de Variedades “nossas”, fruto do nosso melhoramento, adaptadas às nossas condições de cultura e obedecendo aos padrões exigidos pelo consumo.

Esperemos que o atual Programa de Melhoramento do Arroz, em curso há cerca de 10 anos, possa começar a resolver este problema, com as primeiras variedades dentro de 2/3 anos.

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Atualmente, a esmagadora maioria das variedades semeadas são de origem italiana. Nos últimos anos, fruto da enorme vitalidade demonstrada pelos diversos intervenientes, empresas, entidades oficiais e agricultores, tem-se conseguido alguma renovação do catálogo de variedades disponível, mas sempre com a mesma dependência da genética e da política comercial dos Obtentores italianos.

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A Semente

A Qualidade da Semente a utilizar tem sido o fator mais importante no aumento da produtividade. É fundamental que as características que motivaram a escolha de determinada variedade, correspondam às expectativas em Produção e Qualidade, com a utilização das suas Sementes.

O potencial genético conhecido e as garantias de pureza específica e varietal, a faculdade germinativa, o estado sanitário e o acompanhamento rigoroso de cada lote, desde a sua origem até ao consumidor final (Traçabilidade), conferem à Semente uma importância acrescida para a obtenção de boas produções e sua almejada valorização.

Para os 30.000 hectares de arroz, utilizam-se cerca de 5.800 toneladas de sementes, mas atualmente apenas metade desta tonelagem é Semente Certificada, com uma taxa variável, de 25% a 65%, conforme a região orizícola.

Apesar da ausência de variedades nacionais, se for conseguida a obtenção de Sementes Certificadas, através da Produção Local, a partir de bases ou R1 importadas, conseguiremos ainda vantagens importantes quer qualitativas - menor dependência do exterior, melhor conhecimento do potencial e capacidade de adaptação às condições específicas e melhor controlo sobre a evolução das variedades -, quer económicas – redução das importações, redução e melhoria na gestão do financiamento e redução do Custo de Produção da Semente.

Também a orizicultura portuguesa poderá, legitimamente, aspirar a obter os necessários incrementos de produtividade e valorização do seu trabalho, sendo para isso necessário:

  • Acelerar o processo de Melhoramento Nacional visando a obtenção de Variedades adequadas e bem adaptadas às nossas condições.
  • Fomentar o seu desenvolvimento, gerando um volume importante de royalties.
  • Contribuir para intensificar a Investigação e o Melhoramento.
  • Implementar uma política clara e estável de apoio à Qualidade fomentando a utilização de Semente Certificada.

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