Nuno Russo: «Hoje temos uma agricultura mais aliada à investigação, mas também mais inovadora e eficiente»
O Colégio de Engenharia Agronómica da Ordem dos Engenheiros da Região Norte (OERN) organiza durante o mês de Julho um ciclo de conferências totalmente dedicado à Engenharia Agronómica, Alimentar e Zootécnica. Para primeira conferência deste ciclo, o Colégio convidou o Secretário de Estado da Agricultura e Desenvolvimento Rural, Nuno Russo, para uma conversa.
Quais os caminhos da agricultura? A nova PAC? Quais os apoios para as áreas da agricultura e pecuária? O que podem e devem os engenheiros fazer para a recuperação económica deste setor? Estas foram as questões chave da conferência.
Após a introdução de Divanildo Outor Monteiro, da Ordem dos Engenheiros da Região Norte (OERN), durante a sua intervenção inicial, Nuno Russo destacou «todo o trabalho que o Ministério da Agricultura, em conjunto com as associações, fez durante este tempo e ainda está a fazer, pois ainda não conseguimos ultrapassar este período», voltando a agradecer aos agricultores, produtores, intervenientes da distribuição e aos engenheiros, que têm sido incansáveis durante a situação da pandemia sanitária da Covid-19.
Segundo o Secretário de Estado da Agricultura, a pandemia da Covid-19 teve um «efeito inesperado e impactante a nivel global no setor agroalimentar», realçando que existem «lições que voltamos a reaprender», entre as quais a compreensão de que existem «atividades que nunca podem ser suspensas», como a segurança dos alimentos e a garantia do abastecimento alimentar».Nesse sentido, Nuno Russo destacou a «imprevisibilidade do futuro próximo, que nunca conseguimos prever» e a «importância do coletivo» para responder aos problemas comuns.
«Durante este período não baixamos os braços, mesmo que quando parecia impossível encontrarmos formas de estarmos próximos e unidos», afirmou, apontando os webinários enquanto ponte essencial e ferramenta que se tornou parte do «dia-a-dia» face à situação que se vive globalmente.
«São várias as questões que nos trazem aqui hoje mas, na verdade, encontram-se todas interligadas», começou. «Quando surge esta pandemia, estavamos todos de olhos postos na nossa Política Agrícola Comum pós-2020 e na apresentação da Estratégia Do Prado ao Prato», destacando que «o que vivemos atualmente vem demonstrar a necessidade de alcançarmos os objetivos presentes nos documentos e nos unirmos ainda mais. Vem demonstrar a necessidade de termos instituições fortes, com estratégias coesas, baseadas na união e na solidariedade, dando também mais ênfase à urgência de uma resposta conjunta e concertada de políticas e que sejam sinónimo de compromissos sem fronteiras, designadamente no que diz respeito ao desenvolvimento rural e ao quão faz sentido o desenvolvimento de uma Política Agrícola Comum».
Nuno Russo destacou que a PAC tem vindo a ser alterada para fazer face aos novos desafios, nomeadamente à segurança dos alimentos, alterações climáticas, desenvolvimento rural e preocupação com a saúde e nutrição, algo que está cada vez mais na ordem do dia.
Após visualizar a situação de uma forma mais global, Nuno Russo abordou a resposta do setor agrícola português. «A prioridade da agricultura nacional foi sempre assegurar o funcionamento agrícola e garantir o abastecimento agroalimentar, num contexto de fortes restrições de circulação de pessoas e mercadorias, pelo que sai comprovada a importância do setor agrícola, mas também do setor pecuário, e reforçado o seu caráter imprescindível».
«Procuramos responder às necessidades, identificadas a cada momento, e assegurar o abastecimento do setor agroalimentar», apontou, destacando a criação de um grupo interno no Ministério da Agricultura, que tinha como objetivo avaliar as consequências diárias da pandemia no setor. Nuno Russo aproveitou o momento para recordar o grupo de acompanhamento e avaliação de condições de abastecimento, criado em conjunto com o Ministério da Economia e da Transição Digital.
«Em resultado de todo este esforço coletivo dos agricultores e das suas entidades representativas, do Ministério da Agricultura e dos outros operadores de comercialização, logística, retalho e distribuição, foi possível garantir a inexistência de qualquer rutura nos stocks. Estou sempre a reforçar esta ideia porque foi muito importante», defendeu.
O Secretário de Estado da Agricultura afirmou que «o setor agrícola está evoluído, está moderno, está tecnologicamente avançado e tem acesso a conhecimento desenvolvido, não só nas universidades, mas nos politécnicos, bem como a todas as ferramentas desenvolvidas pelas empresas. Hoje temos uma agricultura mais aliada à investigação, mas também mais inovadora e mais eficiente no uso dos recursos naturais, com mais produtividade».
E são estes resultados que o Ministério da Agricultura pretende aprofundar através da criação de uma Agenda de Inovação para a Agricultura, que será apresentada em breve pelo Ministério da Agricultura, e que pretende agir enquanto uma «ponte, capaz de unir ainda mais a digitalização, a tecnologia, a investigação e o conhecimento à implementação de ferramentas eficazes na gestão ativa do território e dos recursos, à adoção de práticas mais sustentáveis e ao desenho de políticas públicas. Isto só se consegue em permanente diálogo, com os intervenientes e interlocutores das variadas atividades agrícolas e os organismos do Ministério da Agricultura».
O representante do Ministério da Agricultura aproveitou a sessão para referir que «em termos de jovens agricultores, os resultados das instalações não têm sido os esperados», apesar de existem dois importantes apoios no âmbito do PDR 2020. Nuno Russo acredita que é necessário «dar garantias» aos jovens agricultores quando estes se começam a instalar, a fim de não desistirem do setor.
Nuno Russo acredita que a agricultura «pode alavancar outras áreas de atividade e promover o desenvolvimento», destacando que o desenho de retoma também passa pelo incentivo à instalação dos jovens agricultores no interior, entregando várias oportunidades disponíveis. O Secretário de Estado da Agricultura acredita que o Orçamento europeu dará resposta a esta importância demonstrada pelo setor nos últimos meses, destacando que o quadro plurianual ainda não está fechado, mas que se ainda está a debater sobre a nova PAC que se irá iniciar em 2023. «Durante um período de incertezas, reforça-se uma questão: É inquestionável o papel da agricultura e dos agricultores», acredita.