Agricultores portugueses apostam cada vez mais nas renováveis

A Agricultura conta atualmente com cada vez mais soluções técnicas e comerciais inovadoras que permitem melhorar a eficiência energética das explorações e, consequentemente, obter uma redução de custos, entre eles, o da fatura da eletricidade. João Carvalho, presidente da Associação Portuguesa de Indústria Solar (APISOLAR), e Josué Morais, especialista em eficiência energética, refletem sobre a eficiência na utilização de recursos no mundo agrícola.

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A intensificação sustentável, os desafios do uso eficiente do solo e da água, a importância da gestão do solo, a gestão da biodiversidade e a importância da agricultura para um desenvolvimento territorial equilibrado. Estes são apenas alguns dos muitos aspetos com que os agricultores e produtores se debatem cada vez mais. Objetivo? Reduzir custos e aumentar a eficiência da atividade económica.

João Carvalho, presidente da APISOLAR, considera «natural, à semelhança de outros setores da economia, a atenção crescente que o setor agrícola tem dado à utilização eficiente da energia, que se revela em muitos casos um fator de produção essencial à sua competitividade».

Neste setor em particular, «a utilização de fontes de energia limpas, produzidas localmente, é também um fator de sustentabilidade ambiental fundamental à sua atividade», realça, lembrando que por estes motivos, encara com naturalidade «a opção por este tipo de investimentos, e prevejo que assim continue no futuro».

João Carvalho diz que o solar fotovoltaico e térmico «são claramente as tecnologias preferidas pelos empresários agrícolas».

«Os volumes de investimento necessários e a flexibilidade de instalação e de utilização da energia são fatores que diferenciam positivamente estas tecnologias. Imagino que seja por isso que são claramente as tecnologias preferidas…», refere.

O presidente da APISOLAR considera que Portugal, nesta matéria está a fazer o «trabalho de casa» ao nível das soluções eficientes disponíveis no mercado.

«Está a fazê-lo, mas isso é um trabalho sem fim».

Para o responsável, o grande desafio, neste momento, «está na gestão da utilização da energia solar, pois sendo esta um recurso intermitente é fundamental que existam processos de gestão e controlo adequados às características da produção agrícola».

«Neste setor, vemos com agrado algumas empresas portuguesas a oferecer soluções muito interessantes, que vão muito além da oferta de um simples conjunto de painéis solares», acrescenta.

Grandes produtores perceberam importância das renováveis

Josué Morais, engenheiro eletrotécnico e pós-graduado em Eficiência Energética e Utilização Racional de Energia Elétrica, considera que «a sustentabilidade é um desígnio da humanidade na atualidade».

«Deixar um planeta sustentável para os vindouros, tem a energia no epicentro das preocupações atuais. Assim, o recurso a energias renováveis promove a poupança doutros recursos, entre eles os fósseis. Por outro lado a eficiência energética é também um desígnio, não só na promoção da sustentabilidade como também pode ser um fator de ganhos económicos e de concorrência no produto final», salienta.

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Para Josué Morais as energias renováveis «podem ser fator diferenciador, permitindo ter energia onde não existe rede elétrica, alimentando sistemas de rega, sistemas de controlo, e podendo também ser utilizada em regime de auto consumo que a legislação atual promove».

E não tem dúvidas: «os grandes produtores já terão percebido a importância e as oportunidades das energias renováveis. Porém, com a crise global atual, o acesso a recursos financeiros para investir em sistemas de energias renováveis não permitem maiores investimentos naqueles recursos, principalmente dos pequenos e médios produtores cujo acesso ao crédito será mais difícil».

Josué Morais recorda que «existem muitas oportunidades no capítulo das renováveis. A energia solar fotovoltaica é uma das tecnologias mais estabilizadas e de mais fácil implementação, sendo por isso a mais disseminada».

«Muitas outras soluções podem ser implementadas, como por exemplo a utilização de biomassa de “desperdícios e resíduos” do setor agrícola e agropecuária para produção de biogás. Os resíduos do milho e de outros cereais podem ser convertidos em biogás para utilização como combustível em sistemas de aquecimento e de produção de energia (com grupos motores de combustão interna e geradores). Também na pecuária tais como pocilgas, aviários e vacarias, os resíduos dos dejetos podem ser convertidos por biodigestão anaeróbica em biogás para fins idênticos aos mencionados», enumera o especialista.

Portugal tem explorado, a este nível, as soluções eficientes ao dispor dos vários setores agrícolas? À pergunta, Josué Morais responde: «penso que as soluções começam a ser suficientemente divulgadas pelos mais diversos meios, mas estamos ainda muito longe de um aproveitamento digno de registo dos imensos recursos disponíveis no setor».

O engenheiro realça ainda que «ao nível de sistemas de gestão e controlo eficientes temos grande potencial para desenvolver ferramentas informáticas para o setor a exemplo das que se desenvolvem para outros setores».

«Também para o setor da agropecuária podem ser desenvolvidas aplicações específicas», remata.

A experiência da FF Solar

Sebastian  Sennewald, diretor da FF Solar Energias Renováveis, refere que o setor agrícola «é um dos setores com mais apoios em Portugal, os agricultores habituaram-se em certa forma de não depender de investimentos próprios mas sim sempre depender de programas de apoio europeus e nacionais. Estes financiamentos estão focados na redução de custos operacionais e no aumento da competitividade pelo que se tem observado uma maior aposta em energias renováveis e soluções eficientes no setor».

Para o responsável, em qualquer setor «a parte financeira é das mais importantes, sendo que o que interessa no final são os lucros finais».

«Muita da agricultura efetuada em Portugal está em posse de multinacionais e para estas o que conta é o custo final do produto e a manutenção do custo de produção, como é de geral conhecimento estar dependente de fatores como combustíveis e eletricidade não nos garante  uma manutenção dos custos de produção mas sabemos que haverá uma inflação anual entre os 6-20%. Com estas incertezas e com os apoios existentes para os sistemas sustentáveis há um maior interesse neste tipo de soluções, que utilizando materiais se possível de origem europeia (portuguesa), que garantem um rápido retorno e uma redução de custos de produção bem como uma estabilidade  nos mesmos», acrescenta.

No caso da FF Solar, «bem como outras empresas especializadas no setor, têm soluções tanto para o nível privado e comercial para a Agricultura e Agropecuária». 

Sebastian  Sennewald realça que a FF é uma empresa especializada e dedicada ao setor das renováveis desde 1989, sendo que este é o seu único ramo de negócios. «Somos especialistas em sistemas tanto autónomos como de Ligação a rede  com milhares de sistemas vendidos e instalados durante os últimos anos», informa.

«Sabemos que para uma boa solução terá que haver conhecimento por parte da empresa que irá propor a solução, esta mesma terá que corresponder as necessidades do cliente e cumprir com o prometido, importante será sempre uma análise pormenorizada da situação atual sendo que será quase sempre necessária uma visita ao local para levantamento dos dados. Sabemos que muitas empresas preferem vendas ao telefone mas na nossa experiência o cliente acaba sempre por ficar mal servido», considera.

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O responsável explica que «para um local com ligação a rede (não interessa o fornecedor de energia) que tenha um consumo alto durante o período diurno será sempre aconselhável um sistema de ligação a rede em regime de autoconsumo, neste tipo de solução o cliente durante o dia cobre parte do consumo (em hora de alta) com um sistema solar, para poder implementar o mesmo será necessário efetuar sempre uma medição de consumo. Esta mesma em alguns casos poderá ser pedida ao fornecedor de energia, isto para que o sistema proposto seja a medida das necessidades e para que seja possível efetuar um cálculo de retorno correto, em muitos casos sistemas deste tipo têm retornos na ordem dos 6-8 anos», informa. 

E lembra que «em muitos lugares onde não há rede elétrica será sempre viável instalar sistemas autónomos com o sem apoio por grupo gerador, para poder dimensionar estes será sempre necessário uma lista de consumos em KWh/dia e potência de ligação». Neste tipo de sistemas «os bancos de baterias poderão já ser de Lítio aumentando assim a eficiência destes sistemas e aumentando em muitos casos a durabilidade para 20 anos nos acumuladores, sendo que os módulos têm uma garantia de produção a 80% da sua potência nominal a 25 anos». 

Uma das soluções mais implementadas nestes setores nos últimos anos «têm sido as bombas solares, estas ao contrário de alguns anos atrás já não estão limitadas em caudal ou altura manométricas (a Lorentz (www.lorentz.de) tem soluções até 450 m de elevação e até 500m3/h), há bombas submersíveis bem como bombas de superfície, soluções desde a pequena produção hortícola ou gado até as soluções industriais», adianta Sebastian  Sennewald, lembrando que importante também nestes sistemas é o correto dimensionamento, instalação por profissionais e uso de material de qualidade. «Desta forma haverá garantia de bom funcionamento e de retorno», vinca.  

O responsável explica que a FF normalmente age como distribuidor sendo que dá suporte total aos revendedores/instaladores. «Muitos sistemas soluções instaladas poderão ser encontradas na nossa página (www.ffsolar.com em referências) ou na página da Lorentz em www.lorentz.de em references)», diz.

O diretor da FF Solar Energias Renováveis refere que «lamentavelmente o setor das renováveis tem sido bastante afetado pela crise desde 2011» sendo que «desta forma há pouco a ser produzido 100% a nível nacional, existe uma pequena produção de módulos perto de Évora, algumas empresas a criarem soluções de variadores de frequência ligadas a bombas convencionais. Mas, na generalidade, os produtos implementados a nível nacional são de origem asiática,  no entanto temos ainda de origem europeia bons produtos de qualidade, como é o caso das Solarworld, Lorentz, Hoppecke, SMA, Studer, entre outros».  

Sebastian  Sennewald considera que «o que falta fazer é, sem duvida, insistir também no investimento privado sem estar sempre a espera de receber dinheiro de "graça", sabemos que as soluções funcionam, as mesmas garantem um retorno rápido e fiável. Mostrar o profissionalismo das empresas do setor e assim transmitir a segurança no investimento nas soluções renováveis».

«No setor privado temos o problema dos impostos, por parte do Governo português, tem havido uma penalização, já não é possível deduzir parte dos custos, o IVA é de 23%, isto em conjunto com  atual situação financeira levou a decréscimo na procura e na implementação deste tipo de soluções. Aqui é parar de poupar e espremer  até morrer, o IVA devia ser reposto para os 13% com benefício fiscal, desta forma voltava o investimento e o crescimento no setor», garante.

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