UTAD alerta para a situação das florestas portuguesas

A Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) têm alertado os decisores políticos e a sociedade em geral quanto ao delapidar constante dos recursos naturais «com repercussões gravíssimas, não só na floresta e no ecossistema, mas também ao nível do clima e de bens essenciais como a água e o solo, assim como quanto à necessidade de formar mais engenheiros nesta área».

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Com a chegada do verão, chega a época dos incêndios florestais «como que de uma predestinação se tratasse e que a sociedade encara como uma calamidade inevitável. Em média, cerca de 2,2% da floresta nacional arde anualmente, o valor mais elevado da Europa e o 11º mais alto do Mundo, comprometendo a sua sustentabilidade», avança a UTAD, em comunicado.

Este ano, de acordo com Paulo Fernandes, docente do Departamento Ciências Florestais e Arquitetura Paisagista da UTAD, os elevados níveis de precipitação no inverno e primavera atrasaram a época de fogos e têm limitado a capacidade de propagação dos incêndios, mas a previsão de um verão longo e seco poderá anular esse efeito e, uma vez mais, resultar em elevada área ardida.

«É um dado adquirido que o ordenamento, a gestão florestal e a prevenção de incêndios têm sido insuficientes, mas as políticas públicas mantêm-se centradas no combate a incêndios (mais de 90% do investimento total) e na proteção civil, descurando a proteção florestal. No entanto, a investigação efetuada na UTAD tem repetidamente comprovado que não é possível reduzir efetivamente a área ardida sem intervir fortemente e de maneira continuada no espaço florestal», adianta aquela instituição.

A docente da UTAD, Emília Silva, destaca que o papel da engenharia florestal é crucial na definição e implementação de modelos de silvicultura preventiva, que permitam criar florestas mais resistentes e resilientes ao fogo, acrescentando que o material combustível resultante da limpeza das matas pode dar um rendimento complementar na produção de energia em centrais de biomassa. Por outro lado, finda a época de fogos e após a desmobilização do dispositivo de combate, pouco se geralmente até ao verão seguinte.

A investigação que tem vindo a ser desenvolvida na UTAD evidencia a acentuada perda de solo e nutrientes que ocorre após as primeiras chuvas, aumentando a suscetibilidade à desertificação, além da perda de biodiversidade nas áreas afetadas, com relevância para a herpetofauna e avifauna. Acresce que, no inverno, como consequência da destruição da floresta, a tendência é para ocorrerem fenómenos hidrológicos extremos, com aumentos dos picos de cheia, conduzindo a fenómenos intensos de erosão fluvial e alargamento dos leitos de cheia, pondo em perigo pessoas e bens.

Assim, estes especialistas da UTAD recomendam que, após o fogo são necessárias medidas ativas de intervenção que minimizem os efeitos adversos e conduzam à rápida recuperação dos ecossistemas, e chamam a atenção para a inexistência de programas integrados que respondam de imediato aos efeitos adversos dos incêndios após a sua ocorrência e que conduzem ao empobrecimento do território.

Simone Varandas, também docente da Universidade, sublinha que a formação de engenheiros florestais na UTAD procura dar uma visão múltipla do papel da floresta, assegurando uma formação nos diversos componentes assinalados, acrescentando que Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) dá um apoio sólido às linhas de investigação nesta área.

Todavia, «a baixa procura dos jovens por este ramo da engenharia faz com que se formem, a nível nacional, menos de duas dezenas de licenciados por ano, número notoriamente escasso para dar corpo às políticas de ordenamento do espaço florestal e à transmissão do conhecimento. Prova disso é a elevada empregabilidade dos recém-licenciados em engenharia florestal da UTAD que, em média, encontram o primeiro emprego durante os primeiros meses após concluírem a sua formação».

Foto: José Paulo Santos (UTAD)

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