Trevo-da-pérsia- de-flores-grandes

Por: Francisco Mondragão Rodrigues, Ana Barradas & Carlos Aguiar, SPPF

Trevo-da-pérsia-de-flores-grandes
Trifolium suaveolens Willd. (= T. resupinatum subsp. majus)
Família: Fabaceae

Origem

O T. suaveolens é originário da Pérsia, Afeganistão e Norte do Paquistão, e da Índia. É cultivado como planta forrageira na sua região de origem, e a partir da década de 60 em países da Bacia Mediterrânica e na Austrália (onde foi introduzido em 1966 ido de Portugal). É também cultivado como planta para siderar antes da cultura de trigo na Alemanha. Frequentemente é confundido com o T. resupinatum «trevo-da-pérsia» ou «trevo-resupinado-de-sementes-duras». Em Portugal, tanto as plantas cultivadas, como as plantas eventualmente (e temporariamente) assilvestradas, têm origem em amostras de sementes de luzernas provenientes do Afeganistão, recebidas pela Estação Agronómica Nacional na década de 1950.

Como distinguir no campo

O trevo-da-pérsia-de-flores-grandes (T. suaveolens) é uma planta anual, glabra (sem pelos), de caules ocos, ereta ou ascendente (caules inicialmente paralelos ao solo e depois eretos), que sobe, facilmente, à altura do joelho. Quando intensamente pastoreado persiste rente ao solo, formando densas rosetas de folhas curtas, pequenas, mais escuras e espessas. Nas folhas das plantas não pressionadas pela herbivoria, encimam longos pecíolos (até 18 cm) três folíolos obovados (em forma de ovo ao contrário), até 50 x 25 mm. Os pedúnculos irrompem da axila das folhas e erguem acima do corpo da planta inflorescências até 3 cm de diâmetro, ligeiramente achatadas, com flores marginais maiores do que as interiores. O cálice tem dois lábios: é bilabiado. A corola é rosada a branca e resupinada. Diz-se resupinada porque sofre uma rotação de 180 graus. Consequentemente, no T. suaveolens e espécies similares (e.g. T. resupinatum), ao invés da maioria das leguminosas, o estandarte, a maior peça da corola, tem uma posição inferior de modo a melhor amparar, supõe-se, a visita dos polinizadores (vd. imagem).

O T. suaveolens pertence a um grupo peculiar de trevos – da secção Vesicaria – cujos cálices incham na frutificação, coalescem, tomando a infrutescência a aparência de uma bola compacta e fofa, facilmente arrastada pelo vento (dispersão anemocórica). Pertencem a este grupo dois outros trevos indígenas de grande interesse agronómico: o T. fragiferum «trevo-morangueiro» e o T. resupinatum «trevo-da-pérsia».

O T. suaveolens é muito semelhante ao T. resupinatum. A Flora Iberica (Muñoz Rodríguez et al., Trifolium 7: 647-719, 2005) diz que se diferenciam do seguinte modo: T. suaveolens – estandarte 6,5-8 mm e sementes 1,8-2 mm; T. resupinatum – estandarte 4-6 mm e sementes 1,1-1,4 mm. Geralmente, nos capítulos do T. suaveolens encontram-se, em simultâneo, flores rosa e flores esbranquiçadas, enquanto no T. resupinatum as flores são todas cor-de-rosa.

Bio-ecologia

À semelhança dos demais trevos mediterrânicos, germina com as primeiras chuvas outonais. Suporta bem a geada. Quando comparado com outras espécies apresenta um significativo crescimento invernal. No entanto o clima mediterrânico concentra os seus crescimentos na primavera, quando faz calor e o solo ainda está húmido. As abelhas são o seu principal polinizador. Para as atrair, as flores libertam um intenso e forte odor, como acontece em muitas outras espécies de Trifolium.

Está bem adaptado a climas mediterrânicos (com uma estação seca longa) e continentais (de verões quentes e invernos frios). Suporta bem o corte e o pastoreio. Prefere solos de baixa, húmidos, não demasiado encharcados no inverno, com uma toalha freática próxima da superfície nos primeiros meses da estação seca, de textura fina e ricos em matéria orgânica, por vezes compactados pelo pisoteio animal, suficientemente providos de fósforo e de acidez pouco acentuada a neutros. Ao contrário do T. resupinatum quase não tem sementes duras.

Implantação e maneio

O reduzido tamanho das sementes (1 kg de semente contém 800000-1200000 sementes) obriga a um cuidado extremo na preparação da cama de sementeira e no enterramento das sementes (a 1,0 cm de profundidade, no máximo). Semeado extreme recomendam-se densidades de 6-8 kg/ha em sequeiro e de 9-15 kg/ha em regadio. Em misturas com azevém ou aveia devem aplicar-se 4 a 5 kg/ha. Embora não apresente problemas de nodulação recomenda-se a inoculação das sementes com rizóbio, de modo a obter maior produção e incorporação de azoto no solo.

O T. suaveolens é mais usado como planta para culturas forrageiras anuais por não ter, ou ter muito poucas sementes duras, enquanto o T. resupinatum é recomendado para prados permanentes por ter uma elevada percentagem de sementes duras. A manutenção do T. suaveolens nas pastagens obriga a sementeiras anuais. Deste modo, não há indicações específicas quanto ao maneio dos animais em pastagens com esta espécie. Verifica-se que apresenta um crescimento invernal razoável e que, em determinadas variedades e condições agro-ecológicas, é possível um corte para feno, feno-silagem ou silagem nas pastagens pastoreadas no cedo.

Possibilidades de uso

O T. suaveolens pode ser usado em pastoreio ou corte: é indicado para pastoreio direto, para produção de feno (extreme ou consociado com azevém ou aveia) e para feno-silagem ou silagem. Em qualquer das utilizações esta espécie apresenta elevados valores de palatibilidade e digestibilidade. Em feno apresenta valores de proteína bruta (16 a 21%) idênticos aos do feno da luzerna e valores de digestibilidade superiores (63 a 78% contra 60-70% para a luzerna).

As densidades de sementeira relativamente elevadas que se recomendam permitem competir com as infestantes o que, aliado ao rápido crescimento invernal, possibilitam a obtenção de pastagens e forragens sem ervas daninhas, pelo que se considera esta espécie uma óptima “break-crop”.

Quando o objectivo é a produção de semente, é possível obter, em regadio, valores superiores a 1.000 kg/ha, embora a média ronde os 300 a 500 kg/ha.

Variedades comerciais

Na edição de 2012 do catálogo comum de espécies agrícolas estão inscritas 25 cultivares de T. resupinatum s.l. (sensu lato, incluíndo T. resupinatum e T. suaveolens), embora poucas, na realidade, sejam de T. suaveolens. As mais difundidas desta última espécie são a ‘Maral’, a ‘Resal’, a ‘Lightning’, a ‘Morbulk’ e a ‘Laser’. A ‘Maral’ e a ‘Resal’ são obtenções portuguesas que constam do Catálogo Nacional de Variedades português desde 1993; as restantes cultivares foram obtidas na Austrália. A cv. Maral é considerada semi-tardia e indicada para regiões com precipitações anuais iguais ou superiores a 600 mm, tendo um bom crescimento durante o inverno. Considerada boa para pastoreio direto e para feno, apresenta um bom recrescimento após o pastoreio. Adapta-se a solos moderadamente ácidos a alcalinos e apresenta uma tolerância razoável à salinidade e ao encharcamento. Apresenta uma muito reduzida percentagem de sementes duras, pelo que a sua regeneração natural é pouco significativa obrigando a sementeiras anuais. A cv. Resal apresenta sensivelmente as mesmas características que a ‘Maral’, distinguindo-se desta por ter um ciclo semi-precoce. A cv. Lightning é mais precoce que a ‘Maral’, sendo indicada para regiões com menor precipitação anual (a partir de 450 mm). Aguenta solos encharcados e moderadamente salinos, desenvolvendo-se adequadamente num intervalo de pH que vai de 5,5 a 8,5. É considerada adequada para pastoreio, produção de feno e de silagem. As cultivares ‘Morbulk’ e ‘Laser’ também são indicadas para regiões com menor precipitação (a partir de 500 mm), sendo a ‘Morbulk’ 8 a 10 dias mais precoce que a ‘Maral’, e a ‘Laser’ ligeiramente mais tardia que esta última. Estas duas variedades crescem bem durante os invernos frios, podendo dar um corte de feno no final da primavera, mesmo depois de algum pastoreio durante o início do ciclo. Ambas resistem melhor à ferrugem (Uromyces trifolii-repentis) que a ‘Maral’, sendo de aconselhar em regiões onde surge com frequência esta doença. As 3 variedades australianas descritas quase não têm sementes duras (0 a 2%), pelo que não há qualquer regeneração natural.?Ainda no que se refere à cultivar portuguesa "Maral" é importante relembrar que a mesma foi obtida pelo esforço de melhoramento vegetal desenvolvido pelo investigador da Estação Agronómica Nacional, engenheiro J. Marques de Almeida (e daí o acrónimo "Maral" na designação desta variedade).  Passadas algumas décadas após a sua obtenção, é em Portugal que se situa a maior área destinada à multiplicação e produção de semente, sendo de realçar o facto do nosso País ocupar o primeiro lugar na lista mundial dos países exportadores de semente desta mesma variedade.

O principal destino desta exportação portuguesa de semente de Trifolium resupinatum corresponde atualmente a países do centro europeu.

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