Por: Carlos Aguiar e Francisco Mondragão Rodrigues (SPPF - Sociedade Portuguesa de Pastagens e Forragens)
Origem
O trevo-balansa é indígena do Sul da Europa, estendendo-se a sua área de distribuição da Espanha até à Turquia. As referências portuguesas a esta espécie fundamentam-se em plantas individuais “escapadas” de cultura.
Como distinguir no campo
Corpo vegetativo
O trevo-balansa é uma espécie anual, de caules erguidos (eretos), muito ramificados, sem pelos (glabros) e ocos, geralmente avermelhados nos nós. Pode elevar-se até um metro acima do solo. As plantas pastoreadas crescem menos em altura e ramificam-se mais do que as plantas não perturbadas pelos herbívoros. As folhas, à semelhança dos restantes trevos cultivados ou indígenas de Portugal, apresentam três folíolos (folhas compostas trifolioladas). Os folíolos têm pequenos dentes na margem, sendo o dente da extremidade (mucrão) maior do que os restantes. Os dentes foliares são abastecidos por uma nervura, evidente na superfície dos folíolos. Nos folíolos distinguem-se ainda manchas esbranquiçadas (marca-de-água) úteis na identificação de algumas variedades.
Flores e inflorescência
As flores organizam-se em inflorescências densas tipo umbela, até 2,5 cm de diâmetro, na extremidade de um longo pedúnculo que parte da axila de uma folha.
O trevo-balansa, ao contrário, por exemplo, do trevo-subterrâneo, tem uma floração aérea, isto é, produz flores no extremo dos caules, longe da superfície do solo. As flores são de início brancas e, pouco depois, rosadas. Finda a floração e principiada a formação do fruto, as flores arqueiam pelo pecíolo em direção ao solo e as corolas secam tomando uma cor acastanhada.
Espécies semelhantes
É importante não confundir o trevo-balansa com o trevo-branco (Trifolium repens). No trevo-branco as flores jovens também são brancas ou rosadas, e as flores de corola seca encurvam para o solo. No entanto, esta espécie é perene, enraíza nos nós, tem folíolos mais largos do que os folíolos do trevo-balansa e os dentes do cálice são tão compridos ou mais curtos do que o tubo do cálice (no trevo-balança os dentes do cálice são 2,5 a 4 vezes mais compridos do que o tubo do cálice).
Ecologia
O trevo-balansa suporta um conjunto muito alargado de condições edafo-climáticas. Resiste a temperaturas negativas durante o inverno (até –6 °C) e as variedades comerciais cobrem regimes pluviométricos que se estendem dos 350 mm aos 800 mm. Desenvolve-se em quase todos os tipos de solos e texturas, sendo os solos pobres de textura grosseira os menos indicados. A acidez do solo não é um factor particularmente limitante para esta planta: suporta valores de pH entre 4,5 e 8,3. No entanto, é pouco tolerante à salinidade do solo.
As populações indígenas de trevo-balansa tendem a ocorrer em margens de caminhos (ambientes ruderais), terras abandonadas pela agricultura ou em comunidades herbáceas naturais, muitas vezes sobre solos húmidos encharcados de inverno. Não surpreende, por isso, que as variedades comerciais de trevo-balansa, após a instalação, aguentem, sem grandes quebras de produção, solos de drenagem deficiente, e exijam solos um pouco mais húmidos e profundos do que o trevo-subterrâneo. Ainda assim, nos anos húmidos este trevo pode produzir biomassas significativas em relevos convexos, de meia e cimo de encosta.
O trevo-balansa produz grandes quantidades de sementes duras, muito pequenas (980.000 a 1.200.000 sementes/kg). O ciclo biológico da espécie inicia-se com as primeiras chuvas outonais. Embora floresça abundantemente, como mais adiante se refere, o pastoreio excessivo na Primavera, sobretudo no primeiro ano após sementeira, pode comprometer a sua persistência porque as inflorescências aglomeradas na extremidade dos caules são facilmente consumidas pelos animais. O pastoreio após a senescência (morte) da corola e a formação da semente tem um efeito favorável na persistência do trevo-balansa. Por um lado as suas sementes resistem razoavelmente à passagem pelo aparelho digestivo dos herbívoros domésticos. O pisoteio das flores secas em frutificação, por seu turno, facilita o enterramento das sementes e a sua posterior germinação no outono.
Por ser uma leguminosa, e conseguir fixar o azoto através do rizóbio, a fertilização resume-se a aplicações de fósforo e de potássio nos solos com teores baixos a médios nestes nutrientes, de modo a atingir a produção máxima. Em solos ligeiramente ácidos ou ácidos, poderá ser necessária a aplicação de molibdénio para promover a fixação do azoto pelo rizóbio.
Implantação e maneio
Tendo em conta que as sementes são extremamente pequenas a preparação da cama de sementeira e a sementeira assumem uma importância extrema. O solo deve estar bem esmiuçado para assegurar um contacto íntimo com a semente, que não deverá ser enterrada a mais de 0,7 – 1,0 cm de profundidade.
Aconselha-se efetuar uma rolagem após a sementeira. Como a percentagem de sementes duras é muito elevada (até 97% de sementes duras após a maturação) é vantajosa a escarificação das mesmas, de modo a garantir um povoamento adequado da espécie logo no primeiro ano da pastagem. As sementes comerciais já veem escarificadas e inoculadas com a estirpe de rizóbio adequada. A quantidade de semente a usar nas sementeiras varia entre 1 e 3 kg/ha, podendo chegar aos 5 kg/ha se semeado extreme. No ano de instalação da pastagem o maneio dos animais deve ter em atenção a necessidade de assegurar uma boa produção de semente e a sua resementeira natural. Deste modo, para conseguir um banco de sementes denso que garanta a persistência da espécie nos anos seguintes é conveniente retirar os animais das pastagens no início da floração. Pela mesma razão também não se aconselha a realização de feno no primeiro ano das pastagens com trevo-balansa.
Nos anos seguintes, sob regimes baixos a medianamente intensivos de pastoreio não haverá a necessidade de um período sem pastoreio. Nas pastagens mistas de trevo-balansa e trevo-subterrâneo esta última espécie torna-se dominante se o pastoreio for muito intensivo na Primavera. Aconselha-se a introdução de cargas animais elevadas no fim do verão para consumir os restos secos da pastagem, de modo a que a germinação das sementes após as chuvas outonais seja a adequada.
Possibilidades de uso
O trevo-balansa é geralmente usado em misturas com outras leguminosas e gramíneas em pastagens permanentes, de sequeiro ou regadio. Esta espécie possui uma elevada digestibilidade (até 76 - 82%) e elevada palatabilidade, com teores de proteína bruta de 14 a 18%, podendo ser usada para pastoreio direto, produção de feno ou de silagem. No caso do pastoreio, tem a particularidade de recuperar rapidamente e ter um bom crescimento, pelo menos durante a primavera. Os baixos teores de estrogéneos permitem a sua utilização por todas as espécies animais.
Variedades comerciais
As variedades comerciais têm origem australiana e resultam da selecção de populações provenientes da Turquia. São agrupadas em 3 grupos (ciclo curto, ciclo longo, ciclo intermédio), consoante a duração do ciclo, sendo as de ciclo curto mais adequadas para regiões com menor pluviometria (abaixo de 500 mm/ano) e as de ciclo longo para regiões com mais de 600 mm/ano. As variedades comerciais mais difundidas são a ‘Frontier’ (ciclo curto), a ‘Pardana’ (ciclo intermédio) e a ‘Bolta’ (ciclo longo).