O Robot de ordenha e a Lely 20 anos depois… a ordenha automática e realmente voluntária

O Robot de ordenha e a Lely 20 anos depois… a ordenha automática e realmente voluntária

Por: Ivo Carregosa e Odino Almeida, Alteiros – Equipamentos e Tecnologias Lda.
, www.lely.com

Introdução

Em 1992 a Lely instalou o primeiro sistema integrado de ordenha robotizado Astronaut numa exploração leiteira na Holanda. Nos anos seguintes, instalaram-se sistemas deste género um pouco por todo o mundo.

Como qualquer equipamento inovador e revolucionário, foi sofrendo alterações e evoluções, tendo em vista a sua adaptação a todo o tipo de realidades, e acima de tudo a sua fiabilidade 24 horas por dia e 365 dias por ano.

Depois de 1999, estes sistemas (mais conhecidos como robots de ordenha) começaram a ser instalados a uma velocidade cada vez maior, sendo que em alguns países na actualidade já ultrapassam a quota de instalação de ordenhas convencionais em novas explorações.

A gestão de uma exploração com ordenha automática difere significativamente da gestão das explorações tradicionais: novos parâmetros a controlar, outra forma de abordar o maneio, diferentes rotinas de trabalho, e acima de tudo muito mais informação do que em qualquer sistema anterior. Esta informação terá então que ser tratada e gerida da melhor forma, para que se traduza numa gestão de excelência.  

A partir dos 20 anos de experiência da Lely na inovação e desenvolvimento da máquina, aliado ao nosso próprio conhecimento e experiência em Portugal desde 2006, com perto de 50 robots em funcionamento, gostaríamos neste artigo de aproximar o leitor do que melhor se faz também em Portugal no campo da tecnologia de ponta para o sector agro-pecuário.

Assim sendo, propomos neste artigo fornecer alguma informação sobre a forma de funcionamento do robot, bem como alguns aspectos práticos da sua gestão e introdução numa exploração leiteira.

ASPECTOS ECONÓMICOS QUE INFLUEM NUMA EXPLORAÇÃO LEITEIRA COM SISTEMA DE ORDENHA ROBOTIZADO

Neste tópico descreveremos alguns dos aspectos mais importantes que favorecem esta opção, bem como o seu significado e como conseguir optimizá-los para rentabilizar ao máximo a exploração.

Obra civil para a instalação do robot

A obra civil a realizar para instalar um robot de ordenha é mínima em comparação com a que requer uma sala de ordenha convencional, como tal muito mais económica.

Em instalações já existentes, em muitos casos pode-se aproveitar o espaço da sala de ordenha para aumentar o número de camas, o que também proporciona um benefício.

Mão-de-obra

As vacas devem dirigir-se por sua conta e com frequência à ordenha. O trabalho do produtor reduz-se a tarefas de supervisão.

A poupança em mão-de-obra é muito significativa e a flexibilidade horária na hora de realizar as tarefas da exploração permite um aumento da qualidade de vida do produtor.

Número de ordenhas por vaca e por dia

Todos conhecemos o interesse que é para uma exploração realizar uma terceira ordenha: aumento da produção por vaca, melhoria do estado geral dos úberes, entre outras. A outra face da moeda é o aumento de custos que isto supõe (pessoal, equipamentos, etc.). Actualmente esta é uma necessidade, devido à redução das margens do produtor e ao constante aumento de capacidade produtiva dos animais.

Numa ordenha automática dispomos de uma máquina que trabalha as 24 horas do dia e conseguir médias superiores a 2,9 ordenhas/vaca/dia é fácil e habitual.

Concentrado administrado no robot

A alimentação das vacas baseada exclusivamente no carro misturador (Unifeed) não permite administrar concentrado em função da produção do animal e/ou estado de lactação. No robot de ordenha podemos alimentar as vacas segundo os critérios atrás referidos. Os benefícios traduzem-se numa poupança de concentrado e uma melhoria da condição corporal dos animais.

Problemas de reprodução, digestivos, mastites, etc.

Os sistemas de ordenha automática dispõem de sensores que permitem detectar as mastites nas suas fases iniciais bem como a presença de sangue no leite (sensores de condutividade, cor, temperatura, etc.), as vacas em cio (medidores de actividade), problemas metabólicos e alteração da motilidade ruminal (medidores de actividade de ruminação), perda de peso acelerada, etc. Esta informação é apresentada ao produtor sob a forma de atenções e alarmes, permitindo-lhe actuar na prevenção do problema, isto é, de forma prematura e precisa. O ganho pela rapidez e eficácia em resolver os problemas pode significar um lucro importante.

Consumo de electricidade e água

Com base em estudos realizados, um em 2004 e outro em 2009 que confirmou a tendência verificada no primeiro, ambos efectuados pelo Danish Farmtest Cattle, o consumo de água e electricidade são equivalentes a algumas ordenhas convencionais, sendo que o equipamento da Lely tem consumos drasticamente mais baixos que os congéneres existentes no mercado. Uma máquina que baseia o seu funcionamento quase na sua totalidade em pneumática e bombas (vácuo e leite) accionadas através de reguladores de frequência, aliada à forma racional como utiliza a electricidade e água faz com que o robot de ordenha da Lely seja tão económico e interessante.

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CARACTERÍSTICAS GERAIS DA INSTALAÇÃO DO ROBOT

Agora que já conhecemos os aspectos que podem influenciar na economia da exploração o passo seguinte consiste em optimizá-los para conseguir a máxima rentabilidade.

E como vamos fazê-lo? Pois conhecendo o robot e a sua envolvente e gerindo-o bem em cada uma das suas facetas. A primeira delas é a instalação do robot.

A localização do robot vai estar fortemente condicionada pelo tipo de tráfego escolhido. Esta é a técnica que se utiliza para conseguir que as vacas acedam ao robot.

Estas técnicas estão fortemente ligadas ao conceito de cada um dos fabricantes existentes no mercado.

No caso da Lely, o tráfego livre está implementado na grande maioria das suas explorações, daí que nos vamos debruçar um pouco sobre o mesmo.

Tráfego livre (free cow traffic)

A vaca desloca-se livremente pela exploração e escolhe quando se ordenha, alimenta ou descansa, quer dizer, a melhor imagem do conforto animal. “Se queres ser ordenhada vais ao robot e ele decidirá se é o momento e faz a ordenha”.

A Lely elegeu desde o princípio o tráfego livre para as suas instalações e está convencida de que é o melhor método para aumentar o bem-estar dos animais e as prestações leiteiras. A Lely acredita que o tráfego livre é um dos pilares do êxito neste mercado e isto está avaliado por milhares de explorações que utilizam robots Lely com tráfego livre pelo mundo fora.

O tráfego livre é um método que encaixa perfeitamente na filosofia de maneio e gestão das explorações leiteiras modernas, isto é uma forma de garantir a sustentabilidade global da exploração.

Descrição de uma instalação tipo

Numa instalação podem existir as seguintes zonas ou salas:

Sala técnica: é o compartimento a partir do qual o produtor e os técnicos manipulam o robot.

Sala do tanque: é a sala onde se encontra o tanque principal. Opcionalmente pode-se instalar um tanque buffer que permite acumular o leite que se ordenha no robot quando o tanque principal é descarregado e lavado.

Escritório: aqui é colocado o computador que gere o manada.

Sala de separação: Este local permite manter algumas vacas separadas do manada. A separação é feita por uma porta de duas saídas (porta de separação). Os critérios para separar uma vaca são configuráveis: está em cio, tem mastite, não pôde ser ordenhada, o produtor decidiu separá-la, etc. Contudo pode-se instalar um robot sem sala de separação.

Sala de espera: permite ao produtor juntar num determinado momento as vacas atrasadas. A única saída da sala de espera é para o robot. É útil especialmente nas primeiras semanas após o arranque. Depois pode não ser necessário.

Capacidade de ordenha de uma máquina

A capacidade de ordenha mede-se pelo número de ordenhas diárias que o robot é capaz de fazer. Assim, por exemplo, com o equipamento mais recente da Lely: o ASTRONAUT A4 é possível obter mais de 210 ordenhas por dia.

E isso quantas vacas são? Pois depende da média de ordenhas/vaca que queremos conseguir (não esquecer o economicamente interessante que é ordenhar mais de 2,7 vezes por dia as vacas).

O caso mais habitual para uma exploração com médias de produção entre os 30 e os 35 litros por dia é 3 ou 3,2 ordenhas diárias, para explorações acima dos 40 litros podemos atingir 3,5 ou até mesmo 4 ordenhas diárias. Claro que depende sempre do efectivo e da velocidade de ordenha de cada manada, sendo este o factor limitante mais importante.

Localização. Onde colocar o robot?

A localização da máquina tem que facilitar a aproximação voluntária das vacas a si. Estas são algumas premissas a ter em conta:

  • O local tem que ser de fácil acesso para os animais (as vacas não usam mapas nem GPS);
  • O sítio tem que estar iluminado, ventilado e tranquilo;
  • A utilização de ventiladores na zona do robot no Verão também facilita a aproximação das vacas;
  • Evitar degraus para aceder ao robot e colocar tapete de borracha no chão da sala de espera também ajuda;
  • Se a instalação requer mais que uma máquina é interessante que as vacas tenham acesso ao maior número possível delas. Isto minimiza problemas de hierarquia que ocorrem na manada. Ainda que haja uma exploração tipo com o seu desenho de implantação, pode requerer um estudo personalizado, uma decisão geral é colocar a/s máquina/s num dos extremos da linha de cubículos cabeça com cabeça.

Em todos os exemplos quer para pequenas ou grandes explorações, os parques ficam com livre acesso para as unidades robot, bem como um acesso limpo para pessoas à sala técnica do robot.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ORDENHA NUM ROBOT LELY

Entrada do animal e limpeza dos úberes

Depois do animal entrar na box é identificado e feita a sua pesagem, dando-se início ao processo com a entrada do braço de limpeza. Esta é feita através de rodilhos, cujo desenho e textura procura realizar uma limpeza eficaz dos tetos, do úbere e estimular a produção de oxitocina. Nem todas as vacas produzem oxitocina com a mesma facilidade por isso a Lely permite que o tempo de trabalho dos rodilhos seja adaptável e configurável a cada vaca e a cada quarto. Os rodilhos são desinfectados antes de cada vaca.

O processo de ordenha

Após o engate das tetinas que é feito uma de cada vez, dá-se início ao processo de ordenha propriamente dito.

Ao longo do processo de ordenha são analisados vários parâmetros fundamentais quarto por quarto de forma independente. Como por exemplo, a condutividade eléctrica do leite, presença de sangue, alteração de cor em vários comprimentos de onda, fluxos, tempos, etc. O objectivo é determinar se o leite está conforme ou não em relação aos parâmetros normais daquele quarto daquele animal, tendo em vista o ajuste no processo de ordenha ou a separação do leite desse animal. Esta separação pode ser feita de forma automática ou manual, e pode ser motivada por razões de vária ordem: o animal pode ter uma mastite ou o produtor pode ter interesse em separar o leite por outro qualquer motivo.

Na maioria das salas de ordenha convencionais é escolhida a curva de pulsação que será aplicada de forma fixa para todas as vacas e durante todo o processo de ordenha. No robot Lely o pulsador 4Effect® permite realizar a ordenha de cada quarto de forma independente e dependendo do fluxo de leite. Esta adaptação da pulsação às características de cada quarto de cada vaca tem uma influência muito importante no rendimento da ordenha. Outra característica do pulsador 4Effect® funciona da forma seguinte: se é detectado um fluxo alto em todos os quartos da vaca, aumenta de forma automática o vácuo de trabalho até um máximo de +2 Kpa. Esta característica pode-se conjugar com a anterior para conseguir um rendimento óptimo da ordenha. No final é feita a retirada independente de cada tetina, aqui também há várias formas de o fazer, dependendo de cada quarto e de cada animal ou da estratégia do produtor.

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Desinfecção dos tetos

A desinfecção dos tetos é realizada por pulverização de líquido sobre cada um dos tetos. A quantidade de desinfectante a aplicar em cada quarto também é configurável.

Limpeza das tetinas

Uma vez terminada a ordenha as tetinas são enxaguadas externa e internamente, com um jacto de água à pressão. Se o leite da vaca não for para o tanque por ser colostro, ter antibiótico ou mastite, é realizada uma lavagem mais intensa que inclui as tetinas, circuito até ao vaso do leite e ao próprio vaso (enxaguamento curto).

Como vimos é permitida uma parametrização a cada quarto de cada animal, o que pode dar uma ideia da capacidade do equipamento em termos de adaptação a cada manada e a cada situação.

Para explorações com problemas de mastites crónicas pode-se ainda colocar no robot um sistema de esterilização por vapor de água Pura®. Este sistema injecta na tetina um jacto de vapor de água a mais 160° que a esteriliza totalmente.

Os diferentes tempos durante o processo de ordenha

Depois de compreender o funcionamento da máquina em linhas gerais, temos que compreender os diferentes tempos que compõem a duração do processo de ordenha.

Tempo de tratamento

Realmente este tempo é a soma de vários tempos: o tempo de entrada na cabine estimado em 2 seg., o tempo de limpeza do úbere com os rodilhos (35 seg.), o engate das tetinas (leitura com o laser e movimentos do braço para engatar as tetinas) (15 seg.), o tempo de desinfecção que consiste em pulverizar com o líquido cada um dos tetos (5 seg.), tempo de saída da box (2-10 seg.). Se a vaca se atrasar na saída entrará em funcionamento o afastador eléctrico.

É importante destacar que reduzir o tempo de massagem e limpeza do úbere com os rodilhos pode ter um efeito negativo na libertação da oxitocina.

Por outro lado, comentar que os tempos de engate das tetinas em úberes pouco uniformes e/ou tetos muito juntos se pode multiplicar por 3. Queimar os pelos do úbere – flamejar o úbere – tem um efeito muito positivo na redução dos tempos de engate.

Tempo de ordenha

É o tempo que dura a ordenha em si. Este tempo varia dependendo da quantidade de leite do úbere e do fluxo do leite característico de cada vaca. Habitualmente o tempo de ordenha pode estar entre 3-8 minutos.

A técnica de ordenha com pulsação e vácuo em função do fluxo reduz o tempo de ordenha em aproximadamente 10%.

É interessante ver a influência que tem o fluxo médio característico da exploração na capacidade de ordenha do robot.

Exemplo: um robot Lely numa exploração com produção média de 38 kg/vaca/dia e uma velocidade média de ordenha de 3 kg/min é capaz de ordenhar uma quota de 900 toneladas de leite. Se a velocidade de ordenha média é de 2,2 kg/min a capacidade reduz para 710 toneladas.

Tempo na box

É definido como a soma do tempo de tratamento mais o tempo de ordenha.

Uma exploração com bom maneio e com uma genética apurada pode conseguir velocidades máximas de ordenha muito altas (mais de 4 kg/min) e como tal tempos na box muito baixos.

Produção de leite/Tempo na Box

Este parâmetro é o quociente entre duas variáveis e vai-nos permitir saber as vacas mais interessantes para o robot. Exemplo:
Vaca A: produz 14 kg, Tempo Box: 4 min.
Produção de leite/Tempo na Box =14/4= 3,5 kg/min.
Vaca B: produz 15 kg, Tempo Box: 10 min.
Produção de leite/Tempo na Box =15/10= 1,5 kg/min.
A vaca A é uma vaca muito interessante para o robot.

SUPERVISÃO DA ORDENHA. DETECÇÃO DE PROBLEMAS E MELHORIA DO RENDIMENTO

Uma vez vistas as características gerais do robot e do seu processo de ordenha, temos que analisar os dados fornecidos pelo software de gestão do robot (Lely T4C®). Estes dados vão permitir retirar conclusões e outputs para auxiliar a gestão da exploração.

Conforme referimos e em última analise, é da optimização de todos os tempos que vai depender um aumento da capacidade da máquina e por conseguinte uma maior rentabilidade. Depois depende da prioridade de cada produtor na conjugação deste com outros factores para fazer uma boa gestão da exploração.

Recomendamos para quem tiver interesse, a inscrição num dos cursos de formação ministrados pela Alteiros – Equipamentos e Tecnologias Lda. Existem workshops ou cursos mais avançados ao longo do ano, para produtores e técnicos que fazem o acompanhamento técnico a explorações leiteiras robotizadas.

Considerações finais

Neste artigo quisemos aproximar o leitor e familiarizá-lo com a ordenha automatizada ou robotizada conforme as diferentes terminologias utilizadas.

De referir também que os bons resultados não são conseguidos apenas por máquinas mas sim associados à aplicação de boas práticas de gestão e maneio das vacas.

Como tal, para além da escolha de um equipamento fiável e com bom desempenho técnico, importa a escolha da equipa técnica que o vai assessorar na introdução/transição de sistema, bem como o acompanhamento futuro da exploração, pois é essa conjugação de factores que vai ditar o sucesso da exploração leiteira no futuro.

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