Monchique: depois dos incêndios, renasceu a economia da floresta

Assolado por incêndios em 2003 e 2004, que devastaram 90% da floresta, a base da economia do concelho, Monchique renasceu das cinzas e, em pouco mais de uma década, recuperou e revitalizou o seu principal setor económico.

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Os incêndios reduziram a cinzas cerca de 40 mil hectares da mancha florestal de Monchique, considerada como o pulmão do Algarve e pilar da economia do concelho algarvio, mas a renaturalização e a aposta na industrialização de produtos como o medronho, o mel e os enchidos têm revitalizado a economia e aceleraram o investimento nas zonas rurais.

«Tem sido um caminho difícil e lento, devido ao pânico que se instalou nas pessoas e que intimidou os pequenos agricultores e proprietários a reinvestirem», diz Rui André, presidente da Câmara de Monchique desde 2009.

De acordo com o autarca, nos anos seguintes aos incêndios, a economia local «passou por momentos difíceis, porque as pessoas mais idosas e que tinham pequenas produções de cortiça, madeira e agricultura perderam tudo e ficaram traumatizadas. Sem capacidade financeira, vivem com reformas baixas, abandonaram as terras e os mais jovens procuraram outras actividades e fontes de rendimento».

«Os apoios disponibilizados pelo Governo também não chegaram a todos, muito por culpa da complexidade e burocracia dos processos, pois poucos perceberam como o fazer», indica, acrescentando que «os proprietários retiravam algum rendimento dos eucaliptais, dos medronheiros e da cortiça, mas foi tudo devastado, originando o aumento da desertificação».

Para combater a desertificação e incentivar o investimento na floresta, a autarquia promoveu, a partir de 2009, programas de apoio e benefícios, entre os quais a isenção e redução de taxas, auxiliando também na elaboração de candidaturas a fundos comunitários.

«Foram incentivos e auxílios que fizeram com que muitas pessoas vissem na floresta uma oportunidade de negócio», explica o autarca, adiantando que «os novos produtores agrícolas são familiares de proprietários locais, mas há também pessoas que nunca tiveram qualquer ligação ao concelho».

Segundo o autarca, a recuperação da economia local floresta, tem sido conseguida com a industrialização, afirmação e promoção de produtos como o medronho, o mel e os enchidos, bem como o investimento em unidades de turismo rural e actividades de turismo de natureza.

«Neste momento, existem cerca de 50 unidades de alojamento local, algumas dos quais investimentos de estrangeiros que apreciam as condições naturais que a serra oferece», sublinha.

Por seu turno, o presidente da Associação de Produtores Florestais do Barlavento Algarvio, refere que a produção de eucaliptos «sofreu um golpe muito rude» com os incêndios em dois anos consecutivos, «destruindo a economia local».

«Foi destruída uma área de cerca de 20 mil hectares de eucaliptal, uma das maiores fontes de rendimento na altura, cuja madeira era vendida para três grandes empresas de celulose», indica aquele responsável.

Segundo Emílio Vidigal, «as pessoas que tinham rendimentos dos eucaliptos acabaram por abandonar as terras e os mais novos arranjaram outras fontes de rendimento. Hoje em dia, a floresta está abandonada na produção de sobreiros e eucaliptos».

«O setor florestal fixava muitas pessoas e, com os incêndios, os índices de desertificação aceleraram» acentua Emílio Vidigal, acrescentando que hoje se verifica «uma nova mentalidade e um olhar diferente para outros produtos, nomeadamente com o aumento da área plantada de medronheiros que, devido à rápida regeneração, continua a ser um dos principais produtos extraídos da floresta e dos mais valorizados».

Segundo este responsável, «ninguém vai plantar sobreiros, pois é uma árvore que necessita de cerca de 30 anos para que seja retirada cortiça que possa dar algum rendimento».

Emílio Vidigal considera que logo após os incêndios, se «desperdiçou uma oportunidade para reordenar e reflorestar a serra de Monchique», reclamando a implementação de medidas e apoios que possam originar maior investimento no setor das madeiras, de forma a aproveitar os recursos naturais que o concelho oferece.

Fonte: Lusa 

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