Mecanização Agrícola no Mundo: Perspetivas e Tendências

Por: Luis Márquez, Professor de Engenharia Mecânica e Diretor do Grupo de Investigação Tractores y Laboreo na Escola Técnica Superior de Engenheiros Agrónomos desde 2007.

Durante a segunda década do século XX e princípios do século XXI houve progressos significativos na mecanização agrícola, quando se deram os primeiros passos na sua automatização, em grande medida devido à chegada da eletrónica.

As mudanças na mecanização têm estado condicionadas por fatores externos, entre os quais se destacam:

  • A obrigatoriedade do cumprimento da política de segurança aplicada às máquinas agrícolas.
  • A redução das emissões de gases de efeito de estufa pelos escapes dos motores.
  • A limitação na aplicação de agroquímicos.

O melhor conhecimento da agronomia levou também a uma drástica redução do trabalho no solo, historicamente considerado como a base da agricultura.

Em menos de 50 anos:

  • Passou-se da lavoura convencional do solo para um preparo mínimo e plantio direto, permitindo o desfasamento da fronteira agrícola em zonas tropicais e subtropicais com agricultura sustentável.
  • O desenvolvimento de herbicidas com um impacto ambiental baixo juntamente com as variedades de OGM, modificaram a paisagem agrícola de muitas regiões.
  • Melhoraram-se as técnicas de aplicação de produtos fitofarmacêuticos em culturas de menor safra, mas falta solucionar os problemas de penetração destes produtos em culturas mais desenvolvidas, especialmente arbóreas.
  • A aplicação de fertilizantes sólidos em doses variáveis continua condicionada pela precisão na distribuição por projeção.
  • Foi solucionada a colheita de cereais e sementes através de automotrizes coletoras. O mesmo se pode dizer em relação à recolha das forragens, tanto por via seca como húmida.
  • Há no mercado equipamentos de recolha para culturas como a batata, beterraba, algodão, linho, tabaco, cana-de-açúcar, vinha, café, azeitona, hortaliças variadas…

Mecanizou-se a agricultura empresarial, para as culturas mais difundidas, a partir do trator agrícola com um propulsor a diesel com mais potência e eficiência, para aumentar a velocidade de trabalho, garantindo a segurança e ergonomia na cabine de condução.

Em suma:

  • A tecnologia mecânica aplicada amadureceu, sendo que os avanços mais significativos estão relacionados com a incorporação da hidráulica e da eletrónica.
  • Em alguns casos aparecem soluções mecânicas inovadoras.
  • As limitações para a sua utilização estão condicionadas pela dimensão económica das exportações e pela disponibilidade da mão de obra.
  • As épocas de produção são muito curtas e a utilização da maquinaria é sazonal, aumentando os custos financeiros do proprietário e atrasando a colocação no mercado de novos produtos.

Os avanços tecnológicos traduzem-se em função das necessidades e da sociedade:

  • Segurança no trabalho e na deslocação das pessoas.
  • Proteção do meio “natural”, pressionados maioritariamente pela sociedade urbana.
  • Limitações na utilização de tecnologias inovadoras por serem consideradas “perigosas”, como os OGM.
  • Rastreabilidade e segurança alimentar.

Neste artigo, analisam-se as inovações que se criaram nos últimos tempos e que marcam tendências para os próximos anos em relação ao equipamento mecânico para trabalhar o solo e à implementação de culturas, à distribuição de fertilizantes e aplicação de produtos fitossanitários, à relação das forragens e a biomassa vegetal, assim como as outras culturas.

Por outro lado, a indústria da mecanização agrícola está a desenvolver-se com base em “plataformas” focadas nos diferentes segmentos do mercado, abandonando a sua estrutura piramidal para passar a outra em forma de rede que possa responder com rapidez à demanda agrícola das diferentes regiões.

As áreas geográficas de maior nível de desenvolvimento (EUA, UE) têm tratores e máquinas de qualidade, com elevada potência e elevado nível de tecnologia; centralizam o fabrico a partir de componentes de qualquer região para assim baixar os custos, com especial atenção a motores com baixas emissões, transmissões automatizadas, eletro-hidráulicas, ergonómicas e seguras.

Nas regiões com consumo próprio muito elevado (China e Índia), a produção é orientada para tratores de baixa potência, robustos e fiáveis, com tecnologia básica (agricultura e transporte), e para o fabrico de componentes e tratores simples para a sua exportação, com grande presença nas grandes multinacionais do setor com fábricas próprias e associadas a empresas locais.

Nas regiões com consumo próprio e com fábricas desatualizadas (Federação Russa), está a decorrer uma mudança nas estruturas de produção, mediante os próprios desenvolvimentos e acordos com as grandes multinacionais do setor, orientadas para produzir tratores e máquinas agrícolas com elevada capacidade de trabalho e uma tecnologia intermédia, uma vez que se potenciam as redes comerciais, os serviços de assistência técnica e garantias de produto que eram inexistentes.

Por último, nas áreas geográficas com consumo próprio, e com agricultura competitiva (Brasil, Argentina), o fabrico é orientado para os tratores e máquinas de alto desempenho, robustas e muito fiáveis, com tecnologia intermédia, produzidas em fábricas de multinacionais implementadas na região, que exportam para países desenvolvidos e em desenvolvimento, competindo em preço e em fiabilidade, especialmente quando a tecnologia de plantio direto se difunde com altas prestações (Semeadores/ Pulverizadores).

Resumindo, a mecanização agrícola foi solucionada a nível das culturas intensivas (amadurecimento tecnológico). Fizeram-se novos avanços para a recolha de biomassa (para fins energéticos) e de vegetais para a indústria. Progressivamente põe-se em marcha a “Agricultura de precisão”, os sistemas de comunicação entre tratores e alfaias (ISSO-BUS), a mecatrónica e robótica estão em experimentação para situações especiais como as estufas, mas como um objetivo a longo prazo.

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