Leite: «setor atravessa um dos períodos mais difíceis da última década»

O Centro de Congressos de Lisboa, em Alcântara, foi palco esta manhã, 2 de novembro, do Encontro Nacional de Laticínios, iniciativa promovida pela Associação Nacional de Industriais de Lacticínios (ANIL). Vários especialistas presentes no evento destacaram a necessidade de definir «estratégias positivas» de esclarecimento sobre o setor bem como «uma educação mais eficaz junto do consumidor». Para o presidente da ANIL, Casimiro de Almeida, «o setor atravessa um dos períodos mais difíceis da última década». Os problemas atuais da produção, a conjuntura económica, a redução do consumo de leite e o embargo russo foram alguns dos temas abordados no Encontro.

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O Encontro, que teve lugar na manhã desta segunda-feira, 2 de novembro, começou com a intervenção do presidente da ANIL, Casimiro de Almeida, que destacou «o momento crucial» que o setor do leite atravessa em Portugal.

Fatores «como a conjuntura atual, as indecisões comunitárias em relação ao setor, as condições económicas do país e das famílias, o embargo russo aos produtos europeus, a nossa eterna permissividade em relação à importação de produtos lácteos a preços que afetam a nossa indústria, produtividade e setor estão na origem deste momento muito particular», disse o responsável.

Casimiro de Almeida não tem dúvidas de que o setor «atravessa um dos períodos mais difíceis da última década».

Todavia, lembrou que «está preparado, a nível da produção e tecnologias. Sabemos fazer e estar. Mas temos dificuldades em competir com outros países que têm encontrado boas perspetivas na distribuição do nosso país».

«O consumo de produção láctea tem vindo a cair no nosso mercado de forma preocupante, seja leite, iogurtes ou produtos lácteos», lembrou.

O presidente da ANIL sublinhou ainda que a baixa natalidade e o ciclo de emigração que se tem registado em Portugal nos últimos anos são igualmente causas que «influenciam o estado do setor».

Para Casimiro de Almeida «as abordagens constantes sobre os malefícios dos laticínios, não suportadas cientificamente, provocam também desconfiança».

«Precisamos por isto tudo de esclarecer os cidadãos e, ao mesmo tempo, corrigir o consumo», alertou.

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No final da sua intervenção apelou à necessidade de «todos juntos definirmos estratégias que promovam o leite e os seus benefícios».

Produção com qualidade

Seguiu-se a intervenção do primeiro orador da manhã, Sérgio Calsamiglia, da Universidade Autónoma de Barcelona, que abordou o tema “Conquistando a confiança do consumidor desde o início”.

Uma comunicação que incidiu sobre a importância, na produção, de alimentar, de forma eficiente as vacas. «A qualidade dos pastos, é pois, de extrema importância», salientou.

O académico lembrou igualmente a necessidade de fornecer «condições de temperaturas ideais, consoante os ciclos e a estação do ano, aos animais».

«Para isso há sistemas de ventilação e, hoje em dia, até há colchões que permitem condições de conforto e bem-estar, essencial à qualidade do leite produzido», disse, lembrando que, por exemplo, abaixo dos 5 graus uma vaca tem frio e fica «exposta a condições de temperatura que não são as mais indicadas».

«Vacas mais felizes é sinónimo de produção de leite com qualidade e crescimento do setor», afirmou Sérgio Calsamiglia.

Outro aspeto importante a que o professor da Universidade Autónoma de Barcelona aludiu incidiu sobre os sistemas de limpeza automática das explorações, «algo que há 20 anos por exemplo era impensável».

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«Uma exploração limpa, desinfetada, e depois monitorizada, com avaliações de temperatura corporal dos animais, dados sobre a saúde e nutrição das vacas, permitem obter ganhos de produção mais exigente», sustentou.

Por fim, lembrou a importância das pastagens e forragens, que «com os nutrientes necessários ao organismo das vacas são essenciais para completar um ciclo de produção de qualidade».

Por fim, o responsável lembrou a necessidade de os produtores adotarem «estratégias nutricionais» que garantam «uma boa qualidade do leite», onde entram processos de ordenha, desinfeção e controlo e amostragens «que devem ser exigentes».

«O controlo de antibióticos – que devem ser sempre excluídos – por exemplo é essencial. E posso assegurar que, cada vez mais, as práticas atuais garantem leite com alto valor nutritivo e de qualidade», disse.

Sérgio Calsamiglia conclui dizendo que no futuro a investigação nas ciências animais irá incidir sobre matérias que cada vez mais se prendem com os «ácidos existentes no leite, a identificação de marcadores genéticos e a qualidade e segurança dos alimentos para os humanos». E, rematou, dizendo que «há necessidade de educar os consumidores».

Laticínios: «insubstituíveis na alimentação»

Também Helena Real, da Associação Portuguesa de Nutricionistas, salientou na sua intervenção, a necessidade de «informar os consumidores».

Começou por comparar a roda dos alimentos de vários países, onde os laticínios têm um papel insubstituível na alimentação, «ao contrário do que muitas correntes querer fazer crer».

A especialista realçou aspetos a ter em conta quando se fala de alimentação, entre eles, as necessidades nutricionais, a alimentação nas várias etapas da vida, a rotulagem e a segurança alimentar.

Lembrou que tal como todos os outros alimentos, os laticínios devem ser consumidos em porções diárias recomendadas, e realçou que são portadores de proteínas de alto valor biológico, hidratos de carbono (lactose), vitaminas e péptidos ativos». Ou seja, «têm um elevado valor nutricional».

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Sobre os estudos, com bases científicas pouco credíveis, garante que é essencial «desmistificá-los». Por essa razão Helena Real sublinhou que «na evidência científica de um estudo é essencial verificar a quantidade de laticínios indicada, o tipo de laticínios considerado e a frequência do consumo».

«Consistência na comunicação»

“Propriedades do leite debaixo de ataque: como ripostar!”. Assim se designou a comunicação de Jerreau Beaudoin, diretor de comunicação da GDT Global Dairy Platform.

O especialista começou por recordar que «estamos expostos à monopolização do discurso» e que nas teorias anti-laticínios «é fundamental explicar às pessoas os benefícios do leite, fortalecer argumentos e a importância da dieta equilibrada».

«Precisamos de criar uma relação emocional com os consumidores. Só assim conseguiremos passar as nossas mensagens e desmontar os argumentos dos que defendem consumo de alimentos que excluem a origem animal», alertou Jerreau Beaudoin.

Em suma, «discussões, estratégias e debates positivos são essenciais para o esclarecimento dos públicos bem como mensagens consistentes e claras», vincou.

O Encontro Nacional de Laticínios contou com o Alto Patrocínio do Presidente da República, que, na impossibilidade de marcar presença no evento, enviou uma mensagem aos participantes, salientando «a importância da discussão sobre os problemas e futuro do setor».

Saiba mais sobre o tema aqui:

Lisboa acolhe Encontro Nacional de Laticínios 

Fotos: Ana Clara

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