Figo-da-índia ganha terreno no país e exportação pode chegar em 2016

figo da índia

Em Portugal o figo-da-índia era até há pouco tempo desconhecido da maioria dos cidadãos. Mas, desde 2009, que a planta começou a ganhar terreno, quando alguns produtores descobriram o seu potencial económico. Nesse ano foi instalado em Sesimbra o primeiro pomar ordenado. Dois anos depois nascia uma associação para defender a fileira. Cultivado um pouco por todo o país, é no Algarve que assume maior expressão ao nível de área plantada. Com diversas aplicações (gastronomia, cosmética ou imobiliário), pensa-se agora numa estratégia de exportação que deverá arrancar em 2016.

Fotos: APROFIP

Mário Nunes, presidente da Associação de Profissionais de Figo da Índia Portugueses (APROFIP), em entrevista ao Agronegócios afirma que a «consciencialização por parte dos portugueses, de que o figo-da-índia representava um potencial económico a aproveitar, deu-se em 2011», altura em que a APROFIP começou a ser constituída e a desenvolver iniciativas para a promoção e valorização da planta.

Normalmente, o figo-da-índia integra as memórias de muitos cidadãos no seu estado selvagem, sendo que era comum observá-lo à beira dos caminhos nas zonas rurais. Cenário que há seis anos a esta parte se alterou, com o seu aproveitamento na agricultura e para fins comerciais.

Para se perceber melhor como a planta começou a ser aproveitada em Portugal e integrar um verdadeira fileira, é preciso recuar a 2009, quando foi instalado em Sesimbra o primeiro pomar ordenado, com uma área aproximada de 0,8 hectares (ha) para exploração de frutos.

Um ano mais tarde surge outra iniciativa semelhante em Portalegre, «mas com o objetivo de se obterem cladódios (um tipo de caule que cresce paralelamente ao chão) como forragens, para alimentação de bovinos», recorda Mário Nunes.

Só em 2011, depois da realização do primeiro concurso de “Aromas e Sabores com Figo-da-Índia” em Martim Longo, concelho de Alcoutim (Algarve), foi possível assistir-se a uma maior divulgação da Opuntia Ficus Indica (nome científico da figueira-da-índia).

Estava dado o primeiro passo para a criação da APROFIP (a 4 de abril de 2012), nomeadamente com a manifestação por parte de muitos jovens e agricultores em apostarem na cultura desta planta.

Plantações em todo o país

Segundo Mário Nunes, existem plantações de figueiras-da-índia em todo o território nacional. No entanto, «as condições propícias para a produção de frutos com maior qualidade, são a luz e calor do sol em zonas com índices elevados».

«Todas as regiões do país onde existam essas condições climatéricas, a qualidade do fruto assume maior relevância», adianta o dirigente da APROFIP, acrescentando que os «terrenos propícios» são os pobres a nível agrícola, com boa drenagem e prolongada exposição solar.

«Apesar de se desenvolver sem regadio, o desenvolvimento desta planta é mais lento, tendo em conta que o período do ano em que a planta tem melhores condições para crescer, é a primavera e o verão e se não tiver regadio, começa a desidratar-se, com as elevadas temperaturas, e entra em estivação, ou seja, a planta não tem crescimento enquanto não voltar a recuperar a sua seiva natural, o que só irá acontecer no outono, logo que caia a pluviosidade suficiente para os solos ficarem húmidos», explica Mário Nunes.

Plantação de figo da índia

Actualmente os associados da APROFIP são responsáveis por cerca de 150 ha de pomares ordenados, sendo a variedade de polpa vermelha a que tem maior expressão, seguida da polpa laranja e em menor quantidade a verde.

Em termos geográficos o distrito do Algarve é o que conta com maior área plantada, seguido de Castelo Branco, Évora, Portalegre, Beja, Santarém, Leiria, Bragança, Viseu, Setúbal, Lisboa e Guarda.

«Relativamente a outros produtores (não associados da APROFIP) calcula-se que tenham cerca de 100 ha. de pomares ordenados e as suas áreas de localização, serão idênticas às referidas anteriormente», diz Mário Nunes.

De acordo com a APROFIP, em 2013, a produção de frutos, com origem em pomares, «não teve grande expressão em termos quantitativos, entre 20 a 30 toneladas».

Em 2015 espera-se que este volume seja de aproximadamente 60 a 80 toneladas já que a maioria dos pomares têm um a dois anos de vida.

Perfil do produtor

Mário Nunes refere que a faixa etária da maioria dos produtores de figo-da-índia situa-se de 25 a 40 anos, sendo que «a maioria têm formação académica em várias áreas, engenheiros, arquitetos, professores, advogados, geógrafos, etc.».

«Também muitos produtores, com mais de 40 anos de idade, se têm dedicado à exploração de figo-da-índia», esclarece.

Quanto à comercialização, o dirigente refere que a APROFIP tem sido contactada para o fornecimento de frutos para consumo em fresco e transformação, sementes de figo para extracção de óleo, nopal (cato) em pó.

No entanto, «não se tem concretizado o negócio, por défice de volume, com capacidade de resposta a essas solicitações», esclarece.

figo da índia

Quanto a aplicações do figo-da-índia são muitas e variadas. A planta e o seu fruto são utilizados para diversos fins, como sumos, compotas, geleias, pastelaria, doçaria, licores, aguardentes, iogurtes, gelados, óleo cosmético, dietas de emagrecimento, forragens para pecuárias, fabrico de biodiesel, construção civil e decoração de mobiliário.

E, com o crescimento da fileira em Portugal, Mário Nunes realça que «os portugueses, principalmente os jovens, estão a aderir ao cultivo desta planta com muita determinação e até mesmo os picos não são um entrave».

«A maioria deles referem que o país ou outros familiares têm terrenos “abandonados” e gostariam de os rentabilizar, já que se trata de uma planta que não é exigente em termos de investimento, aplicação de fitossanitários ou em manutenção», frisa.

Exportar sim, mas com qualidade

Para Mário Nunes, o figo-da-índia português, devido às condições edafo climáticas existentes em Portugal, «poderá ser um dos melhores do mundo e se houver uma imagem de marca cuidada e o necessário marketing, acrescido da respetiva certificação biológica, essas qualidades assumem maior valor».

«Quando existirem produções de frutos, em escala industrial, a exportação deve ser a grande aposta da APROFIP e, nesse sentido, está já a trabalhar para que, a partir de 2016, possa actuar com sucesso, nessa sua missão», afiança o responsável.

Entre outros eventos de promoção da planta, a APROFIP organizou o I Festival Nacional do Figo da Índia (em outubro de 2012), na Escola de Hotelaria em Portimão, participou na Feira Salone Internazionale del Gusto e Terra Madre, em Turim, em outubro 2012, na Biofach, Nuremberg (2013 e 2014), apoiou a organização do I Encontro Nacional do Figo da Índia em Évora (em abril de 2014) e participou em diversas feiras e certames dedicados à planta por todo o território nacional.

No início de Fevereiro deste ano marcou ainda presença recentemente na Fruit Logística, em Berlim, com o objetivo de conhecer a realidade dos mercados internacionais do figo-da-índia e ajudar os seus associados no escoamento das próximas produções de figo-da-índia.

Recorde-se que a figueira-da-india (Opuntia ficus-indica) é uma espécie da familia Cactaceae, com origem e na região central do Mexico, sendo que pode ser encontrada em vários sistemas agrícolas de várias regiões do mundo.

A planta adapta-se particularmente bem em zonas semi-áridas, caraterizadas pela seca, chuvas erráticas e solos pobres sujeitos a erosão.

Na família Cactaceae a espécie Opuntia ficus-indica é considerada a mais importante do ponto de vista económico, sendo cultivada em mais de 20 países, com destaque para o México, Sicília, Argélia, Chile, Brasil e Norte de África.

Na Europa, a Itália e o principal produtor de fruto com uma área plantada dedicada de 3500 ha e uma produção total de 70 mil toneladas de fruto.  

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