FFA realiza webinar para discutir a resiliência do sistema alimentar, a sustentabilidade e a pandemia da Covid-19

O Fórum para o Futuro da Agricultura, evento anual que viu a sua edição de 2020 cancelada, realizou ontem, dia 15 de junho, um evento online que conectou Bruxelas a Berlim e foi palco para discutir a resiliência do sistema alimentar, a sustentabilidade e a crise da Covid-19. 

FFA 2020

O objetivo passou por compartilhar os conhecimentos e as experiências do painel de convidados, que contou com a presença de Catherine Geslain-Lanéelle, vice-chefe de gabinete do Comissário da UE Wojciechowski; Gero Hocker, deputado ao Parlamento Federal Alemão; Julia Köhn, CEO e fundadora da PIELERS GmbH e presidente da Sociedade AgriFood alemã; Felix Prinz zu Löwenstein, presidente do BÖLW; Janez Potočnik, presidente da FFA2020 e da RISE Foundation e Heike Zeller, que moderou o painel.

Segundo a entidade, o surto do coronavírus atingiu todas as facetas do sistema alimentar: das prateleiras vazias dos supermercados, à falta de trabalhadores agrícolas a fronteiras sob escrutínio. "A pandemia expôs fragilidades sistémicas que não devem apenas ser corrigidas, mas totalmente resolvidas para criar resiliência", é possível ler-se na nota de imprensa. "Ao mesmo tempo, há uma urgência política renovada para garantir que a recuperação não seja apenas resiliente, mas também verde. Embora atrasadas, as principais políticas europeias, como a Estratégia Do Prado ao Prato e o Pacto Ecológico da UE, terão um grande impacto na produção de alimentos na Europa".

Heike Zeller abriu o evento em Berlim, começando por agradecer aos parceiros da FFA e aos presentes, introduzindo, ainda, os oradores. De Bruxelas, Janez Potočnik, presidente da FFA2020 e da RISE Foundation, começou por agradecer aos presentes e por lamentar que o Fórum para o Futuro da Agricultura não se tenha realizado no ano corrente, devido ao surto do novo coronavírus.

«Estamos habituados a privatizar os lucros e socializar os custos»

O presidente destacou que é necessário, após a pandemia, realizar uma recuperação sustentável. Segundo as suas declarações, Janez Potočnik crê que «o mundo pós corona parece igual ao que era antes», pois «os agricultores trabalham como antes, os navios iniciaram as trocas e os supermercados nao mudaram muito em relação ao que os consumidores estão habituados». Contudo, acredita que agora conseguimos ter uma «compreensão maior» do mundo em que vivemos e que ainda nos encontramos numa «maratona», sendo que os efeitos se possam vir a sentir mais a longo prazo. 

Janez Potočnik realçou que os cidadãos europeus, enquanto «contribuintes e cidadãos», têm «todo o direito de solicitar a recuperação da UE com medidas "verdes" associadas», referindo-se à importância de continuarmos a enfrentar as alterações climáticas, aproveitando o momento para introduzir o Pacto Ecológico Europeu e as Estratégias Do Prado ao Prato e para a Biodiversidade até 2030.

Perante estes planos, o orador defendeu que «neste momento, estamos mais preparados que antes. Devemos utilizar este momento extraordinário para definir as próximas décadas. É necessario para proteger a nossa natureza, lares e vidas». Apontou, ainda, que com tudo isto, «podemos criar a economia do futuro», destacando a importância da «evolução digital», que conduzir à prosperidade e promove mais empregos "verdes". Realçou, também, a importância de melhorar as medidas no âmbito da economia circular, destacando que estamos habituados a «privatizar os lucros e socializar os custos» e que é necessário preocuparmo-nos com a geração vindoura. 

«A pandemia mostrou-nos como estamos dependentes dos nossos vizinhos para tudo. Mas tambem nos mostrou o quão fragil a economia deixa o nosso mundo», defende. Como tal, estas estratégias deviam ir de encontro e fundir-se com a nova Política Agrícola Comum, que será debatida nas próximas semanas. «Este momento de recuperação é ganhar ou perder e nós não podemos lidar com os custos perder». Conclui a sua intervenção defendendo que nem todos os setores agroalimentares vão conseguir recuperar da mesma forma e que é, perante tal, necessária uma transição justa. 

O sucesso da segurança alimentar na Europa

Catherine Geslain-Lanéelle, vice-chefe de gabinete do Comissário da UE Wojciechowski, também interviu a partir de Bruxelas, começando por realizar uma breve análise sobre quais são os problemas mais críticos resultantes da Covid-19 no sistema agroalimentar. A vice-chefe começou por destacar a parte positivo, realçando que a «a segurança alimentar é um sucesso da União Europeia». 

A oradora apontou os problemas que se fizeram sentir nas fronteiras, nas trocas comerciais, mas também que conseguimos compreender a importância da livre circulação de produtos na Europa, que impediu problemas de maior. «O mais importante é que existiu resiliência do nossos setor agroalimentar. Não é perfeito, mas é incrivel ver como garantimos ter comida em todos os pratos da população de todos os Estados-Membros. Não aconteceu por coincidência, mas sim devido aos agricultores, aos produtores, aos stakeholders (...)», destcando que devemos agradecer aos respetivos «por termos conseguido garantir a produção agrícola, o processamento, o transporte, a venda, entre outros».

Destacou, ainda, que precisamos de produzir não só mais comida, como biomassa, se o nosso objetivo passa por «descarbonizar a nossa agricultura». «Nos próximos vinte anos, vamos precisar de mais biomassa», apontou. «Como fazer isso ao mesmo tempo que protegemos os nossos recursos naturais? É preciso compreender». Catherine Geslain-Lanéelle apontou, também, a questão de autosuficiência, destacando que «ao mesmo que devemos continuar a produzir a nossa comida, devemos reduzir a nossa dependência, para sermos cada vez mais resilientes», abordando, ainda, os preços da UE e as questões sociais conectadas a tal. 

Sobre as novas estratégias da UE, a vice-chefe destacou que estas não representam o fim do processo, «mas apontam tópicos de ação essenciais», destcando que serão apoiadas pela nova PAC. «A PAC vai providenciar os recursos que precisamos para apoiar os agricultores na mudança e transição. Além disso, vamos conseguir recursos extra, pois a Comissão reconheceu a importancia de aumentar os recursos do segundo pilar».

FFA 2020

Já no painel em Berlim, Gero Hocker, deputado ao Parlamento Federal Alemão, ilustrou o exemplo da Alemanha e do seus sistema agroalimentar, destacando a importância dos trabalhadores sazonais, que fizeram com que fosse possível a continuidade da cadeia alimentar. Felix Prinz zu Löwenstein, presidente do BÖLW, evidenciou a vulnerabilidade do sistema alimentar, apontando ainda que os mais pequenos problemas podem provocar consequências catastroficas para milhões no âmbito. 

Julia Köhn, CEO e fundadora da PIELERS GmbH e presidente da Sociedade AgriFood alemã, falou da sua empresa, que tem como missão a criação de um mercado mais justo para os produtores, tal como várias entidades que estão a surgir no panôrama europeu. O objetivo passa por «utilizar o poder da inovação e do empreendedorismo para criar modelos de negócio que nos ajudem a criar uma cadeia alimentar que permita ao consumidores comprar a comida que eles realmente querem comprar», apontou, desejando que o investimento no setor fosse maior por parte da UE. 

Durante a emissão em direto do evento, existiram várias oportunidades de interação entre os participantes e os oradores. Foram realizadas quatro votações em direto, utilizadas para criar debate entre os oradores, além da receção de perguntas concretas.

Perante a sondagem sobre qual deveria ser a primeira prioridade de recuperação para o sistema agroalimentar, a maior parte dos participantes apontou que a recuperação deveria ser o mais "verde" possível. Sobre qual estratégia deveria ser o foco da presidência alemã, foi apontada a Estratégia Do Prado ao Prato. Como área que merece mais atenção foram destacadas as alterações climáticas e as emissões, que devem ser reduzidas a qualquer custo. Por último, quando questionados sobre o que melhor ajudaria o sistema de negócio do setor agroalimentar europeu, os participantes acreditaram ser os pagamentos pelos serviços do ecossistema. 

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