Ensaio de variedades de framboesa em cultura protegida

Por: Pedro Brás de Oliveira, Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I.P.

O sudoeste alentejano, concelho de Odemira, é uma das regiões da Europa mais favoráveis à cultura da framboesa, apresentando condições edafo-climáticas únicas para a produção durante o período da primavera e do outono. Ao longo dos últimos vinte anos têm decorrido ensaios de variedades de framboesa, na Herdade Experimental da Fataca (HEF), com o objetivo de demonstração da adaptabilidade ao clima e às técnicas de produção desenvolvidas ao longo dos anos.

A técnica de produção de framboesas remontantes baseada no corte dos lançamentos do ano durante o verão, tendo em vista a produção Outonal para o mercado de exportação, é um sistema testado e com comprovada rentabilidade e sustentabilidade. Esta técnica baseia-se na capacidade dos lançamentos das plantas de framboesa, quando cortados durante o período de crescimento, emitirem ramos laterais que se mantêm vegetativos na framboesa não remontante e que podem comportar-se como laterais frutíferos na framboesa remontante (Figura 1). Tirando partido desta característica, o corte dos lançamentos do ano a diferentes alturas (intensidades) permite a obtenção de uma segunda produção durante o período de outono. Na aplicação desta técnica, a precocidade da cultivar é extremamente importante dado que a frutificação tem que ser possível num curto período de tempo. O controlo ambiental é também um fator crítico a ter em conta no momento da escolha dos túneis a utilizar.

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O melhoramento genético das framboesas remontantes encontra-se numa fase dinâmica, tendo sido lançadas nos últimos anos mais de 30 cultivares de diversas linhas de melhoramento europeias e norte americanas. Este facto implica a realização de estudos de adaptação varietal às condições edafo-climáticas portuguesas e às diversas tecnologias de produção. Em cultura protegida é fundamental otimizar a intensidade e as datas de corte dos lançamentos do ano, nas diferentes cultivares disponíveis, tendo em vista a obtenção de elevadas produções, nomeadamente, em período de elevado preço de mercado.

Em 2010, deu-se início a um ensaio varietal de framboesas remontantes com as cultivares mais recentes e de maior utilização comercial na Europa. Oito cultivares de framboesa remontante (Amira, Himbo Top, Erika, Kweli, Polka, Radiance, Grandeur e Elegance) foram plantadas ao longo de 2010, sendo a cultura instalada no solo, numa densidade de três plantas por metro linear. Foram utilizados três túneis do tipo espanhol cobertos com polietileno térmico de longa duração. Foi instalado um sistema de suporte em V simplificado. Todas as operações culturais foram realizadas de acordo com as práticas em curso na HEF (rega e fertilização controlada por programador comercial). Os valores apresentados tiveram por base uma linha de 20 metros por cultivar (Figura 2).

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No inverno de 2011, os lançamentos que frutificaram foram cortados ao nível do solo, ficando a cultura reduzida apenas ao sistema radicular, sem lançamentos para produzir após o inverno. Na primavera, teve início o crescimento vegetativo com um primeiro ciclo produtivo durante o verão. No dia 17 de agosto todas as cultivares foram cortadas a quinze e vinte nós, interrompendo-se assim a colheita.

Todas as cultivares apresentaram valores de peso médio do fruto acima dos três gramas no período de primavera e outono (Quadro 1). Na produção de primavera destacaram-se as cultivares Radiance, Kweli e Grandeur, todas com produções iguais ou superiores a 3 kg por metro de linha de cultura. No período de outono, a cultivar Himbo Top foi a que apresentou a produção mais elevada, 2,9 kg por metro. No conjunto das duas produções apenas a ‘Kweli’ e a ‘Radiance’ atingiram os 6,0 kg por metro de linha de cultura. As percentagens de refugo foram muito mais elevadas na produção de outono do que na produção de primavera principalmente devido à formação de frutos duplos.

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As técnicas de produção utilizadas têm como consequência a uniformização das datas de colheita das diferentes cultivares (Quadro 2). As temperatura amenas registadas durante o mês de dezembro permitiram a colheita de frutos até ao mês de janeiro.

Em conclusão, podemos afirmar que a técnica de produção em lançamentos do ano de framboesas remontantes, apresenta boas produtividades, com parte da produção em período de elevado preço no mercado de exportação em fresco. Mercê das ótimas condições de solo e clima, Portugal já é um dos principais fornecedores de framboesa para o mercado europeu nos períodos de primavera e outono.

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