Drones conquistam setor agrícola português

A tecnologia - sejam computadores, sistemas de geolocalização (GPS), tecnologias de controlo, redes de informação e, agora, cada vez mais, os drones – está cada vez mais presente no setor agrícola. No caso dos drones, as pequenas aeronaves controladas à distância estão a tomar conta do espaço aéreo das plantações um pouco por todo o mundo. O Agronegócios foi saber qual a importância que os drones têm para os agricultores portugueses e de que forma o setor está a aproveitar esta tecnologia. Ricardo Braga, professor do Instituto Superior de Agronomia (ISA) e Diretor da revista Agrobótica e João Noéme, ligado à UAVision e à TERRAPRO, analisam o tema. A vitivinicultura foi pioneira no nosso país na utilização deste tipo de serviço para melhorar não só a rega e a fertilização como também a próprio vindima. 

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«Os “drones” são aeronaves sem piloto cujo controlo pode ser remoto (em tempo real) ou autónomo por intermédio de uma aplicação em conjugação com o posicionamento GPS. No caso do voo autónomo, o Homem programa uma rota, que depois é executada pelo “drone”», começa por explicar Ricardo Braga, professor no ISA. 

Os “drones” podem ter diversos acrónimos:  UAV (unmanned aerial vehicles), RPAS (Remotely pilote dair craft systems), VANT (Veículo aéreo não tripulado), etc.

Assim, sendo uma plataforma, «os “drones” podem servir para (utilização 1) transportar sensores que captam a radiação emitida pelas culturas em diversos comprimentos de onda (no caso da agricultura) ou simplesmente (utilização 2) para captar fotografias aéreas no espectro do visível (fotografias normais)», adianta Ricardo Braga. 

O docente do ISA refere que «os dados da radiação emitida pelas culturas permitem, por exemplo, criar cartas de conforto vegetativo que por sua vez conduzem à identificação de zonas problemáticas (problemas de rega, doenças, etc.) nas parcelas a necessitar de atenção do gestor agrícola». 

A simples observação de fotografias aéreas das parcelas no visível «traz-nos bastante informação sobre o estado vegetativo e variabilidade espacial.

Os “drones” podem ser de dois tipos fundamentais: asa fixa (tipo avião) ou asa rotativa (tipo helicoptero), com vantagens e desvantagens em função de cada situação», acrescenta o professor. 

Para este objetivo de transporte de sensores de radiação, «além dos “drones” existem outras plataformas, muitas das vezes mais apropriadas a uma dada situação, como os aviões de baixa altitude ou os satélites. Mais recentemente os “drones” têm também sido utilizados para distribuir fatores de produção como por exemplo pesticidas ou adubos. Contudo, estas utilizações são, ainda, sobretudo experimentais», sustenta. 

Ricardo Braga explica que, para obtenção de cartas de índices de vegetação (NDVI e outros) os “drones” são utilizados em Portugal por empresas de consultoria especializada «há pelo menos seis anos (utilização 1: cartografia do conforto vegetativo). No setor agrícola, a vitivinicultura foi pioneira na utilização deste tipo de serviço para melhorar não só a rega e a fertilização como também a próprio vindima». 

«De há três anos para cá existe já um conjunto de empresários agrícolas que tem o seu próprio “drone” e que o utiliza para fazer o acompanhamento “visual” das culturas e/ou equipamentos (utilização 2: inspeção cultural)», informa. 

Vantagens 

Quais são as mais-valias dos drones aplicados à Agricultura? À pergunta, o diretor da revista Agrobótica responde que «há que distinguir a utilização preconizada». 

«Para inspeção cultural (utilização 1), os “drones” apresentam bastantes vantagens já que permitem aos gestores agrícolas ter uma visão alargada da cultura que de outra forma seria impossível a partir de determinados estados fenológicos (e.g. milho). A visão aérea permite ver padrões de variabilidade que não são fáceis de detetar no terreno. Neste tipo de aplicação obtêm-se tipicamente imagens no visível com resoluções espaciais de poucos centímetros tiradas a cerca de 100 metros de altitude (dá para ver falhas de plantas). Em geral é o agricultor que têm o seu próprio “drone” (de asa rotativa) e que o voa com periodicidade estabelecida (e.g. quinzenal)», explica.  

E adianta: «para a utilização 2, cartografia do conforto vegetativo em que se pretende a) além do visível o registo de outras bandas como o infra vermelho próximo ou o térmico, e b) cartografia georreferenciada e de áreas mais extensas (dezenas de hectares), a competição com as outras plataformas (satélites, aviões tripulados, etc) é maior face a alguns inconvenientes dos “drones”. Para esta utilização, os “drones” (geralmente de asa fixa) são propriedade de empresas especializadas que prestam um serviço aos gestores agrícolas. A qualidade dos dados obtidos é superior e as utilizações agrícolas, suportadas por consultoria agronómica, são diversas podendo ir desde variação de dotações de rega até a tratamentos diferenciados no espaço das parcelas. O resultado final é uma utilização mais eficiente de recursos com aumentos da produtividade das culturas». 

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Ricardo Braga diz que «mais do que preocupado se as cartas são elaboradas a partir de imagens obtidas por “drones” ou outras plataformas, os empresários devem preocupar-se com a qualidade da carta produzida (resolução espacial, georreferenciação, amostragem, eliminação do solo, etc, etc), com a consultoria agronómica de suporte e também com o custo. Na realidade tudo depende da cultura e da utilização preconizada. Situações há em que o satélite é a plataforma mais indicada, outras em que o melhor retorno provem dos “drones” ou mesmo de aviões tripulados. Há que pedir aconselhamento junto de especialistas», aconselha Ricardo Braga. 

Sobre os eventuais inconvenientes, o docente universitário afirma que «os “drones” propriamente ditos são geralmente apregoados como equipamentos de muito fácil utilização.» Na realidade para utilizações mais avançadas «é necessária alguma experiência».  

«Também estão sujeitos a falhas, muitas vezes, imprevisíveis. São comuns relatos de “drones” que sem motivo aparente se descontrolam e fogem do alcance do operador. O meu conselho neste particular é uso de alguma prudência e perseverança face a uma curva de aprendizagem algo longa.

Quanto à utilização 2 – cartografia do conforto vegetativo, além do “drone” propriamente dito, é necessário ter em conta o pós-processamento dos dados, pelo que, como foi referido, o serviço é geralmente levado a cabo por empresas especializadas», acrescenta. 

No que respeita a custos, diz o professor, os “drones” para inspeção cultural (asa rotativa) custam, neste momento,cerca de 1000 euros. «Para cartografia do conforto vegetativo (asa fixa) poderão custar 20 vezes mais.

Se compensa ou não adquirir um “drone” ou recorrer a uma empresa de prestação de serviços, depende bastante da área, da cultura, do tipo de utilização. O mesmo se pode dizer face às plataformas alternativas (satélite, avião, etc.)». 

Sendo cada vez mais utilizados por empresas no setor agrícola, os drones estão a gerar um negócio. «Existem  de facto já bastantes empresas tanto a fornecer serviços de “drones” como a vender “drones”», considera Ricardo Braga.  Contudo, avisa que, «como com qualquer “febre” é necessário precaução». 

«Aos gestores agrícolas que pretendam usufruir do potencial que a cartografia do conforto vegetativo possibilita recomenda-se prudência na avaliação da oferta. Devem ter sempre em conta que mais importante que o “drone” (a plataforma) é o produto resultante, sejam simples imagens aéreas para inspeção cultural seja cartografia “mais séria” de índices de vegetação», aconselha, adiantando que «novamente há que pedir aconselhamento junto de especialistas para encontrar a melhor solução para cada caso». 

Os agricultores portugueses têm cada vez mais a perceção da importância de adquirem conhecimento sobre este tema e em 2015 começou a haver cursos de drones. Sobre a importância da formação, Ricardo Braga admite que «alguns vão tendo essa perceção» e diz que «a ferramenta vai-se tornando cada vez mais acessível por um lado». 

Por outro, «a necessidade cada vez maior de produzir de forma mais sustentável, com uso eficiente de recursos, com decisões baseadas em factos leva a que os gestores agrícolas cada vez mais se apercebam de que não devem desprezar a variabilidade espacial das suas culturas. Existem tecnologias para avaliar e diagnosticar a variabilidade espacial, e sobretudo existem também tecnologias para atuar no terreno no sentido de gerir a variabilidade espacial». 

A nível internacional, Ricardo Braga refere que «a Europa está bastante mais avançada que os EUA no uso de “drones” beneficiando de leis menos restritivas». 

Agricultura de precisão 

Os drones são o equipamento mais mediático associado à agricultura de precisão. Foi sobre este ponto de vista que o Agronegócios falou com João Noéme, da UAVision, empresa que trabalha nas áreas da aeronáutica, ciências da terra e projetos de engenharia. 

Para o responsável, ligado também à TERRAPRO (que trabalha na otimização  da produção agrícola e em particular, o uso eficiente e responsável dos fatores de produção), a Agricultura de Precisão «é um conceito cada vez mais utilizado mas que ainda significa para muitos grande complexidade de análise e custos elevados de implementação». 

No entanto, «com o desenvolvimento tecnológico cada vez mais acessível, estas tecnologias começam a ser usadas de forma generalizada com ofertas de baixo custo largamente compensadas pelos benefícios diretos nos fatores de produção e produtividade. Cada vez mais se conhecem casos de sucesso não só internacionalmente como no nosso país». 

«A agricultura de precisão baseia-se no conceito de variabilidade dos agrosistemas, quer seja do solo, disponibilidade de água ou clima, tendo por objetivo a redução de custos de produção, a diminuição dos impactos ambientais e o aumento de produção ou qualidade da mesma. Para tal as técnicas e tecnologias de precisão envolvem a análise da variabilidade espacial das parcelas agrícolas e a aplicação diferenciada dos fatores de produção, de acordo com essa variabilidade e as necessidades reias das culturas em cada local», explica João Noéme. 

Das tecnologias mais utilizadas, salienta, destacam-se «a fotografia aérea e outros sensores de deteção remota, que permitem uma análise expedita e em larga escala das culturas. As imagens aéreas podem, dependendo do objetivo da análise, ser recolhidas por diversas vias. Os drones são o equipamento mais mediático associado à agricultura de precisão e permite de facto uma análise muito pormenorizada das parcelas, permitindo que o olhar do produtor sobrevoe a sua cultura e detetar zonas críticas». 

Esta é, no entanto, «uma solução melhor adaptada a áreas pequenas, sendo que para áreas geralmente acima de 50 ha, são mais utilizados aviões tripulados ou mesmo imagens satélite. Para além das análises feitas através da fotografia “comum”, é possível recolher informação noutras bandas do espectro de luz que após processamento geoespacial, permitem avaliar índices culturais, como o vigor vegetativo ou delimitar zonas de gestão diferenciada», sustenta João Noéme. 

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Para o responsável da UAVision «também as sondas de monitorização permanente da humidade do solo a diferentes são hoje uma realidade comum na maior parte explorações de regadio, pois tal como a maioria das tecnologias ou serviços de precisão, permite uma redução nos fatores de produção, que facilmente compensa o investimento realizado. Os serviços de gestão de rega com base nesta tecnologia são já uma ferramenta indispensável dos produtores de regadio». 

«As sondas de humidade do solo permitem conhecer a capacidade de armazenamento de água do solo no interior de uma determinada parcela, ou até mesmo a profundidade a que as raízes estão de facto a utilizá-la. Desta forma o produtor pode adequar a rega às reais necessidades da cultura, respondendo da melhor forma às questões: quando regar?, quanto regar? e como regar? evitando desperdícios quer em água quer em energia. Por outro lado, quando associado a um dispositivo de aplicação diferenciada da rega, VRI (Variable Rate Irrigation), o produtor pode definir padrões de rega fazendo variar a aplicação diretamente no pivot», acrescenta. 

Face aos desafios que se colocam à agricultura moderna, como a necessidade de minimizar custos de produção e aumentar a competitividade e qualidade dos produtos finais, «a agricultura de precisão tem ganho cada vez mais adeptos no mundo e em particular no nosso país. A utilização de sistemas de GPS em maquinaria agrícola permitem capturar automaticamente dados agronómicos e da máquina à medida que o trator se desloca no campo». 

No que se refere à colheita, por exemplo, João Noéme diz que «esta informação permite a elaboração de mapas de produtividade, muito úteis no apoio à decisão. Em breve deixará de se ouvir falar no agricultor que se “deu ao luxo” de implementar agricultura de precisão na sua parcela, para passar a causar espanto o agricultor que se consegue “dar ao luxo” de não utilizar este tipo de tecnologia. A competitividade do mercado vai obrigar todos a trabalhar com mais eficiência e produtividade». 

Experiência e acompanhamento técnico 

João Noéme explica que a TERRAPRO, por exemplo, conta já com vários anos de experiência no acompanhamento agrícola de produtores e na oferta de serviços e tecnologia de agricultura de precisão. 

«Apostada no acompanhamento de proximidade com o produtor, na qualidade e competitividade dos produtos e na prestação de um serviço chave na mão, a TERRAPRO oferece diversos serviços e tecnologias de precisão, em diversas modalidades, como Serviços de Gestão de Rega, Gestão da Fertilização, Imagem área e vigor vegetativo (NDVI) entre outros», realça. 

Os serviços de gestão da rega, por exemplo, «podem ser prestados sem necessidade de aquisição de equipamento nem preocupações técnicas com manutenção e representam uma poupança efetiva quer no consumo de água quer na energia. O produtor tem acesso a acompanhamento técnico em contínuo, visitas ao campo e relatórios semanais com recomendações de rega para os 8 dias seguintes, previsões meteorológicas, registo de dotações aplicadas, entre outras informações», informa João Noéme. 

A consulta e análise de dados autónoma e em tempo real é feita através de um software de acesso online, quer em computador quer em versão mobile. 

«Para a correta utilização e maximização do output da tecnologia, importa aos agricultores procurarem não só a melhor qualidade tecnológica e simplicidade de utilização, como acima de tudo, o melhor e mais próximo acompanhamento técnico especializado para que as tecnologias de precisão representem um benefício efetivo», conclui João Noéme.

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