Da agricultura à energia. O plano de Torres Vedras rumo à sustentabilidade

Criação de florestas para a captação de CO2, avanço na inovação digital na produção agrícola e na transição energética são algumas das medidas adotadas pelo município do Oeste para atingir a neutralidade carbónica.

torres vedras

«Os municípios têm um papel determinante no que toca ao combate às alterações climáticas e à descarbonização dos seus territórios». Quem o diz é Carlos Bernardes, presidente da Câmara Municipal de Torres Vedras, para quem o tema da sustentabilidade não é novo. Apesar de ser o Carnaval a dar fama à cidade, o município tem vindo a ser sucessivamente reconhecido, nacional e internacionalmente, pela estratégia ambiental implementada ao longo dos últimos anos. Integrado no Top 100 de Destinos Sustentáveis do mundo pelo quarto ano consecutivo, o que faz da estratégia do concelho um caso de sucesso? «A nossa visão em torno da sustentabilidade está assente em quatro pilares fundamentais: o ambiente, a coesão social, a economia, mas também o da governança», explica ao Diário de Notícias.

Os efeitos potencialmente devastadores das alterações climáticas fazem parte daquele que é visto por muitos como o maior desafio da humanidade. Para endereçar o problema, Portugal apressou-se a assumir o compromisso de garantir, até 2050, a neutralidade carbónica do país com a apresentação à ONU, em 2019, do plano nacional que orienta as medidas a adotar. A colaboração de instituições, empresas e cidadãos é, contudo, essencial para garantir o sucesso. Em Torres Vedras, como em cada vez mais municípios, o caminho está a ser trilhado com convicção. «A adoção de estratégias de combate às alterações climáticas tem sido um dos compromissos mais ambiciosos que assumimos», afiança Carlos Bernardes.

Governar pelo exemplo

Trabalhar a sustentabilidade local passa necessariamente pela transformação estrutural da cidade, desde logo no que respeita a um dos principais contributos para a emissão de dióxido de carbono (CO2): a mobilidade. O executivo tem apostado na renovação da frota municipal, que conta já com 32 veículos elétricos que permitem «reduzir as emissões em cerca de 66 toneladas por ano», mas que o presidente considera ter ainda um «efeito de contaminação positiva» junto da população. No mesmo sentido, a construção de uma rede de ciclovias urbanas com 12 quilómetros foi um passo importante para permitir o crescimento da mobilidade suave, num local com longa tradição ligada à bicicleta, não fosse a terra natal da estrela do ciclismo português, Joaquim Agostinho.

A captação de CO2 em Torres Vedras faz-se também através do programa Floresta nas Linhas 20.30, para a reflorestação, que em janeiro contava com 15 hectares de terrenos municipais incultos ou com eucaliptos já reconvertidos. O objetivo é atingir os 125 hectares para contribuir para a neutralidade carbónica.

De acordo com a Agência Portuguesa do Ambiente (APA), a agricultura representava, em 2018, cerca de 10% das emissões de CO2 do país. Este é um dos setores mais importantes na economia da região Oeste, merecendo, por isso, particular atenção no apoio à sua transição ambiental. Em fevereiro, o município aderiu à Declaração de Glasgow para «apostar em políticas e estratégias integradas» para a redução de gases de efeito estufa nos sistemas alimentares, procurando mobilizar as mais de mil empresas do setor que ali operam. Reconhecido pela Comissão Europeia como exemplo a seguir, o projeto de alimentação escolar vai «além da promoção de hábitos alimentares saudáveis, envolvendo os produtores locais, contribuindo para a redução da pegada ecológica». Um exemplo da ação encontra-se nas cozinhas escolares, cuja despensa de produtos privilegia «cadeias de distribuição mais curtas em detrimento do preço unitário».

Já em 2020, foi instalado no concelho o Smart Farm Colab, um laboratório colaborativo para a inovação digital na agricultura e que conta com financiamento da FCT - Fundação para a Ciência e Tecnologia. O objetivo é «desenvolver soluções para os desafios climáticos», explica o autarca.

Energia do futuro

Para dar corpo ao conceito de "ecocomunidade", tem sido fomentada a instalação de equipamentos de produção de energias renováveis, nomeadamente eólica e solar. As escolas são espaços que contam com quase duas dezenas de unidades de microgeração elétrica, bem como o edifício da câmara que, desde 2020, conta com painéis fotovoltaicos para ajudar a reduzir a dependência energética. «As características deste território tornam-no muito apelativo para a instalação de centrais fotovoltaicas», adianta Carlos Bernardes, que refere a aprovação recente de um recinto onde será investido perto de meio milhão de euros de fundos privados. A produção de energia limpa cumpre os objetivos da sustentabilidade, enquanto contribui para o fortalecimento dos cofres municipais. A dúzia de parques eólicos no concelho, com mais de meia centena de torres, significa um rendimento adicional de 600 mil euros para o município. A década 2020-2030 será decisiva para assegurar um futuro livre de CO2, com o governo a querer atingir, até lá, 80% da produção energética nacional a partir de fontes sustentáveis.

Fonte: Diário de Notícias

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