Anipla desafia setor do milho: produzir mais com a mesma terra

No âmbito do XI Congresso Nacional do Milho, a Anipla vai promover um painel sobre tecnologia e produtividade. Em exclusivo para o Agronegócios, o Diretor Executivo da ANIPLA, António Lopes Dias, faz um resumo do tema que será debatido por um painel de especialistas ao final da manhã do dia 8 de Fevereiro.

Por António Lopes Dias, Diretor Executivo da ANIPLA

A cultura do milho é utilizada quase exclusivamente para alimentação animal. Uma pequena parte, perfeitamente marginal, é destinada ao consumo direto humano, que é o caso do chamado milho-doce.

milho

Da grande fatia temos ainda duas finalidades: milho para silagem e milho para grão. No primeiro caso, as plantas são cortadas ainda verdes decorrido o principal período de crescimento vegetativo, dando origem a alimento para consumo quase imediato dos animais. Esta produção destina-se normalmente a mercados locais ou para autoconsumo de explorações mistas agropecuárias.

Quando o objetivo é a produção de grão, a cultura é levada a cumprir todo o ciclo vegetativo e é colhida quando as espigas estão maduras, com os grãos completamente formados. A colheita é feita com recurso a modernas ceifeiras-debulhadoras, sofrendo depois o grão um processo de secagem por forma a que atinja um teor de humidade aceite pelo mercado. O grão é usado essencialmente na produção de rações e outros alimentos para diversas espécies pecuárias.

Portugal é altamente deficitário em milho grão, mas o seu preço é determinado não pelo mercado local, mas pelos mercados internacionais. Daqui se entende que, embora a preocupação pela produtividade se aplique a todas as finalidades, a verdade é que, para a produção de milho grão, esta seja um fator ainda mais decisivo. Produzir milho, sobretudo para grão é mesmo “obra” para profissionais.

A produtividade, que significa produzir mais, com a mesma terra, ao menor custo é determinada pelo “know-how” e pela incorporação de tecnologia. Variedades mais produtivas e adaptadas, boa gestão da água e energia (elétrica e mecânica), fertilização adequada às necessidades e um controlo fitossanitário eficiente são os aspetos mais determinantes.

No aspeto fitossanitário, o milho não é uma cultura com muitos inimigos, se comparado por exemplo, com outras como fruteiras ou hortícolas. Alguns insetos podem causar sérios prejuízos, mas as infestantes são o problema que requer maior controlo, sob pena de se perder por completo a cultura.

De facto, o milho é uma cultura semeada na primavera, atravessa todo o período estival e é colhido no final do verão / princípio do outono. Profusamente irrigada, as condições ótimas propícias para a germinação da semente e o crescimento da planta são-no, ainda mais, para as ervas adventícias que, mais adaptadas ao local, fazem da espécie recém-chegada uma fácil presa na competição pela sobrevivência.

O controlo eficiente de infestantes é pois, um fator determinante para o sucesso da cultura. Atualmente, devido ao intenso investimento em investigação e desenvolvimento da indústria fitofarmacêutica, o produtor de milho tem ao seu dispor um conjunto de substâncias herbicidas que proporcionam um controlo satisfatório das ervas daninhas. Contudo, a atual legislação europeia coloca em risco a continuidade de várias destas soluções.

A Anipla efetuou um estudo para verificar o impacto económico da retirada destas substâncias, em 5 culturas chave da nossa agricultura, incluindo o milho. O resultado não podia ser mais claro e assustador. Nesse cenário, várias infestantes ficariam sem controlo e a quebra de produtividade podia chegar a 60% da actual, o que significaria muito simplesmente o abandono da cultura.

Em 2016, segundo dados ainda provisórios da Anpromis, a cultura do milho ocupou uma área de cerca de 118.000ha, uma quebra de quase 7% face a 2015, quase toda à custa da redução da área semeada para grão.

A relação milho-grão / milho-silagem é de cerca de 60:40, em termos de área cultivada. Não é de estranhar que seja a área destinada à produção de grão aquela que mais flutuações sofre de ano para ano, fruto do limiar apertado em que o agricultor joga o retorno do seu investimento.

Nesse sentido, é “aqui” que a incorporação tecnológica tem a cartada decisiva. Todos os detalhes contam e os mais pequenos erros podem ter consequências irreparáveis.

A cultura do milho para grão é viável e até aliciante, mas só faz sentido com a possibilidade de uso das ferramentas que proporcionem a máxima produtividade, numa perspetiva de utilização sustentável dos recursos disponíveis. A expansão da cultura só assim é possível, assumindo o seu papel de principal candidata a dispor dos novos recursos hídricos do projeto Alqueva.

Mas sem recursos tecnológicos disponíveis, onde se incluem os produtos fitofarmacêuticos, por mais superfície irrigável que haja e mais água que se disponibilize, culturas como o milho e outras não poderão expandir-se sob pena do empresário agrícola ver os seus investimentos irem por água abaixo. 

Regiões

Notícias por região de Portugal

Tooltip