Acelerar a revolução agrícola no nosso país, por João Koehler
Por João Rafael Koehler, Presidente da ANJE - Associação Nacional de Jovens Empresários
Pode parecer paradoxal mas é um facto. Na ressaca de uma das mais duras crises económicas, a agricultura portuguesa está a crescer e a modernizar-se a bom ritmo. Para se ter uma ideia, em 2015, produção agrícola atingiu os 6,84 mil milhões de euros, o valor mais elevado de sempre. Consequentemente, a indústria agroalimentar tem vindo a reforçar a sua vocação exportadora e a internacionalizar as suas atividades. No ano passado, as exportações agrícolas cresceram 5% e é possível que, dentro de cinco anos, seja atingido o equilíbrio da balança agroalimentar.
Para esta evolução da agricultura portuguesa, muito contribuiu a aposta que jovens qualificados fizeram no setor. Pode mesmo dizer-se que há uma nova geração a revolucionar a agricultura no nosso país, introduzindo no setor estratégias empresariais, conhecimento científico, tecnologias sofisticadas, técnicas modernas e novos produtos. O empreendedorismo qualificado chegou, pois, à agricultura e também neste setor há uma vaga de startups inovadoras. Vaga, essa, que vai ao encontro do atual paradigma de desenvolvimento do setor à escala global, no qual a agricultura é cada vez mais uma atividade económica intensiva em conhecimento, I&D e inovação.
Aqui chegados, importa acelerar a renovação geracional na fileira agrícola e a subsequente transferência de conhecimento, tecnologia e gestão. É ainda insuficiente na nossa agricultura o capital humano que reúne, por um lado, competências técnico-científicas e, por outro, noções de economia, visão de mercado e sentido de negócio.
Simultaneamente, é essencial que as universidades e seus centros de I&D intensifiquem a produção, transferência e aplicação de conhecimento científico na produção agrícola. O desenvolvimento científico em áreas críticas como a produção vegetal, as tecnologias agrárias, a biotecnologia, a sequenciação genómica ou as culturas protegidas, por exemplo, será de crucial importância para um setor que necessita de ganhos de produtividade e de competitividade, num cenário de grande imprevisibilidade causada pelas alterações climáticas.
Cabe às universidades e seus centros de I&D servirem de interface entre o conhecimento e os produtores agrícolas, mesmo aqueles que não têm formação especializada. Há que criar redes de competências abarcando toda a cadeia de valor agrícola, de forma a promover a competitividade dos agricultores, a oferecer alternativas às produções tradicionais e a generalizar a aplicação de tecnologias que favoreçam a produtividade, a diferenciação e a qualidade.
Da parte dos poderes públicos, seria interessante a criação de condições para a emergência de ecossistemas empreendedores vocacionados para startups de base tecnológica orientadas para o setor agrícola. Com incentivos públicos, nomeadamente em sede fiscal, poder-se-ia promover a instalação destes ecossistemas especializados, com valências nas áreas da formação, da mentoria, do fundraising, do networking, da incubação e da aceleração.
Num ambiente protegido, próximo dos centros de conhecimento e dinamizador de sinergias entre empresas é objetivamente mais simples o crescimento de startups inovadoras capazes de fornecer produtos, serviços ou soluções que potenciem a produtividade e competitividade das explorações agrícolas tradicionais.
Lembro que foram lançados incentivos à indústria 4.0, com o intuito de adaptar o setor manufatureiro à 4.ª revolução industrial baseada na internet. Ora, idêntica política de estímulos devia ser direcionada também para o setor agrícola.
Nota Editorial: artigo publicado na edição nr.º 20 da Revista AGROTEC.