A utilização de adjuvantes na qualidade da pulverização

Por: António Cannas / Departamento de Desenvolvimento / Lusosem, S.A.


 

Nos últimos anos temos assistido a uma notória evolução dos equipamentos de aplicação de fitossanitários. Bombas de baixa pressão, bicos de aplicação com as mais diversas funcionalidades, utilização de GPS, etc. Por outro lado, as empresas produtoras de moléculas de fitossanitários têm correspondido aos desafios ambientais do presente, com a criação de substâncias activas cada vez mais eficazes e com menor dose de aplicação. A necessidade de a agricultura se adaptar às novas exigências de sustentabilidade levou, nos últimos anos, a uma redução significativa do volume de calda aplicado por hectare. Em França, o volume de calda médio por hectare em aplicações de herbicidas é de 140 litros, enquanto nos fungicidas e insecticidas esse volume é de apenas 200 litros. Com estes volumes de aplicação a difusão no ar da calda aplicada é bastante reduzida, bem como a possível contaminação de águas subterrâneas e aquíferos de superfície. A toda esta evolução juntou-se a necessidade de assegurar em todas as aplicações a máxima eficácia. Os adjuvantes, “inauguraram”, um pouco por toda a Europa, um novo segmento de mercado, muito especializado, e capaz de assegurar a máxima eficácia das aplicações, quer por acção química sobre as caldas (pH, por exemplo), quer actuando sobre as suas propriedades físicas (como sejam a limitação da deriva, ou a expansão da gota que atinge o alvo). Os adjuvantes são, assim, auxiliares altamente especializados da pulverização, não existindo neste segmento o “tudo em um”, devendo a sua escolha ser ponderada em função da, ou das funcionalidades pretendidas.

Quais são então essas funcionalidades? 

1.ª Molhabilidade: trata-se da capacidade que determinado adjuvante tem, de uma vez adicionado à calda, expandir o diâmetro da gota que atinge o alvo;

2.ª Retenção: adesividade da gota ao alvo após o impacto;

3.ª Penetrabilidade: capacidade da calda em mobilizar uma determinada substância activa para o interior da planta, por acção, quer sobre os estomas (pequenos “poros” microscópicos da folha por onde esta respira), quer sobre a cutícula;

4.ª Manutenção das propriedades da calda: capacidade que determinado adjuvante tem de acidificar a água que serve de suporte à calda, prolongando o tempo de vida da mesma (caldas de herbicidas);

5.ª Aderência: capacidade conferida à calda por determinado adjuvante, que limita as perdas por “salpico” no momento do impacto;

6.ª Anti-deriva: capacidade que determinado adjuvante tem de reduzir drasticamente a difusão da calda pelo ar à saída dos bicos de aplicação;

7.ª Qualidade da calda: intervenção do adjuvante na redução de espuma, ou na compatibilização da mistura de mais de um fitossanitário.

 

Existem presentemente no mercado duas classes de adjuvantes, de acordo com a sua composição e finalidade:

1) Tendo por princípio activo a lecitina de soja e o ácido propiónico, destinados a caldas de herbicidas e reguladores de crescimento:

a) Possuem um efeito molhante ampliando o diâmetro da gota até 6x o tamanho da mesma quando atinge o alvo (efeito tensioactivo);

b) Retêm a gota sobre a superfície impactada, melhorando a eficácia da substância activa, quer se trate de um herbicida de contacto, ou sistémico;

c) Por acidificação da calda, mantêm as propriedades químicas da mesma, evitando a degradação por hidrólise alcalina;

d) Agindo sobre o diâmetro da gota à saída do bico de pulverização, limitam as perdas por deriva ou por escorrimento;

e) Mantêm a estabilidade das caldas que tenham por base a mistura de dois ou mais herbicidas, impedindo fenómenos de floculação ou precipitação.

 

2) Adjuvantes baseados em látex sintético, destinados a serem associados a caldas de fungicidas e insecticidas:

a) O seu efeito “super-molhante” amplia o diâmetro da gota até 15x o seu diâmetro original no momento em que atinge o alvo;

b) Retêm a gota sobre o alvo (superfície vegetal, insecto, fungo ou outra), melhorando consideravelmente a eficácia dos fungicidas ou insecticidas, sejam eles sistémicos ou de contacto;

c) Criam um imediato efeito de aderência ao alvo, impedindo o escorrimento, ou as perdas motivadas por “salpicos”.

 

Que factores deverão ser ponderados no momento de uma aplicação?

1) Climatologia;

2) Equipamento de aplicação;

3) Quantidade de produto a aplicar/ha.

4) Volume de calda a aplicar;

5) Qualidade da água que serve de suporte à elaboração da calda.

 

1) Climatologia

Deveremos ter especial atenção à intensidade e direcção do vento no momento da aplicação, de forma a evitar sobredosagens na cultura tratada, ou efeitos fitotóxicos sobre culturas vizinhas. Por outro lado, não deveremos tratar quando o alvo se encontra molhado por uma orvalhada matinal, quando se prevêem chuvas nas horas seguintes à aplicação, ou quando a humidade atmosférica é muito baixa. As melhores condições para a aplicação dão-se normalmente ao início da manhã, ou no final do dia.

 

2) Equipamento de aplicação

Deve ser o adequado à aplicação em causa. Normalmente, em culturas extensivas faz-se por meio de uma barra com bicos de pulverização “de leque”, ou de “injecção de ar” também chamados de “anti-deriva”. Presentemente, muitos fabricantes de bicos de pulverização aderiram à norma “ISO”, que permite relacionar directamente o débito com a cor dos mesmos:

A escolha do tipo de bico (leque simples, ou de injecção de ar) deve ser ponderada em função do tipo de formulação dos herbicidas a utilizar, tendo em conta que algumas formulações por si mesmas têm tendência para produzir gotas de maior ou menor diâmetro:

Tendo em conta que os bicos de injecção de ar são chamados de anti-deriva devido ao tamanho “grande” da gota que produzem, os produtos com formulações do tipo EW, EO ou EC não são recomendados na aplicação com este tipo de bico.

A pressão de trabalho é factor de primordial importância, na medida em que esta se encontra intimamente ligada ao fraccionamento da gota e por consequência aos fenómenos de deriva ou escorrimento que podem ocorrer. Na aplicação de herbicidas a pressão deve situar-se entre os 2 e os 4 bar. Aos fabricantes de pulverizadores fica desde já o desafio de passarem a lançar para o mercado manómetros limitados aos 10 bar. Os actuais (40 ou 80 bar) não permitem determinar com precisão pressões iguais ou inferiores a 4 bar. No caso de agricultores que necessitem de um equipamento misto para aplicação de herbicidas em culturas extensivas, e de insecticidas ou fungicidas com auxílio de “lança” (em castanheiros por exemplo), um esquema de distribuição da calda em “T” com torneiras e dois manómetros, um de 10 bar e outro de 40 bar, podem resolver de forma eficaz e económica a situação.

 

3) Quantidade de produto a aplicar/ha

Devem ser respeitadas as indicações do fabricante tendo em conta que em muitos casos as doses variam em função das infestantes a combater ou das condições atmosféricas no momento da aplicação.

 

4) Volume de calda a aplicar

É presentemente o maior desafio que se coloca ao aplicador de herbicidas. A título de exemplo, refira-se que uma seara de cereal em pleno desenvolvimento tem em média uma capacidade de retenção de água (sem escorrimento) de apenas 400 litros/ha. Seguramente, as infestantes que combatemos numa fase muito precoce (3 ou 4 folhas) não conseguirão reter para além de 100 litros/ha. Altos volumes na aplicação de fitossanitários têm como consequência enormes perdas por escorrimento, potencial contaminação de aquíferos subterrâneos e de superfície, e uma real perda de eficácia dos mesmos. 

Se pretendermos aplicar 0,5 litros/ha de uma determinada especialidade fitofarmacêutica, e o fizermos com um volume de 100 litros/ha, a concentração do mesmo na calda é de 0,5%, enquanto que se o fizermos num volume de 600 litros/ha a concentração baixa para os 0,08%. Então, se perdemos produto por escorrimento e/ou deriva, e a concentração de substância activa que fica efectivamente em contacto com o alvo é muito débil, teremos seguramente uma quebra de eficácia!

A determinação do volume de calda a aplicar por ha deve ser calculada em função do número de impactos que pretendemos obter por cm2, o qual varia segundo o tipo de fitofármaco que utilizamos:

- Produtos sistémicos: 20 a 30 impactos por cm2;

- Produtos de contacto: 50 a 70 impactos por cm2.

 

A determinação do número de impactos bem como da sua uniformidade pode ser facilmente visualizada recorrendo ao auxílio de papel hidrosensível. Normalmente, um volume de 150 a 200 litros de calda/ha permite atingir o objectivo, no que diz respeito ao volume de calda. A título informativo, relembramos que a média francesa em grande culturas é presentemente de 140 litros de calda/ha, em  herbicidas, e 200 litros de calda/ha em insecticidas e fungicidas.

Qualidade da água que serve de suporte à elaboração da calda. Numa aplicação de herbicidas a água não é mais do que um “veículo” destinado a fazer chegar a substância activa ao “alvo”, e em regra não é um meio “conservante”. Podemos afirmar que a generalidade das águas utilizadas em pulverização é de reacção alcalina, mas nem mesmo as de reacção neutra (pH 7) são um meio favorável à aplicação de herbicidas. No nosso quotidiano, podemos depararmo-nos com diversos produtos com longos períodos de conservação e que têm por base um meio ácido (caso dos refrigerantes do tipo cola com um pH 2,5).

 

Por outro lado, a hidrólise alcalina está na base do processo de saponificação de gorduras para a produção de sabão (meio alcalino). Também não será “por acaso” que o melhor produto (N.R. Phytnet) do mercado para a limpeza de pulverizadores tem por base o amoníaco (pH 11,5) como princípio activo e agente sequestrante de moléculas. Poderemos, assim, dizer de um modo genérico, que os meios ácidos são “conservantes” e os meios alcalinos “desagregadores”. Na aplicação de herbicidas a primeira preocupação a ter é a de baixar o pH da água que servirá de base à calda, e só depois deveremos juntar o produto comercial destinado ao combate das infestantes.

A acidificação de caldas destinadas a fungicidas e insecticidas não é uma prática recomendada! ¦

 

VER > Para mais informações, ou se pretender determinar o volume de calda a aplicar por hectare em função da pressão utilizada, velocidade de avanço do tractor e bicos utilizados (norma ISO), consulte a seguinte página na web: http://www.lusosem.pt/mediaRep/lusosem/files/destaques/LI_700_Calculos_Debitos.xls

Regiões

Notícias por região de Portugal

Tooltip