POR: José Manuel Rodrigues Silva
Especialista italiano partilhou conhecimentos sobre técnicas relativas à fertilização do mirtilo, destacando a fertirrigação como essencial para o bom desenvolvimento da planta
Fertilização do Mirtilo foi o tema da conferência promovida pela AGIM – Associação para a Gestão, Inovação e Modernização do Centro Urbano de Sever do Vouga e da empresa Espaço Visual - Consultores de Engenharia Agronómica, Lda. e que trouxe a Sever do Vouga, no passado dia 13 de abril, um reconhecido especialista italiano nesta área, Gianpiero Ganarin, do Istituto Agrario Di San Michele All'Adige. Este técnico transmitiu à plateia a experiência italiana no cultivo do mirtilo na região de Trentino, no Norte de Itália, e partilhou técnicas e práticas a implementar para uma correta cultura da planta e consequente otimização da colheita deste pequeno fruto. Aspetos de ordem técnica relativos à fertilização da planta do mirtilo dominaram grande parte da sessão. Contudo, o técnico italiano apontou a absoluta necessidade de colocar nas plantações sistemas de adubação através da rega (fertirrigação) bem como o seu acompanhamento técnico organizado e regular.
O mirtilo foi introduzido na região italiana de Trentino na década de 60 do século passado. Atualmente produz cerca de 650 toneladas de mirtilo por ano. Apesar das condições de clima e de solo serem diferentes das verificadas em Portugal, há técnicas de cultivo que podem, e devem, ser empregadas em ambos os casos.
Gianpiero Ganarin alertou para a necessidade de se proteger a plantação dos ventos dominantes através da colocação de quebra-ventos, redes anti-insetos ou uso de óleo de proteção para a planta. Quanto ao solo, este deve ter um PH entre 4,5 e 5,5 e deve ser, preferencialmente, arenoso. Solos calcários devem ser evitados.
A abundância de água é outro fator importante para o desenvolvimento da plantação de mirtilo. No entanto, Gianpiero Ganarin alerta para os riscos do excesso de água que pode levar à asfixia das plantas, à criação de fungos nas raízes e à consequente ruina da colheita. O técnico aconselha a utilização da micro-irrigação, que evita estes problemas.
O modo como é feita a plantação também tem importância. A disposição solar das linhas e o espaçamento entre as plantas são dados a ter em conta. A este propósito, o técnico italiano aconselha deixar um espaço de 2,5 metros entre cada planta, mas esta distância varia consoante a espécie de mirtilo usada. Em suma, Gianpiero Ganarin aconselha uma densidade de plantação de 220 a 400 plantas por cada mil metros quadrados, o que permite valorizar a qualidade do fruto em vez da quantidade.
Outro ponto que o palestrante focou foi a necessidade de se fazer uma poda eficaz. Gianpiero Ganarin aconselhou a "poda seca", feita no final do inverno (Fevereiro ou Março), numa altura em que rebentam os galhos e, desse modo, permite saber quais os que podem secar e quais os que irão dar fruto. Na poda devem ser retirados cerca de um terço do total de galhos e cortar todos os que fiquem abaixo do meio metro do solo, de modo a reduzir o risco de doenças para a planta. O técnico realçou outro aspeto a este propósito: se um ramo produziu muito no ano anterior, tal significa que não irá ser tão produtivo na próxima colheita, pelo que deve ser podado.
Outros aspetos importantes referidos na conferência foram os relacionados com a importância de eliminar as plantas infestantes e a polinização da flor.
A fertilização
Uma fertilização bem feita é essencial para se conseguir uma boa colheita. Esta fertilização pode ser feita através de várias técnicas, mas Gianpiero Ganarin afirma que a fertirrigação, ou seja, a fertilização através do sistema de rega, é a mais eficaz. Como vantagens relativamente à fertilização manual, este sistema permite uma maior eficiência do fertilizante, uma melhor absorção da raiz da planta, um crescimento mais equilibrado da planta, menor espezinhamento do terreno e uma maior facilidade de ajustamento dos fertilizantes necessários. Como desvantagens, a fertirrigação é mais dispendiosa, exige mais conhecimento técnico e irriga o terreno mesmo quando tal não é necessário. Há que ter em atenção, ainda, que a fertirrigação pode causar acumulação de sais. Como tal, é desejável fazer irrigação apenas com água.
Nesta técnica, deve ter-se em conta a temperatura da água, que é um dado importante para a quantidade de fertilizante a utilizar.
Gianpiero Ganarin disse ser importante fazer análises anuais ao solo de forma a manter o seu PH. O acerto do PH pode ser feito com recurso ao enxofre, mas há que fazer a manutenção do solo de modo a que o seu PH seja constante. Neste aspeto, os terrenos arenosos são mais vantajosos relativamente aos solos argilosos, onde é preciso três vezes mais enxofre para acertar o seu PH.
Gianpiero Ganarin respondeu às muitas dúvidas colocadas pelos presentes ao longo da sessão, tendo contado, neste ponto, com a colaboração de Pedro Oliveira (INIAV - Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária), que moderou o debate, e dos comentadores Lopes da Fonseca (INIAV) e Gonçalo Bernardo (AGIM), que completaram a mesa desta conferência.
Mil hectares de mirtilos no final do ano
Esta iniciativa inseriu-se numa estratégia de afirmação da AGIM como associação socio profissional que pretende elevar o conhecimento técnico e de gestão dos mirticultores, e faz parte do programa de atividades que a AGIM e a Espaço Visual têm definidas para prestar acompanhamento técnico aos produtores deste pequeno fruto.
Espera-se que no final deste ano Portugal tenha em cultura cerca de 1000 hectares de mirtilos. Esta forte pressão de implantação por parte de muitos produtores, a maioria dos quais vêm de fora do mundo agrícola, sobretudo jovens agricultores, resulta do facto de esta ser uma atividade muito rentável, aliada à forte capacidade exportadora das suas produções e, além disso, pela sua produtividade possuir um alto potencial de progressão, a qual virá a compensar, no futuro, eventuais abaixamentos de preços de comercialização que possam vir a ocorrer.
