Por: Nelson Lourenço / FUTURAMB®, M.Sc. Gestão Sustentável dos Espaços Rurais; Eng. do Ambiente
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Enquadramento
Grande parte dos solos das zonas rurais portuguesas apresenta carência de matéria orgânica, possuindo reflexos na fertilidade natural dos solos sendo a sua produtividade mantida, na grande maioria das vezes, com recurso a adubos de síntese, gerando diversos problemas ambientais. Com vista ao aumento dos teores de matéria orgânica, deverão ser valorizados os resíduos das explorações através de soluções tecnológicas e biológicas e de baixo investimento inicial, aplicando-se igualmente os produtos obtidos para enriquecimento do solo em matéria orgânica e nutrientes.
Solução tecnológica para o Espaço Rural: Vermicompostagem
A Vermicompostagem é um ramo da Vermitecnologia, sendo um processo biológico controlado que visa o tratamento e valorização da fracção orgânica dos resíduos sólidos, utilizando-se determinadas espécies de minhocas Epígeas como agente biológico. Utilizando-se densidades elevadas (1-16 kg m-2) e estimulando a acção principalmente de bactérias e fungos aeróbios, as minhocas digerem, oxidam, mineralizam e humificam os materiais que atravessam o seu tracto intestinal, produzindo o vermicomposto, rico em nutrientes, fauna microbiana e reguladores de crescimento vegetal.
Paralelamente, é possível fornecer minhocas para crescimento e multiplicação do processo de tratamento através da vermicultura, no qual o principal objectivo passa por aumentar, por unidade de tempo, as populações de minhocas existentes pelo que se utilizam densidades baixas (0,25-1 kg m-2). O vermicomposto é igualmente produzido, embora como objectivo secundário.
As espécies utilizadas em Portugal pertencem ao género Eisenia spp. – Eisenia fetida e Eisenia andrei. Ao atravessarem o seu tracto intestinal, os resíduos sofrem processos de oxidação e mineralização, sendo eliminados aproximadamente 60% em peso na forma de vermicomposto. Diariamente, uma minhoca adulta irá ingerir metade do seu próprio peso em resíduos e microrganismos.
Comparativo com outros processos de tratamento biológicos
Apesar de a vermicompostagem ser considerada um processo biológico como a compostagem ou a digestão anaeróbia, são processos marcadamente distintos (Quadro 1).
Resíduos que poderão ser tratados: características e utilização
Qualquer resíduo orgânico pode ser tratado por vermicompostagem, sendo possível em espaço rural identificar os seguintes fluxos de resíduos:
- Resíduos provenientes do ciclo das culturas onde se poderão incluir produtos hortícolas, frutícolas ou espécies aromáticas impróprias para consumo;
- Restolho;
- Folhagem seca ou verde diversa;
- Resíduos resultantes do desbaste, poda e abate de espécies arbóreas e arbustivas, nomeadamente troncos, ramagens e caules;
- Estrumes resultantes das explorações (aviário, ovino, caprino, equino ou suíno);
- Vegetação herbácea, incluindo espécies infestantes diversas.
Benefícios resultantes da aplicação do vermicomposto
Da aplicação do vermicomposto resultará:
- Aumento dos teores em matéria orgânica, com o consequente aumento de fertilidade e produtividade;
- Aumento dos processos de mineralização dos componentes orgânicos, fruto do aumento de diversidade microbiana;
- Aumento da capacidade de troca catiónica;
- Aumento da capacidade de retenção de água em solos arenosos e de circulação de água em solos argilosos;
- Promoção da ciclagem de nutrientes;
- Maior teor em macro e micronutrientes na planta;
- Criação de processos tampão a nível do solo.
Sistemas utilizados
Na vermicompostagem, e particularmente no espaço rural, existem três sistemas distintos que poderão ser utilizados, cada qual com a sua eficiência (Quadro 2).
Tratamento dos resíduos
Na vermicompostagem, os resíduos são adicionados por camadas ao sistema de tratamento, em alturas que não deverão ultrapassar 0,35 m em altura útil, não existindo necessidade em arejar os mesmos periodicamente, contrariamente à compostagem.
Características e aplicação do vermicomposto
O vermicomposto é classificado como um fertilizante (actuando no fornecimento de macro e micronutrientes), correctivo (actuando na correcção das características químicas e físicas do solo) e substrato (produção de viveiros ou suporte para plantas envasadas) orgânico.
A natureza da aplicação irá depender do tipo e variedade a cultivar, época de aplicação, características e propriedades do solo.
Bibliografia
Lourenço, N. (2010). Vermicompostagem, Gestão de Resíduos Orgânicos – Princípios, Processos e Aplicações. FUTURAMB, 1.ª ed. 404 pp.