UTAD: Congresso Internacional alerta para os novos contaminantes da água, ar e solo

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Os cerca de mil a dois mil novos poluentes que surgem todos os anos e as necessidades de deteção de novos indicadores e avaliadores de contaminação, como os fármacos e os agroquímicos, e de novas técnicas de requalificação ambiental, especialmente a nível da descontaminação dos solos e dos recursos hídricos, são os principais destaques do Congresso Ibero-americano de Contaminação e Toxicologia Ambiental (CICTA), que arrancou a 14 de julho na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

Um evento, que decorre até dia 17 de julho, e se assume como um dos principais fóruns de discussão do setor e dos poucos que estabelece interação entre a contaminação de água, do ar e do solo.

«O principal enfoque do CICTA é a deteção de contaminantes nos três meios, água, ar e solo, os mecanismos associados com a sua circulação e o efeito nos seres vivos», sintetiza o investigador do Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB), Rui Cortes.

O especialista em ecologia fluvial frisa ainda o «especial destaque concedido às substâncias emergentes», ou seja, contaminantes que apesar de apresentarem concentrações extremamente reduzidas no meio ambiente, têm um papel relevante na alteração do equilíbrio ecológico e na saúde humana.

A sétima edição do congresso é subordinada ao tema “Sustentabilidade Ambiental: Uma Visão para o Futuro”, e tem como objetivo refletir sobre a importância do uso sustentável dos recursos naturais e da preservação das espécies e respetivos habitats, de forma a não comprometer o futuro do planeta.

«O CICTA não se limita à caracterização dos contaminantes, procura antes meios efetivos para limitar os seus efeitos perniciosos: há várias comunicações que apresentam processos inovadores para reduzir o impacto no meio ambiente e proteger a biodiversidade», salienta Rui Cortes, em comunicado.

Um dos exemplos dessa investigação, desenvolvida no âmbito do CITAB e do projeto Sustainsys - Sistemas Agroflorestais Sustentáveis, financiado por fundos comunitários - é o estudo que avaliou o impacto de diferentes materiais utilizados em boxes de cavalo, na qualidade do ar interior das instalações, nomeadamente nas emissões de amoníaco e outros gases com efeito de estufa.

Além disso, vai ser apresentada uma comunicação sobre a injeção de CO2 sob o leito dos oceanos para reduzir o efeito de estufa e as alterações climáticas, bem como os riscos associados a essa técnica, e uma apresentação sobre a descontaminação dos solos, através da utilização de vegetação que retira os metais pesados, diminuindo o efeito tóxico, e possibilitando a recolonização vegetal.

Entre os principais receios dos investigadores na contaminação do ambiente constam os agroquímicos e os fármacos.

«Preocupam-nos o excesso de compostos orgânicos sintéticos (herbicidas e pesticidas), utilizados na agricultura, e que vão entrar na cadeia alimentar com efeitos de aumento ao longo dos níveis tróficos», revela Rui Cortes.

Também «as centenas de novos compostos que surgem anualmente ligados à indústria farmacêutica», quer na medicina humana, quer na medicina veterinária, são motivo de apreensão pelas consequências que «vão ter nos ecossistemas, especialmente quando são absorvidos pelos organismos vivos, uma vez que são sintetizados para ter uma ação biológica», acrescenta.

Todos os anos, cerca de 100 a 200 novos compostos orgânicos são processados e lançados na água. Os que aumentam ao longo da cadeia alimentar (bioamplificação) podem, a médio/longo prazo, provocar diversas doenças no homem, desde vários tipos de cancro, redução da fertilidade, aumento da obesidade e de problemas congénitos, até doenças neurodegenerativas, cuja frequência tem vindo a aumentar.

Índice de análise de grau de poluição apresentado

«Determinámos um índice que é capaz de integrar informação sobre numerosos produtos com impacto ambiental: desde a eutrofização [poluição por esgotos urbanos e industriais] aos contaminantes emergentes. O MELIS integra vários métodos e deteta quais os efeitos de metais pesados, produtos industriais, medicamentos, pesticidas, etc.», explica Rui Cortes.

O MELIS é um índice fiável para análise do grau de poluição dos cursos de água, desenvolvido por uma equipa multidisciplinar de CITAB, coordenada pelo especialista, e que deverá ser implementado em Portugal, nos novos Planos de Bacia Hidrográfica, e na Europa, pelos gestores e entidades públicas que avaliam e gerem os recursos de água.

«Não há tratamentos de água para estes contaminantes. Há cada vez mais compostos orgânicos sintéticos que, mal entram no meio aquático, se transformam em novos produtos de composição desconhecida. O mesmo produto pode assumir dezenas de formas diferentes e variáveis ao longo do tempo», explica o investigador.

Além da discussão de temas relacionados com a contaminação e toxicologia ambiental numa perspetiva integrada, o CICTA pretende divulgar as atividades de Investigação & Desenvolvimento desenvolvidas na Península Ibérica e nos países da América Latina.

O evento decorre até sexta-feira, em Vila Real, e toda a informação complementar pode ser consultada na página oficial do congresso, em www.cicta2015.pt.

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