Um pequeno inseto vai lutar contra uma das «piores plantas invasoras em Portugal»

Para combater a praga da acácia-de-espigas australiana, a Universidade de Coimbra vai libertar um pequeno inseto originário daquele país. Em Portugal é um combate inédito e mesmo na Europa é apenas a terceira vez que há «autorização para a libertação» de um «agente de controlo natural».

Vai ser a natureza a combater a natureza.

Ao fim de «mais de 12 anos de estudos, avaliações de risco e pedidos de autorização, passando o crivo de autoridades nacionais e europeias», investigadores de Coimbra obtiveram «autorização para a libertação do primeiro agente de controlo natural» para conter uma planta invasora em Portugal e «o terceiro na Europa», afirma a Universidade de Coimbra (UC), numa nota divulgada.

«A espécie-alvo do inseto, cuja libertação foi agora autorizada, é a acácia-de-espigas, um arbusto/pequena árvore australiana, que é uma das piores invasoras no litoral português», sublinha a equipa de investigadores envolvidos neste processo, que é integrada por especialistas do Centro de Ecologia Funcional (CEF) da UC, coordenado por Helena Freitas, e da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Coimbra (IPC).

Além de ameaçar a biodiversidade nativa, esta planta, que foi trazida do hemisfério sul, «altera o solo e a dinâmica do sistema dunar, diminui a produtividade em áreas florestais e acarreta custos elevados para o seu controlo».

A capacidade invasora desta planta está, «em larga medida, relacionada com a produção de uma grande quantidade de sementes, que se acumulam num banco de sementes muito numeroso, e que permanecem viáveis no solo durante muitos anos», explica Elizabete Marchante, investigadora do CEF.

A autorização agora obtida é "um passo de gigante numa Europa muito conservadora em relação ao controlo natural de plantas invasoras" e "abre portas para a utilização desta tecnologia no futuro, para o controlo de outras espécies de plantas invasoras", sustenta a investigadora da UC.

Este controlo natural, que consiste na libertação de um pequeno inseto australiano (Trichilogaster acaciaelongifoliae), «promove a formação de galhas (também conhecidas como bugalhos) nas gemas florais da acácia-de-espigas», impedindo a reprodução da invasora, explica Hélia Marchante, investigadora do CEF e do IPC, que trabalha com este inseto desde 2003.

Os especialistas realizaram testes em outras plantas (na África do Sul e em Portugal) e asseguram que «o inseto não afetará espécies não-alvo».

Este pequeno himenóptero, com dois/três milímetros, é «muito específico» e «precisa da acácia-de-espigas para completar o seu ciclo de vida».

Em Portugal, «foi testada uma lista de 40 plantas incluindo espécies nativas e espécies com interesse económico, e apenas se observou a formação de galhas em acácia-de-espigas, o que corrobora a grande especificidade deste organismo», realçam as investigadoras.

Com os últimos estudos, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia e comparticipado por fundos europeus, «prevê-se que as primeiras largadas de insetos» ocorram em outubro, tornando Portugal no segundo país da Europa (depois do Reino Unido) a autorizar a utilização de um agente de controlo natural para conter uma planta invasora.

Os métodos utilizados em Portugal para controlar acácia-de-espigas (controlo mecânico, por vezes, conjugado com controlo químico) têm-se revelado «ineficazes e muito dispendiosos», sobretudo porque «a germinação das sementes armazenadas no solo promove a rápida reinvasão das áreas intervencionadas».

O controlo natural é uma «importante ferramenta/tecnologia para a conservação da natureza», sendo «sustentável e amigo do ambiente, quando utilizados organismos bastante específicos, como é o caso deste inseto formador de galhas», conclui a UC.

Fonte: TSF 

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