Trigos híbridos em estudo no centro de experimentação agrícola do IPBEJA

Trigos híbridos em estudo no centro de experimentação agrícola do IPBEJA

Por: Manuel Patanita1, José Dôres1 e José Martins2
1Centro de Experimentação Agrícola do IPBeja; 2Agrovete SA.

Introdução

O Centro de Experimentação Agrícola (CEA) da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Beja é uma unidade de I&DE, criada em 1995, atualmente integrada no Departamento de Biociências, cuja missão é a investigação aplicada, experimentação e demonstração no âmbito da produção agrícola. A sua ação assenta em especial na execução de ensaios de campo, com a consequente recolha e análise de dados e divulgação de resultados. Os estudos em curso inserem-se no âmbito de projetos I&DE e de colaborações/parcerias com outras instituições e empresas.

A disponibilidade de água para rega decorrente do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva (EFMA), tem permitido a realização de novas culturas, bem como o aumento de produtividade de culturas que, tradicionalmente, se realizavam em regime de sequeiro.

Os cereais praganosos de sementeira outono-invernal, nomeadamente o trigo mole, é uma das espécies cuja produtividade pode ser substancialmente acrescida sempre que realizada em situações de regadio.

Também a qualidade industrial pode ser melhorada nestas situações, beneficiando ainda das condições ecológicas do sul de Portugal que poderão potenciar as características qualitativas da espécie.

Importa considerar que na cultura do trigo mole, como em qualquer outra, a alteração dos sistemas tradicionais de sequeiro para sistemas de regadio requer a utilização de genótipos com elevado potencial produtivo, que possam responder a condições ambientais mais favoráveis, e o ajustamento dos itinerários técnicos.

Os trigos híbridos podem constituir uma alternativa interessante para os sistemas de regadio, apresentando como principais características, as seguintes: a fertilidade da espiga, a capacidade de afilhamento, o desenvolvimento e eficiência de absorção de nutrientes do sistema radicular, a tolerância às doenças devidas a fungos, o elevado potencial produtivo e a qualidade industrial.

Em colaboração com a Agrovete SA, o CEA iniciou no ano agrícola de 2012-2013 o estudo de variedades de trigos híbridos de origem francesa, com o objetivo de analisar a sua adaptação às condições ecológicas da região, rendimento em grão e sua qualidade para panificação.

Material e Métodos

O ensaio realizou-se na Quinta da Saúde em Beja, num solo de “Barro calcário”, numa área regada por um «center-pivot». A gestão da rega foi da responsabilidade do Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio (COTR).

Foram colocadas em ensaio sete variedades híbridas (‘H 4243-559’, ‘H 5519-576’, ‘H 5669-579’, ‘Hyxpress’, ‘Hystar’, ‘Hyxtra’ e ‘Hyxo’) e quatro variedades convencionais (‘Exotic’, ‘Lennox’, ‘Artur Nick’ e ‘Valbona’), as duas últimas como testemunhas.

Utilizou-se um delineamento experimental com quatro blocos casualisados, tendo as parcelas experimentais a área de 9,6 m2 (1,2 × 8,0).

Os itinerários técnicos do ensaio indicam-se no Quadro 1, salientando-se a reduzida densidade de sementeira nas variedades híbridas (150 sementes/m2) em relação às variedades convencionais utilizadas como testemunha (350 sementes/m2). O precedente cultural foi girassol e a preparação do solo para a sementeira foi realizada com grade de discos.

p25 qua1

Resultados

As condições climáticas exercem uma influência determinante no comportamento das culturas, tanto do ponto de vista produtivo, como da sua qualidade. Para melhor se compreender a resposta das plantas aos principais elementos do clima apresenta-se o registo diário da precipitação e da média das temperaturas máximas e mínimas de novembro de 2012 a junho de 2013 (Figura 1). Entre a sementeira e a colheita (13 de dezembro de 2012 e 10 de julho de 2013, respetivamente), registaram-se 272 mm de precipitação, tendo ocorrido 173 mm no mês de março. A rega iniciou-se a 17 de abril e terminou a 1 de junho, com um total de 120 mm.

p25 fig1 2

Na Figura 2 podemos observar a representação gráfica da extração de água do solo pelas plantas a diferentes profundidades e a variação do armazenamento no perfil (0 a 60 cm) ao longo do ciclo cultural.

Verifica-se que a zona de maior extração foi até 30 cm de profundidade e o armazenamento de água do solo manteve-se sempre acima do limite mínimo (défice de gestão permissível – zona rosa). Deste modo, a gestão da rega permitiu manter o solo com um volume de água disponível (zona verde) que satisfez as necessidades das plantas, não constituindo fator limitante.

As variedades de trigo híbrido em estudo mostraram um ciclo biológico mais longo que as variedades convencionais testemunha, facto que se pode comprovar pela observação da Figura 3, na qual é visível um estado de desenvolvimento mais avançado de duas parcelas contíguas assinaladas no centro da figura.

A realização da sementeira a 13 de dezembro pode ser considerada tardia para a sementeira destas variedades, prejudicando o afilhamento e o período do enchimento do grão que, ao ser atrasado, ocorrerá com temperaturas mais elevadas.

Importa também referir que as variedades híbridas apresentaram plantas altas (Figura 4) e que mostraram, em relação às variedades testemunha, maior tolerância a doenças devidas a fungos.

p25 fig3 4

Os resultados obtidos indicam que quatro das sete variedades híbridas (‘H 5669-579’, ‘Hyxpress’, ‘Hystar’ e ‘Hyxtra’), apresentaram um elevado potencial produtivo, superior ao das variedades convencionais (Quadro 2). No que respeita a características qualitativas, destacam-se os reduzidos teores de proteína, provavelmente, associados ao elevado volume de precipitação que poderá ter conduzido a perda de azoto por lixiviação. Neste aspeto, foram as variedades com maior produção de grão que mostraram menores teores de proteína, facto que poderá ter sido devido ao efeito de diluição do azoto.

p25 qua2

Tendo em conta a irregularidade interanual do clima mediterrânico, que justifica a realização plurianual de ensaios de campo, bem como as condições particulares do ano agrícola de 2012-2013 e a tardia data de sementeira, importa continuar com o estudo a fim de que se possam tirar resultados mais conclusivos.

Referências
COTR, 2013. Sistema Agrometeorológico para a Gestão da Rega no Alentejo (SAGRA). Centro Operativo e de Tecnologia de Regadio (COTR), Quinta da Saúde, Beja www.cotr.pt

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