Terra Futura é a nova Agenda de Inovação para a Agricultura 20 | 30

A ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, apresentou publicamente, na conferência "Portugal no Futuro, Uma Visão Estratégica para Agricultura, Alimentação e Território, a Agenda da Inovação – Estratégia da Agricultura para a próxima década", que se realizou na Agroglobal, a nova Agenda de Inovação para a Agricultura 20 | 30 - Terra Futura.

Agroglobal 2020

Texto Sofia Cardoso

Segundo o Ministério da Agricultura, a nova Agenda de Inovação para a Agricultura foi construída a pensar no futuro, percorrendo o país, ouvindo e debatendo com produtores agrícolas, associações setoriais e de desenvolvimento local, empresários, técnicos, docentes, autarcas, organismos e investigadores.

«Nós não vamos à Agroglobal ver o que há de novo, nós vamos à Agroglobal ver o que podemos fazer de novo»

Agroglobal 2020

Na sessão de abertura do evento, o presidente da Câmara Municipal do Cartaxo, Pedro Ribeiro, e Joaquim Pedro Torres, responsável pela Agroglobal, agradeceram o apoio ao evento. Seguiu-se a intervenção do primeiro-ministro António Costa, que começou por agradecer aos agricultores a sua resiliência durante a pandemia da Covid-19. «Para travar a pandemia, muitos tivemos que parar, mas outros não puderam parar e, pelo contrário, mantiveram-se em plena atividade, entre estes, o mundo agrícola», começou por apontar. «Se nada nos faltou na nossa alimentação no dia a dia, foi porque os agricultores asseguraram que, do prado ao prato, nada nos tivesse faltado».

António Costa aproveitou o momento para agradecer a realização da Agroglobal 2020 em formato online, considerando que o evento é «fundamental» para o setor agrícola. «A Agroglobal tem uma característica muito importante: é um evento de profissionais para profissionais, onde estes vêm para conhecer as soluções para fazerem ainda melhor aquilo que já fazem», reforçou. «Nós não vamos à Agroglobal ver o que há de novo, nós vamos à Agroglobal ver o que podemos fazer de novo. E o evento é exatamente isso, um grande motor para a inovação no mundo agrícola», concluiu.

O primeiro-ministro destacou tudo o que o setor agrícola tem feito pelo país, evidenciando as exportações agroalimentares e afirmando que o investimento na inovação é «crítico para o futuro da agricultura», pois esta «não é uma atividade do passado», muito pelo contrário. «Nós temos que produzir mais num contexto em que os recursos escasseiam e que a alterações climáticas nos colocam desafios muito particulares. Somos dos países da União Europeia que mais iremos sofrer com as últimas, nomeadamente a escassez da água, a erosão da costa e os incêndios florestais», acredita. «Não podemos ver a agricultura e o ambiente como inimigos, mas sim como aliados, pois a agricultura dá um contributo essencial para a regulação das alterações climáticas e as últimas são indispensáveis para a subsistência da agricultura».

Durante a sua intervenção inicial, o representante do governo acrescentou, ainda, que devemos reforçar a resiliência europeia e que é importante «aumentar a autonomia estratégica». Segundo António Costa, aliar essa resiliência à transição dupla digital e climática é «um desafio ganhador e que reforça o sentido de futuro desta atividade». 

Agenda de Inovação para a Agricultura 20 | 30 - Terra Futura 

Agroglobal 2020

Seguiu-se Maria do Céu Antunes, titular da pasta da Agricultura, que apresentou a nova Agenda de Inovação para a Agricultura 20 | 30, denominada de Terra Futura. 

«Esta é uma Agenda que fazia sentido em outubro, quando tomamos posse. Agora, neste contexto pandémico, compreendemos que a agricultura tem um papel predominante para garantir o nosso presente e, acima de tudo, garantir o nosso futuro», começou por evidenciar a ministra da Agricultura, que voltou a agradecer a resiliência dos agricultores e produtores durante o pico da pandemia sanitária. 

Sobre a criação do documento, a ministra apontou que a necessidade surgiu «porque percebemos que, além das tendências globais, que também afetam o nosso país, como a crescente digitalização, a alteração dos padrões de consumo, mas também as questões ligadas à sustentabilidade do nosso planeta, nós também conseguimos perceber, isto num contexto pandémico, que os desafios são ainda maiores do que julgamos inicialmente», evidenciou. Como tal, após uma observação generalizada dos problemas, Maria do Céu Antunes acredita que é necessário «alinhar e concertar estes desafios, não para fazer uma revolução, mas sim as mudanças necessárias ao setor».

Além de se focar nos desafios globais para criar a "Terra Futura", o Ministério da Agricultura também se debruçou sobre os desafios que se colocaram inicialmente a nível interno, nomeadamente o combate às alterações climáticas e a mitigação dos seus efeitos; as desigualdades entre interior e litoral; as questões de demografia, como o envelhecimento da população; e, por outro lado, as questões da digitalização e criação de valor. Além dos objetivos nacionais, não foram esquecidos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU). O foco passou por conjugar o âmbito nacional e internacional. 

A nova Agenda de Inovação para a Agricultura tem cinco intenções estratégicas com cinco metas. Foram, ainda, criados quatro pilares e identificados os seus destinatários. «Nós não queremos que esta seja uma Agenda exclusiva para o Ministério da Agricultura e os seus organismos, mas queremos juntar outras áreas de governação. Esta é uma Agenda para todos», destacou a ministra. Foram, também, criadas 15 iniciativas emblemáticas e 71 linhas de ação.

As cinco intenções estratégicas dividem-se na promoção da saúde, tendo por base a confiança e a segurança numa cadeia alimentar forte; na promoção da inclusão, com políticas públicas que ajudem a inverter aquilo que é uma tendência de envelhecimento; na promoção de melhores rendimentos, para sermos mais competitivos globalmente, aumentando o nível de vida dos agricultores; na promoção de um futuro melhor, que seja construído numa arquitetura mais verde e mais responsável na sustentabilidade dos recursos naturais e endógenos; e na promoção da inovação, que abrange todo os tipos de conhecimento, sendo esta dimensão transversal a todas as outras.

Já em relação às cinco metas, no âmbito da saúde a Agenda tem como intenção aumentar em 20% o nível de adesão à Dieta Mediterrânica. Em relação à inclusão, é objetivo instalar 80% dos novos jovens agricultores em territórios de baixa densidade. Nos rendimentos, o Ministério da Agricultura planeia aumentar em 15% o valor da produção agroalimentar e, em relação ao futuro, é essencial que mais de metade da área agrícola se converta em regimes de produção sustentável reconhecidos. No que toca à inovação, Maria do Céu Antunes aponta que a intenção passa por aumentar em 60% o investimento em investigação e desenvolvimento. 

«Depois, aquilo que nos propomos fazer é ligar aos grupos destinatários essas mesmas metas», esclareceu a ministra da Agricultura. Os quatro grandes pilares são a Sociedade, sendo os destinatários os Cidadãos, que devem estar conscientes do papel da sua alimentação na promoção da saúde e bem-estar; o território, sendo os destinatários os agentes de território que protegem o planeta e valorizam os recursos naturais; a Cadeia de Valor, sendo os destinatários os produtores inovadores e competitivos à escala global; e o Estado, sendo os destinatários os agentes de políticas públicas que apoiam a agricultura e promovem o seu desenvolvimento. 

Sobre as 15 iniciativas emblemáticas, estas inserem-se nos pilares apresentados anteriormente. No âmbito do pilar da Sociedade, surgem a Alimentação Sustentável e a iniciativa Uma Só Saúde, para promover a sanidade vegetal e animal. 

No âmbito do pilar do Território, surge, em primeiro lugar, a Mitigação às Alterações Climáticas, que passará pela redução das emissões de gases com efeito de estufa e o incremento do sequestro carbono. Além disso, é outra iniciativa a Adaptação às Alterações Climáticas, que passará pelo aumento da resiliência e a capacidade da adaptação. Será também promovida a Agricultura Circular, que passará pela produção de bens, processos e serviços através da valorização dos subprodutos, reduzindo a pressão sobre os recursos naturais, e iniciativa dos Territórios Sustentáveis, onde será aumentada a área de produção integrada e da agricultura biológica, para podermos fazer uma agricultura cada vez mais ligada à sustentabilidade. A Revitalização das Zonas Rurais é a última iniciativa dentro deste pilar e vai de encontro ao trabalho realizado até então. 

Já em relação ao pilar da Cadeia de Valor, a Agricultura 4.0 surge como foco inicial, sendo essencial para o setor promover a transformação digital. Outra das iniciativas é a Promoção dos Produtos Agroalimentares Portugueses, que se irá traduzir na internacionalização e equílibrio da balança agroalimentar, e a Excelência da Organização da Produção, que consiste no reforço da organização para reforçar a posição dos agricultores portugueses na cadeia de valor. O último ponto do pilar foca-se na iniciativa da Transição Agro Energética, que passa pela descarbonização do setor agroalimentar e pela redução de custos e aumento de rendimentos. 

Entre as iniciativas da Terra Futura no âmbito do pilar do Estado, encontra-se a Promoção da Investigação, Inovação e Capacitação. Maria do Céu Antunes defende que «precisamos de conhecer os problemas dos agricultores» e, consequentemente, «produtir inovação, produzir conhecimento e acrescentar valor». Para tal, foi criada uma Rede de Inovação, que é estruturada por 24 pólos, sendo estes unidades que criam valor para a produção nacional. Esta rede irá corresponder territorialmente ao que são as necessidades do país. Ainda dentro deste pilar, será criado um Portal Único da Agricultura.

«Entendemos que a relação com o agricultor e com o produtor tem que ser mais simples e mais célere, porque não podemos ficar à espera. O futuro é hoje e não é daqui a um mês ou dois e, às vezes, mais», defende. Como tal, este Portal surge como algo único para alterar esta dinâmica. Por último, deve existir uma Reorganização do que existe até então. «Queremos com esta Agenda criar mais eficiência e melhorar as respostas aqueles que são os nossos clientes, os agricultores», concluiu.

Maria do Céu Antunes aprofundou então a nova Rede de Inovação, que tem como objetivo ser coerente, moderna e orientada para as necessidades do setor. O foco passa por criar uma estrutura de proximidade e promover dinâmicas locais e regionais, modernizando as infraestruturas do Ministério e maximizando as sinergias com outras instituições do ecossistema de inovação.

Existirá, assim, uma articulação com laboratórios colaborativos, universidades, politécnicos e centros de competências, como o Colab4Food, COTHN, Smart Farm Colab, COTARROZ, INOVMILHO, FeedInov, Centro Nacional de Competências para as Alterações Climáticas do Setor Agroalimentar, CEREALTECH, InnovPlant Protect e Dieta Mediterrânica, entre outros.

O lema da Agenda Terra Futura passa por "Fazer crescer a Agricultura, inovando-a e entregando-a à próxima geração". 

«Temos que assegurar que as nossas exportações agroalimentares têm o retorno necessário»

O ministro da Agricultura espanhol, Luís Planas, foi o terceiro interveniente do evento, realçando a importância da Agroglobal para o futuro. «Este é um momento de resistência, é um momento de dificuldade. E, neste momento, a organização da Agroglobal teve a coragem de realizar esta sessão», evidenciou. 

«Neste momento, existem duas grandes lições face à pandemia sanitária», acredita o governante. «A primeira lição é que a agricultura, a agropecuária, a indústria agroalimentar e a distribuição estiveram na primeira linha de combate. A importância do setor agroalimentar deveria ser evidente, mas tal não acontecia até então. Isto significa que o nosso agroalimentar funciona bem e devemos continuar a trabalhar para o futuro». Nesse âmbito, Luís Planas acrescentou que a Agenda de Inovação Terra Futura é «extremamente interessante e em linha com muitos trabalhos que estão a ser realizados em Espanha e na União Europeia», felicitando o Ministério da Agricultura.

O ministro da Agricultura espanhol também destacou a importância da Política Agrícola Comum (PAC) e expôs o que considera serem os grandes desafios para o futuro da UE. «Primeiro, a rentabilidade empresarial. Temos que assegurar que as nossas exportações agroalimentares têm o retorno necessário para continuar a atividade do nosso setor agroalimentar», começou por apontar.

«Em segundo, a sustentabilidade ambiental, que é um tema fundamental. Estamos a transitar para uma economia circular que, em vez esbater os recursos naturais, procura recupera-los. Para mim, este desafio surge mais como uma oportunidade e não uma limitação», defendeu Luís Planas. Neste âmbito, o titular da pasta da Agricultura espanhola abordou, ainda, a temática do regadio, muito importante para os países da Península Ibérica. Luís Planas defende que o futuro passa pelo «regadio eficiente» e que nos últimos anos fomos capazes de «aproveitar cada gota de água» a partir das novas tecnologias. 

«O último desafio que vamos enfrentar é a situação demográfica, que passa pelo envelhecimento», explicou, afirmando que devemos dar oportunidades aos jovens e apostar nos respetivos.

Após as intervenções dos oradores, seguiu-se um debate entre Francisco Avilez, do Instituto Superior de Agronomia, António Costa Silva, responsável pelo Plano de Recuperação Económica, Miguel Poiares Maduro, do Fórum Futuro Gulbenkian e Daniel Traça, da Universidade Nova de Lisboa. Pode visualizar a sessão no vídeo abaixo.

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