Por: Anpromis
Estiveram reunidos, no passado dia 12 de fevereiro, durante o 7º Colóquio Nacional de Milho, realizado no Teatro Municipal Pax Julia, em Beja, cerca de 550 participantes, oriundos de todo o país, para discutirem os principais temas que afetam a cultura do milho em Portugal.
A realização desta reunião anual é sempre um momento de particular importância para a Anpromis, uma vez que constitui uma oportunidade de concentrar os produtores nacionais de milho e discutir os temas mais relevantes para esta fileira. De facto, “os novos mercados mundiais de milho”, foi um dos temas em destaque que contou com a presença de Lucílio Rogério Alves, um dos mais conceituados analistas do mercado de cereais no Brasil, país que, recordamos, é atualmente o terceiro maior produtor mundial de milho e o segundo exportador deste cereal à escala mundial, com cerca de 20 milhões de toneladas. Para nos falar do mercado do leste europeu, contámos com a presença de Jean-Jacques Hervé, especialista no mercado de cereais da Ucrânia, país considerado por muitos como “o novo celeiro da Europa” e que é o terceiro maior exportador mundial de milho (18 milhões de toneladas). Durante estas duas apresentações, pudemos constatar que um dos aspetos que caracteriza nos últimos anos o mercado mundial de cereais é a acentuada e crescente volatilidade das suas cotações, que depende não só da variação climatérica nas diversas zonas de produção mas também, e principalmente, da influência dos especuladores financeiros.
De facto, a crescente aposta de investidores internacionais na aquisição de matérias-primas agrícolas, acentuaram de sobremaneira a volatilidade das cotações dos cereais nas últimas campanhas agrícolas, dificultando a tomada de decisão não só de quem vende, mas de igual modo de quem tem que se abastecer.
É precisamente essa volatilidade dos preços que explica a variação da origem dos países que exportam milho para Portugal, de ano para ano. Em 2009/2010, a França, o maior produtor de milho grão da União Europeia, era o principal exportador de milho para o nosso país (647 mil toneladas). Já em 2010/2011, o Brasil ocupou o primeiro lugar (638 mil toneladas) e na campanha seguinte o nosso principal fornecedor foi a Ucrânia (913 mil toneladas), que tudo indica, continuará a sê-lo em 2013/2014.
A variação da cotação do milho nos mercados internacional e nacional é, sem dúvida, uma das principais condicionantes da produção de milho grão, mas não é a única. Também o surgimento de novas áreas de regadio pode condicionar, de forma positiva, a expansão da produção de milho no nosso país.
O regadio é essencial para o desenvolvimento da nossa agricultura, nomeadamente através da exploração do milho na região do Alentejo, onde o projeto do Alqueva se revela como uma importante oportunidade. Não é exagero algum quando Francisco Gomes da Silva, Secretário de Estado das Florestas e do Desenvolvimento Rural, afirmou no 7º Colóquio Nacional de Milho que, sem regadio, não teremos agricultura competitiva e que o milho foi um dos responsáveis pela evolução do sistema de regadio, tal como hoje o conhecemos.
Por outro lado, e tendo em conta alguns dados referidos por Gabriela Ventura, Gestora do PRODER, o investimento no Alqueva representa quase 40% do investimento na região do Alentejo. Dos 869 milhões de euros investidos, 530 milhões de euros representam investimento privado, dos quais cerca de 86% corresponde a investimento agrícola e agroindustrial e está quase exclusivamente associado à transformação das produções agrícolas para culturas de regadio.
Se, até 2011, os investidores da região privilegiavam o olival e a vinha, hoje o investimento faz-se essencialmente nas frutas, hortícolas e cereais. Metade do investimento em cereais é mesmo do setor do milho, que vale atualmente mais de 22 milhões de euros de investimento na região do Alqueva, o que revela que esta é uma fileira em crescimento, atrativa para os investidores.
Este acentuado investimento na zona de Alqueva tem surtido resultados consideráveis. Atualmente, o milho ocupa 18% da área de regadio no Alqueva, tendo aumentado no espaço de duas campanhas 142%, passando de 2.714 ha em 2011, para os atuais 6.582 ha, em 2013.
A expansão da produção de milho e o projeto do Alqueva têm assim tido um impacto transversal na economia e competitividade do Alentejo, contribuindo fortemente para o desenvolvimento sustentando desta região.
O enquadramento político pode, sem dúvida, determinar o sucesso da produção de milho e a prova disso mesmo está nos números. Entre 2004, ano anterior ao desligamento das ajudas diretas à produção, e 2013, a produção nacional de cereais sofreu um considerável decréscimo (menos 234 mil hectares). O milho para grão perdeu neste período 52 mil hectares, enquanto que o milho para silagem sofreu um decréscimo de 14 mil hectares. Estes dados evidenciam a clara influência que as medidas de política agrícola podem ter nas decisões dos produtores agrícolas, condicionando de sobremaneira as suas opções produtivas.
Mais positivos são os dados das últimas campanhas agrícola. Entre 2010 e 2013, a tendência de quebra na área de milho foi contrariada, tendo-se verificado um aumento de 25% na área cultivada com milho grão em Portugal, que passou de 81.568 hectares para 101.766. É importante refletirmos sobre estes números. Este significativo aumento não só evidencia o esforço de investimento efetuado pelos produtores nacionais, como a competência e eficiência dos mesmos.
Com mais de 50 mil hectares, a Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte é a que possui a maior área total de milho, mas foi no Alentejo que se verificou o maior aumento de área entre 2010 e 2013 (76%), tendo-se chegado aos 22.794 hectares. É também nesta DRAP que se encontram as explorações de milho de maiores dimensões, com uma área média de 26,20 hectares.
De uma forma mais global, a conjuntura mundial para a produção de milho grão em Portugal tem-se revelado extremamente favorável, uma vez que nos últimos quatro anos aumentou em cerca de 50%, tendo alcançado as 932 mil toneladas em 2013.
Está mais do que provada a importância que a cultura do milho tem para a agricultura e para a economia nacional, assim como o empenho dos produtores que, face às constantes oscilações de preços, são obrigados a procurar ganhos de eficiência em todas as variáveis que constituem o preço final. Por esta e outras razões, é fundamental continuar a apoiar os produtores de milho, que têm feito um esforço muito significativo de investimento nos últimos anos, altura em que o acesso ao crédito foi, e continua a ser, extremamente condicionado e oneroso para quem a ele recorre.
O milho é de facto uma fileira com futuro, mas é necessário oferecer aos produtores portugueses garantias para que possam continuar a apostar neste setor com segurança e determinação.
Numa altura em que, no âmbito da política agrícola comum para o período 2014/2020, estão a ser tomadas decisões nacionais extremamente relevantes, é fundamental que estas sejam devidamente ponderadas de forma a não inviabilizar os setores e as fileiras mais produtivas da nossa agricultura, como é o caso do milho.