SafeApple - Maçã com resíduos zero ao nível de aplicações em pós-colheita

A questão da segurança dos produtos hortofrutícolas tem despertado grande interesse nos últimos anos, especialmente no que se refere à utilização de produtos químicos de síntese, quer no campo, quer durante a conservação pós-colheita, e à presença dos seus resíduos nos alimentos. Os consumidores procuram cada vez mais produtos saudáveis e seguros, demonstrando interesse em conhecer a origem do alimento, o modo como foi produzido e os impactos ambientais que gerou.

SafeApple

Por: Claudia Sánchez, Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV, I.P.).

Existe, também, uma crescente preocupação com as consequências, tanto ao nível da saúde pública como da poluição ambiental, resultantes da utilização excessiva de químicos. A isto acrescenta-se a grande dificuldade de exportar para países com legislações muito rigorosas em relação aos resíduos mínimos permitidos.

As elevadas exigências dos mercados, nomeadamente o europeu, têm valorizado cada vez mais os modos de produção sustentáveis e seguros, que fazem uso dos recursos naturais de forma eficiente e equilibrada, conservando assim as características de qualidade do produto final.

Neste contexto, verifica-se uma necessidade de mudança de atitude no sentido de procurar soluções alternativas aos químicos, que permitam incrementar a oferta de produtos vegetais frescos de qualidade, com resíduos mínimos ou zero.

A cultura da maçã em Portugal e no mundo

A maçã é uma cultura de grande importância económica a nível mundial. Devido às suas características qualitativas e sensoriais, é um dos frutos que maior consumo tem em todo o mundo. Segundo os últimos dados da FAOSTAT, a produção mundial total de maçã em 2018 foi de cerca de 86 milhões de toneladas, produzidas numa área estimada de 5 milhões de hectares.

A China lidera a produção com aproximadamente 50% de toda a produção mundial de maçãs, seguida pelos Estados Unidos com cerca de 5,2%. A produção europeia representa 23% da produção mundial (FAOSTAT, 2018).

Em Portugal, a produção média estimada de maçã é de 265 000 t/ano, sendo a principal cultura permanente em território continental, junto com a laranja e seguida pela pera. Os últimos dados consolidados, indicam que em 2018 a produção rondou as 267 440 toneladas (GPP, 2019), representando 0,3% da produção mundial, e as previsões agrícolas em 2019 apontavam para um aumento significativo na produção de maçã (mais 35% face à campanha anterior), resultado de condições meteorológicas favoráveis (INE, 2019).

Estima-se que nos próximos anos a produção de maçã irá aumentar, devido especialmente à entrada em produção de novos pomares. Atualmente existem no país quatro indicações geográficas protegidas (IGP): maçã da Beira Alta, maçã da Cova da Beira, maçã de Alcobaça e maçã de Portalegre.

A maçã de Alcobaça representa 25% do total da produção nacional e, contrariamente ao que se poderia presumir, não se trata de uma variedade de maçã, nem de maçã produzida exclusivamente no concelho de Alcobaça.

Trata-se de um produto nacional, produzido nos concelhos do litoral Oeste e, atualmente, nove variedades de maçã podem ser certificadas nesta IGP: ‘Royal Gala’, ‘Golden Delicious’, ‘Casa Nova’, ‘Red Delicious’, ‘Fuji’, ‘Granny Smith’, ‘Jonagold’, ‘Reineta’ e ‘Pink’.

Investigação e desenvolvimento - SafeApple

A maçã de Alcobaça tem uma elevada procura no mercado nacional e internacional (APMA, 2020) devido à sua elevada qualidade e ao sabor característico, resultante das condições edafoclimáticas (solo, clima, radiação solar, composição do ar e relevo) da respetiva região de produção. Assim, com o intuito de conservar estas características claramente e positivamente diferenciadoras, foi criado, no âmbito do PDR 2020, o Grupo Operacional (GO) “Safe Apple – Conservação da Qualidade da Maçã de Alcobaça: Objetivo resíduos zero”, cujo objetivo principal consiste na conservação a longo prazo dos atributos de qualidade da maçã, visando a obtenção de frutos com resíduos zero ao nível da aplicação de produtos químicos no período pós-colheita.

O GO é constituído por 11 parceiros: Instituo Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV, I.P.) (coordenador); Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), Instituto Superior de Agronomia (ISA), Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN), Clube da Maçã de Alcobaça (APMA), Cooperfrutas CRL, Campotec SA, Frubaça CRL, Granfer CRL, Soati LDA e Frutalcoa LDA.

No âmbito deste projeto pretende- -se, por um lado, avaliar a influência de diversas técnicas culturais e tratamentos de pré-colheita, na resistência do fruto às alterações fisiológicas e patológicas durante a conservação; e, por outro lado, aplicar metodologias de conservação e tratamentos de pós-colheita para a conservação de longa duração dos frutos.

Continua

Nota: Artigo publicado originalmente na Agrotec 36

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