ROMÃ: A mudança de paradigma

ROMÃ: A mudança de paradigma

Por: Cátia Monteiro

Bom solo, bom tempo e água em abundância. Eis os três ingredientes que abençoam hoje a agricultura do Alentejo. Onde antes existiam dúvidas, hoje existem certezas. A agricultura do Alentejo está a mudar e é preciso acompanhar essa mudança. O colóquio “Desafios para agricultura portuguesa - o caso da romã", realizado no dia 4 de fevereiro de 2013, em Aljustrel, mostrou aos presentes que por terras alentejanas a cultura de sequeiro foi destronada.

O Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva trouxe uma nova tonalidade aos campos do Alentejo. A água agora abunda e por isso é possível ambicionar outras culturas, outros desafios.

É o caso da romã, um fruto que exige temperaturas elevadas na época de maturação dos frutos, mas que necessita ao mesmo tempo de humidade e frescura ao nível das raízes para produzir frutos de boa qualidade.

No nosso país existem poucos pomares estremes de romãzeira, o usual é existirem apenas árvores dispersas em solos de fraca qualidade, o que justifica a necessidade de importação a países como Espanha e Turquia.

Contudo, essa realidade está a mudar. Ainda é cedo para dizer que Portugal pode ser autossuficiente no que diz respeito à comercialização da romã, mas essa é uma meta que se pretende traçar.
João Pacheco, um jovem agricultor residente em Beja é o pioneiro no cultivo deste fruto. Muitos foram aqueles que o apelidaram de "maluco", poucos foram os que o incentivaram a seguir em frente.

Até ao momento, não existia nenhuma fileira criada e o conhecimento era mais escasso que o próprio fruto produzido no país. Os primeiros tempos foram de aprendizagem, com constantes viagens ao país vizinho, para aprender com os produtores espanhóis. Depois de palestras e visitas ao terreno, João Pacheco, decidiu investir.

Hoje, tem cerca de 7 hectares de terra plantados com esta árvore, cujo fruto muitos acreditam atrair dinheiro.

Por detrás deste investimento, está a candidatura a um programa para jovens agricultores, cujos fundos advêm do PRODER.

«A medida do PRODER  para os jovens agricultores contempla um prémio à instalação de 30 mil euros e 60% do investimento comparticipado, o que significa que se fizermos um investimento de 75 mil euros os 40% que temos que pagar serão exatamente os 30 mil que recebemos, pelo menos no meu caso, o que leva a um risco muito controlado. No meu caso concreto o processo foi rápido apesar de alguma burocracia», explica o pioneiro no cultivo da romã em Portugal.

A procura de mercado será a fase mais complicada para uma fileira que ainda não está consolidada, mas para já o agricultor quer conhecer melhor a cultura, ver como vai reagir a pragas, a doenças e às condições edafo-climáticas  e só depois encetará contactos para saber como e onde pode escoar o produto.

«Nesto momento já existem mais projetos de outros agricultores a decorrer e temos tido várias conversas em que o caminho será o de associativismo, penso que depois será muito mais fácil a parte de procura de mercado pois já existirá dimensão para isso».

João Pacheco tem recebido telefonemas de curiosos e interessados nesta cultura, mas não teme que esta possa deixar de ser rentável. O agricultor tem os pés bem assentes na terra e defende que «a romã é como qualquer outra moda», que sabe que será rentável nos primeiros anos e depois, tal como tantas outras culturas, deixará de ser tão rentável.

«Da concorrência não tenho medo pois o objetivo passará sempre por haver associativismo, se cada um caminhar pelo seu próprio pé ficaremos todos a meio caminho, se caminharmos juntos e tivermos dimensão, todos podemos lucrar de uma forma justa em que os agricultores serão os beneficiados».
Pela frente João Pacheco tem mais dois anos até começar a ver o retorno do investimento. Até lá, continuará a deitar as flores que crescem ao chão, para que não façam vergar a árvore, nem o negócio.

Práticas Culturais

Plantação

A melhor altura para realizar a plantação é a época compreendida entre o início de janeiro e a entrada da primavera, ou seja, na época de repouso vegetativo da planta. Sendo que nos meses de janeiro e fevereiro, se obtêm melhores resultados.

  • Gradagem: 20/40 cm de profundidade com 1 Ripagem na linha;
  • Camalhões: os camalhões são feitos com nivelador de modo a evitar o problema da asfixia radicular;
  • Adubo de libertação lenta;
  • Colocar tutor e tubo de proteção para a planta;
  • No segundo inverno pode ser passado um herbicida na linha;
  • Nos primeiros dois anos não é aconselhável o uso de herbicidas residuais.

Compasso: 6 x 4 m, 6 x 3 m, 5 x 3 m, 5 x 2.5 m.
O compasso de 6 x 4 m é o que melhor garante a iluminação, permitindo a coloração dos frutos e também o manuseamento fácil dos equipamentos de cultivo.

Rega

Sistema de rega gota a gota com dois gotejadores nos primeiros anos e quatro gotejadores por árvore a partir do 5º ano de vida do pomar. Desde 10 até 30 m3/dia.
Quantidade total aproximada de água por campanha: 4.000 m3/ha.

Poda

A poda realiza-se no final de janeiro e serve para facilitar a aplicação de tratamentos fitossanitários, arejar e iluminar a copa, e retirar a madeira velha e toda a que apresente doenças ou seja alvo de pragas.

Pragas

As pragas mais comuns são os afídios/ piolhos-de-planta (Aphis punicae) e a mosca do mediterrâneo (Ceratitis capitata Wied).

As doenças mais abundantes são a podridão do fruto e o crivado.

O aparecimento do piolho acontece em meados do mês de maio. No Alentejo tem sido possível combater esta praga através da luta biológica.

Sazonalidade da mão de obra

  • Mondas de fruto – Primeira semana de junho e final ou início do mês seguinte;
  • Podas de inverno –janeiro e fevereiro;
  • Podas de verão – junho e julho;
  • Apanha do fruto – setembro.

Variedades mais populares

Mollar de Elche: fruto de grande dimensão; apresenta bagos com uma coloração menos intensa que as restantes, embora seja bastante admirada pelos apreciadores do fruto, já que é adocicada e as sementes são bastante reduzidas, logo, mais comestíveis.
Wonderful: romã de colheita tardia (entre outubro a novembro).Os bagos são ligeiramente ácidos e contêm sementes grandes e semi-duras, o fruto tem uma cor intensa.
EMEK: apresenta sementes macias e um sabor adocicado. A sua colheita é feita em setembro.
Angel Red: apresenta sementes muito macias, comestíveis, e um sabor adocicado. Contém uma quantidade de sumo superior a todas as outras e apresenta uma coloração intensa.
Mollar de Valencia: Fruto de grande dimensão, bagos grossos com sementes muito reduzidas. O preço de venda desta variedade é bastante elevado.

Variedades que estão livres de royalties: Mollar de Elche, Wonderful e Mollar de Valencia.

Em 2015 entrará no mercado a Acco, também livre de royalties.

Produtos derivados da romã:

  • Bagos: frescos; desidratados; congelados;
  • Sumos e néctares;
  • Marmeladas;
  • Vinhos;
  • Complementos nutricionais;
  • Produtos de saúde e beleza (através dos extratos);
  • Alimentação animal.


Benefícios para a saúde

O seu elevado teor em polifenóis impede o “mau” colesterol. É rica em vitaminas e minerais, apresenta um baixo valor calórico e tem uma excelente capacidade antioxidante (quase 3 vezes superior à do vinho tinto e chá verde).

De salientar que a romã produz efeitos na melhoria da quantidade de oxigénio captada pelo músculo cardíaco de pacientes com doença coronária e tem também um potencial benefício no combate à disfunção eréctil.

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