Ribeiros, peixes migradores e fungos aquáticos – conhece os seus benefícios?

Investigadora do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente coordenou um número especial onde mais de 100 investigadores de 20 países compilaram os benefícios de vários ecossistemas e organismos aquáticos geralmente desconsiderados pela sociedade, como é o caso dos pequenos ribeiros, peixes migradores ou fungos aquáticos. Os resultados podem ser conhecidos num número especial da revista Hydrobiologia – Aquatic Ecosystem Services – onde acabam de ser publicados 20 artigos sobre a dependência das populações humanas relativamente a estes e outros ecossistemas e organismos aquáticos.

A identificação dos serviços prestados por estes ecossistemas e organismos às populações humanas contribui para justificar a necessidade de se implementarem medidas que visem a sua proteção. A compilação dos serviços ecossistémicos prestados por 6 ecossistemas e 12 organismos aquáticos (de água doce e marinhos) considerados neste especial, a par da identificação das ameaças que enfrentam, será um importante contributo para que gestores e stakeholders tomem decisões informadas que depois poderão justificar à população.

“O objetivo deste número especial é identificar os serviços prestados por ecossistemas e organismos aquáticos como pequenos ribeiros, rios secos, lagoas costeiras, algas, fungos ou diferentes grupos de peixes”, começa por explicar Verónica Ferreira, investigadora do MARE e da Universidade de Coimbra e coordenadora do número especial. “Muitos dos ecossistemas e organismos considerados neste número especial são desconsiderados pela sociedade, que acaba por não ter real perceção dos seus benefícios. Para além de um completo inventário sobre os serviços prestados por estes ecossistemas e organismos, foram também identificadas as ameaças a que estão sujeitos o que permite sensibilizar a população para a importância da sua proteção. Os artigos vão permitir que gestores e outros stakeholders possam basear as suas decisões na evidência científica”, continua.

Um dos artigos incluídos no número especial debruça-se sobre os serviços ecossistémicos prestados pelos peixes anádromos (peixes que migram do mar para os rios para se reproduzirem como a lampreia-marinha, o sável ou a truta) na Península Ibérica. Estas são espécies de elevado interesse cultural, social e económico, que “ao longo do último século sofreram um declínio populacional acentuado na Península Ibérica, sobretudo devido à redução e destruição do habitat, a que se associa a sobrepesca”, explica Bernardo Quintella, investigador do MARE e da Universidade de Lisboa e coordenador do grupo de investigadores que compilou os serviços prestados por estes organismos. “Estão, atualmente, a ser desenvolvidos esforços com vista a uma gestão sustentável destas espécies, ao mesmo tempo que se implementam medidas para a reabilitação do habitat”, acrescenta. Na opinião dos investigadores, “deve ser feito um investimento para o restabelecimento da conectividade longitudinal dos rios, o que pode implicar o desmantelamento de barreiras obsoletas ou a criação de passagens para peixes”.

Outro dos artigos reúne investigadores de 6 países para identificar os serviços prestados pelos pequenos ribeiros, “que apesar de pequenos constituem a maioria das linhas de água numa bacia hidrográfica”, esclarece Verónica Ferreira, a coordenadora deste trabalho. Os investigadores identificaram 27 serviços prestados por estes ecossistemas, incluindo “serviços de suporte como a circulação de água e de nutrientes e serviços de regulação como regulação do microclima e purificação da água” enumera a investigadora. “Os pequenos ribeiros são também um importante repositório da biodiversidade que está na base de muitos serviços de que as populações humanas beneficiam localmente e a jusante”, acrescenta. Como os pequenos ribeiro são muito sensíveis a perturbações humanas, os cientistas aconselham a que “sejam tomadas medidas efetivas para a sua proteção, começando por uma maior sensibilização das populações para a necessidade de se evitarem encanamentos e de se preservar a vegetação em seu redor”.

Um outro artigo reúne investigadores de 5 países para abordar os serviços que os fungos de água doce prestam (ou têm potencial para prestar). “Entre os seus múltiplos benefícios encontramos serviços de regulação como a decomposição de detritos vegetais e serviços de suporte como a reciclagem de nutrientes”, clarifica Seena Sahadevan, investigadora do MARE e da Universidade de Coimbra e coordenadora do artigo. Estes serviços são fundamentais para o bom funcionamento de rios e ribeiros, “pelo que é crucial aumentar a consciencialização e o reconhecimento destes serviços pela sociedade e apostar na sua preservação”, conclui a investigadora.

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