Produtividade da cultura de limonete (Aloysia citriodora Palau) no modo de produção biológica em função de diferentes doses de fertilizantes

Produtividade da cultura de limonete (Aloysia citriodora Palau) no modo de produção biológica em função de diferentes doses de fertilizantes

Por: Augusto Gomes
Pós-graduado em Agricultura Biológica. Professor da Escola Agrícola de Santo Tirso

Agradecimentos

A realização deste ensaio deve-se em parte ao apoio das seguintes pessoas:
Eng.º Luis Alves, Cantinho das Aromáticas onde decorreu o ensaio.
Eng.º Carlos do Carmo, representante da empresa Econatur Laboratórios que forneceu os fertilizantes autorizados em Agricultura Biológica para o ensaio e também pelo aconselhamento no plano de fertilização.
Eng.º Guerner Moreira, da DRAP Norte, pelos dados atmosféricos de todo o ciclo da cultura.

Introdução

O conhecimento sobre as plantas sempre tem acompanhado a evolução do homem através dos tempos. As primitivas civilizações cedo se aperceberam da existência, ao lado das plantas comestíveis, de outras dotadas de maior ou menor toxicidade que, ao serem experimentadas no combate à doença, revelaram, embora empiricamente, o seu potencial curativo. Toda essa informação foi sendo, de início, transmitida oralmente às gerações posteriores, para depois, com o aparecimento da escrita, passar a ser compilada e guardada como um tesouro precioso (Proença da Cunha, 2010).

Como mais de metade das plantas medicinais encontradas no mercado formal ou mesmo informal, são autóctones, obtidas através de colheita no local, sendo algumas espécies incultiváveis (Ming et al., 2003; International Union For Conservation Of Nature, 2008), o aumento da procura de matéria-prima para produtos naturais e os preços atrativos, quando comparados com os demais produtos agrícolas, despertou o interesse de produtores para o cultivo de plantas medicinais (Scheffer et al., 1999; Yamamoto, 2006). Segundo Scheffer et al., (1999), no início a produção era restrita a espécies exóticas, porém com o aumento da dificuldade em encontrar as plantas nativas no seu ambiente natural e o aumento nas exigências com relação à qualidade, muitos produtores começaram a realizar a produção de várias espécies empiricamente.

Nas culturas aromáticas e medicinais, verifica-se a necessidade de se cultivar plantas considerando a produção de biomassa e o teor de princípios activos, pelo facto de que a síntese desses compostos pode sofrer alterações conforme as técnicas de cultivo (Ming, 1996). Diversos factores influenciam na qualidade final do produto, como: características genéticas da planta, variações climáticas, solo, época de cultivo, condições de secagem, tempo de armazenamento, entre outros (Kamada et al., 1999; Castro et al., 2004).

A escolha da cultura do limonete, Aloysia triphylla, para tema do estudo aqui apresentado não é casual, mas sim por tratar-se de uma cultura com grande potencial, quer ao nível da produção (temos condições edafo-climáticas excelentes), quer ao nível de mercado de exportação (existe um grande défice de produção em relação à procura pelo que toda a produção tem garantia de exportação), quer ao nível da qualidade registada no produto final que é considerado do melhor que há no mundo.

Tendo em consideração que existe um vazio em trabalhos nesta área de estudo e que são reclamados quer por produtores, quer por empresas transformadoras de plantas aromáticas e medicinais, o objectivo principal deste trabalho foi avaliar a rendibilidade da cultura do limonete, Aloysia triphylla, com diferentes planos de fertirrega.

A Cultura Aloysia citriodora Palau

Descrição botânica

A espécie Aloysia triphylla (L´Hér.) Britton (Verbenaceae), é conhecida popularmente por Limonete, Bela-luísa, Erva-luísa e Doce-lima e possui a sinonímia científica de Verbena citriodora Cav., Lippia triphylla, Lippia citriodora, Aloysia citriodora (Cav.) Ort. Tem como classificação científica: Filo – Magnoliophyta; Classe – Magnoliopsida; Ordem – Lamiales; Família – Verbenaceae; Género – Aloysia e Espécie – A. Citrodora. Possui de 2 a 3 metros de altura no seu habitat natural da América do Sul, provavelmente do Chile e Argentina (Lorenzi & Matos, 2002). Existem 37 espécies de Aloysia conhecidas, de folha caduca e persistente, sendo algumas delas, nomeadamente a Aloysia triphylla, introduzidas na Europa em 1794 (Bown, Deni 2002). A origem do nome científico: Aloysia em honra a María Luisa de Parma (1754-1819) rainha de Espanha por casamento com Carlos IV; triphylla, pelo número de folhas em cada verticilo. Espécie perene e lenhosa. As folhas têm pecíolo curto, lanceoladas inteiras com uma nervura central proeminente na página inferior dividido em numerosas nervuras secundárias quase perpendiculares.

Cultivo

Adapta-se bem à maioria dos solos, desde que moderadamente férteis e bem drenados, leves, de pH neutro ou ligeiramente alcalino. É uma planta muito ornamental, exige uma exposição ensolarada e pode suportar temperaturas até cerca de 10°C sendo a poda na Primavera (Huxley, A. 1992).  

Propagação - Nas condições agroclimáticas da nossa região não se observa formação de sementes que permitam a propagação da espécie. Assim sendo, apenas por via vegetativa e, mais concretamente por estacaria, é possível obter as plantas para produção.

Rega - As necessidades de água da Aloysia triphylla não são conhecidas, mas os períodos mais importantes situam-se desde a rebentação até ao primeiro corte em cada ciclo da cultura (Chevallier, A., 1996).

Pragas e doenças - A Aloysia triphylla não é afectada muito significativamente por pragas e doenças, no entanto existem problemas que uma vez instalados são de difícil controle. Os casos patogénicos mais frequentes e sua importância para a cultura são Fungos.

Fungos - De acordo com informação bibliográfica é citada uma ferrugem que ataca o limonete. Existem casos de podridão das raízes, fusarium sp., que se caracterizam  por uma murchidão e clorose generalizadas. A folhagem adquire uma coloração verde acinzentada e morre gradualmente. As principais causas deste problema residem na água de rega por alagamento e ainda por utensílios e maquinaria agrícola.

Viroses - As viroses são um problema sério na cultura da Aloysia triphylla, porque uma vez instaladas afectam a longevidade produtiva da cultura, bem como o tamanho das folhas e a sua qualidade. As plantas afectadas apresentam um mosaico amarelo intenso. Como as viroses não têm controle, a única forma de resolver o problema é a eliminação das plantas infectadas substituindo-as por plantas sãs (Dellacassa, E. & Bandoni, A. L., 2003).

Insectos - Pulgões e ácaros podem causar danos importantes nas plantas. Não foi, no entanto, observada nenhuma patologia nas plantas durante o ensaio experimental.

Colheita

A parte útil da planta na colheita é a folha. Normalmente é cortada à mão, no entanto já se realiza mecanicamente, como foi o caso do nosso ensaio experimental. É uma segadora-auto-
-carregadora, com um pequeno motor e as peças activas são constituídas por um conjunto de lâminas que cortam as plantas, semelhante ao modelo de uma ceifeira mecânica. É operada por quatro pessoas, uma em cada canto da máquina, que se vai deslocando ao longo do camalhão. O material cortado é recolhido num saco encorporado na máquina. Normalmente realizam-se três cortes no ciclo da cultura (Chevallier, A., 1996).

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Secagem

A Aloysia triphylla é uma planta que seca com facilidade. A temperatura de secagem recomendada é de 40º C. São necessárias 3 a 4 kg de folhas frescas para se produzir 1 kg de folhas secas. Existem vários métodos de secagem aplicáveis ás plantas aromáticas. Aquele que se afigura mais interessante é o sistema de secagem por ar quente. Através do processo de secagem por ar quente, consegue-se reduzir em algumas horas um processo natural de vários dias. O ar quente e seco é forçado a passar pela biomassa verde e nesta passagem de ar, controlada por um sistema electrónico, é introduzida uma humidade extra ao ar, de forma a que o arrefecimento das plantas seja gradual. Esta humidade extra, posteriormente é eliminada pelo sistema electrónico de controle, ficando só o ar quente. Em seguida, o ar quente carregado de humidade é libertado para a atmosfera por ordem do mesmo sistema de controle de saída da humidade. O ciclo repete-se até que se obtenha o nível ideal de secagem. Em média, por cada 100 kg de matéria verde são retirados 60 a 80 kg de água. No ensaio experimental as plantas foram secas em estufa por ar quente.

Material e Métodos

Caracterização do local

O ensaio experimental decorreu no Norte do País em Canidelo, Concelho de Vila Nova de Gaia, na empresa Cantinho das Aromáticas, Viveiros Lda, que é uma pequena empresa agrícola fundada em 2002. Alia os princípios da agricultura biológica aos métodos de produção, afirmando-se como a primeira e única do género em Portugal. Os solos são ligeiramente argilosos com bons teores de matéria orgânica e o clima é temperado, características às quais a cultura se tem adaptado bem.

Unidade Experimental

A unidade experimental UE, encontra-se instalada num espaço amplo sem constrangimentos urbanisticos, que conferem à parcela onde está instalada a cultura, uma exposição priveligiada porque recebe a luz solar praticamente todo o dia. É composta por uma parcela de 5000 m2 que corresponde ao sector de rega n.° 6. As plantas estão em camalhões, porque esta cultura não tolera o excesso de humidade, num total de 27 camalhões, numerados de 1 a 27. Cada camalhão tem 1 metro de largura e comprimento variado e as fileiras de plantas no camalhão estão espaçadas entre si por 55 cm. Todo o solo da UE está coberto por tela base chão preta de 130 g/m2, que confere um efectivo controlo de infestantes, uma estabilização de raios UV controlando a evapotranspiração e uma regulação da permeabilidade das águas das chuvas. Como toda a produção é em modo biológico o proprietário costuma referir que “a tela de chão era o tractor que não tinha e o herbicida que não podia usar”. O sistema de rega nos camalhões é composto por tubo (em contacto com o solo, mas por debaixo da tela) autocompensante 33 x 33 cm com dotação de 4 litros/hora; 20.000 litros/hora/hectare. A rega é controlada por um programador Hunter de 12 estações de rega. A filtragem da água é realizada por um filtro de areia e 2 filtros de lamelas. Uma válvula de Venturi assegura a fertirrega. Em cada sector de rega está instalado um filtro de malha para filtragem da água de forma a impedir o entupimento dos gotejadores. Para o ensaio escolheram-se de forma aleatória três grupos de camalhões em que: i) um primeiro grupo constituído pelos camalhões 5 (com 23,20 m e 82 plantas), 13 (32 m e 122 plantas) e 23 (50 m e 174 plantas) representaria o tratamento base (0), igual à fertilização normal de toda a cultura, ii) um segundo grupo constituído pelos camalhões 3 (com 20,90 m e 77 plantas), 15 (35 m e 131 plantas) e 19 (42,70 m e 154 plantas) representaria o tratamento 1 com um acréscimo de fertilização de 20% em relação ao tratamento 0 e finalmente iii) um terceiro grupo constituído pelos camalhões 7 (com 24,60 m e 89 plantas), 11 (29,10 m e 107 plantas) e 21 (45,50 m e 167 plantas) representaria o tratamento 2 com um acréscimo de 40% em relação ao tratamento 0.

Na UE foram preparados e marcados todos os 27 camalhões que iriam ser alvo do ensaio. Colocaram-se torneiras individuais de abertura e fecho nos tubos de rega gota-a-gota, para que a fertirrega pudesse ser individualizada.

Amostra de solo

Antes do início do ciclo da cultura, foram recolhidas amostras, na zona entre as linhas e na camada de enraizamento, tendo em vista a análise sumária do solo: azoto mineral, matéria orgânica, fósforo, potássio e magnésio, etc. Após observação do boletim de análises constatamos os seguintes dados: i) os macronutrientes fósforo e potássio apresentam valores excessivos enquanto que o azoto total tem valor médio;  ii) dos elementos secundários temos o magnésio com valor alto e iii) os micronutrientes com valores elevados para o ferro e manganês, enquanto que o boro e o molibdénio têm valores baixos.

Segundo Marschner (1997), o fósforo e o azoto são os nutrientes que mais limitam o crescimento e o desenvolvimento vegetativo. O conhecimento dos fertilizantes orgânicos e minerais à disposição do gestor agrícola permite tomar decisões essenciais à boa gestão do solo, facilitadas pela existência de laboratórios de apoio técnico, onde amostras de terra são analisadas e emitidas recomendações de fertilização. Estas recomendações são baseadas em extensa experimentação realizada em condições de campo, que permite calibrar os métodos usados em laboratório, relacionando os valores obtidos com uma probabilidade de resposta à fertilização (Amarilis de Varennes, 2003).

Amostra de água

Na grande maioria dos casos os efeitos susceptíveis de causar a poluição dos solos estão associados à acção da própria água de rega (Quelhas dos Santos, 2001). A Europa tem manifestado grande preocupação com a problemática dos nitratos, o que levou à aprovação de legislação sobre a matéria: Directiva 80/788 sobre a qualidade da água destinada ao consumo humano (CEE, 1980) e a Directiva 91/676, conhecida como Directiva Nitratos (CE, 1991). A Directiva 80/788 dá orientações para a criação de legislação nacional sobre a qualidade da água para consumo humano, referindo os valores da Concentração Máxima Admissível (CMA) para todos os sistemas públicos de abastecimento, ou seja, 50 mg NO3- L-1 (equivalente a 11,3 mg N-NO3- L-1), 0,1 mg NO2 L-1 (equivalente a 0,03 mg N-NO2 L-1) e 0,5 mg NH3 L-1 (equivalente a 0,41 mg N-NH3 L-1). No caso concreto da nossa UE a água de rega é de óptima qualidade como atesta o resultado da análise realizada nos Laboratórios da Escola Superior Agrária de Ponte de Lima, e que foi feita no início do ensaio e que apresentou níveis de NO3- mg/L de 1,42.

Planeamento de fertilização

Segundo Guet (1993), a fertilização em agricultura biológica deve respeitar três objectivos: i) melhorar a fertilidade dos solos; ii) economizar recursos não renováveis;  iii) não introduzir elementos poluentes no ambiente. Destes objectivos decorrem os seguintes princípios: i) evitar as perdas de elementos solúveis na água (azoto, etc.); ii) utilizar em circunstâncias que o justifiquem as leguminosas; iii) não utilizar produtos por via química; iv) ter em conta os vegetais e animais que vivem no solo; v) lutar contra a erosão pela conservação do solo, que é um recurso não renovável a curto prazo. A produtividade do solo vai depender não só dos fluxos dos nutrientes entre as diferentes fases do solo, mas também do balanço entre as entradas e saídas de elementos no ecossistema, de que dependem a reacção dos solos, os riscos de salinização, e o nível dos elementos essenciais às plantas. Frequentemente os nutrientes não estão presentes em quantidade suficiente e limitam o crescimento vegetal. O uso eficiente dos nutrientes, em particular daqueles que se perdem facilmente do sistema solo-planta, minimiza os riscos de contaminação das águas e da atmosfera e permite optimizar o retorno económico das culturas (Amarilis de Varennes, 2003).

Os fertilizantes usados foram os seguintes:

  • Organihum Nitro (Autorizado para Agricultura Biológica). Fertlizante orgânico (aminoácidos) obtido por hidrólise enzimática de proteína animal sem intervenção de elementos químicos de síntese. Contém um elevado teor de aminoácidos de baixo peso molecular, que lhe confere excelentes propriedades nutricionais e bioestimulantes vegetais. Composição: Azoto (N) total – 8.0 UF; Azoto (N) orgânico – 7.6 UF; Aminoácidos livres – 44.5; Matéria orgânica total – 46.5; Relação C/N – 3.35; pH – 4.5.
  • Organihum Fosnatur (Autorizado para Agricultura Biológica). Fertilizante mineral líquido com alto teor de fósforo e potássio procedente de sais minerais naturais. Composição: Fósforo (P2O5) soluvel na água – 17.5 UF; Potássio (K2O) soluvel na água – 10.3 UF.
  • Organihum Fulvital (Autorizado para Agricultura Biológica). Fertilizante organo-mineral liquido de origem vegetal. Contém matéria orgânica e ainda macro e micronutrientes. Composição: Azoto (N) total orgânico – 3.0 UF; Fósforo (P2O5) – 0.5 UF; Potássio (K2O) solúvel na água – 5.0 UF; Cálcio (CaO) – 0.4 UF; Magnésio (MgO) – 0.1 UF; Ferro (Fe) – 0.81 UF; Manganésio (Mn) – 0.04 UF; Matéria orgânica total – 43.5; Carbono (C) orgânico – 25.2; Extracto húmico total (ácidos fúlvicos) – 15.5; pH – 6.1

Em relação aos procedimentos, ou seja, à metodologia, executou-se o plano de fertilização a que correspondem os tratamentos designados por T0, T1 e T2.

O tratamento T0, fertilização corrente do produtor, foi realizado nos camalhões 5, 13 e 23 com um total de 105,2 m2. O tratamento T1, com um acréscimo de fertilização de 20%, em relação ao tratamento T0, foi realizado nos camalhões 3, 15 e 19 com um total de 98,6 m2. O tratamento T2, com um acréscimo de fertilização de 40%, em relação ao tratamento T0, foi realizado nos camalhões 7, 11 e 21 com um total de 99,2 m2.

Humidade do solo

Não há dúvidas de que a melhor maneira do agricultor controlar as plantações é conhecer bem a região, seja em relação ao tipo de solo ou às características climáticas ao longo dos meses, na região. Na nossa UE, a humidade do solo foi avaliada e monitorizada através de tensiómetros colocados em locais representativos de toda a parcela da UE. Foram colocados dois pares de tensiómetros, colocados aleatóriamente nos camalhões 11 e 19 com o objectivo de se realizarem leituras diárias às primeiras horas do dia e sempre à mesma hora. Em cada um destes camalhões colocou-se um primeiro tensiómetro mais curto, superficial, na zona da rizosfera que nos permitiria verificar a oportunidade de rega. Este tensiómetro foi colocado a 18 cm de profundidade. O segundo tensiómetro foi colocado no fundo da zona radical, com o objectivo de se controlar o tempo de rega, isto é, a dotação de rega que de alguma forma evite a drenagem ou lixiviação de nutrientes. Este tensiómetro foi colocado a 50 cm de profundidade. A oportunidade de rega é definida com base na tensão da humidade do solo (Kpa), do tensiómetro superficial, e depende do tipo de solo e da cultura instalada. A rega deverá parar quando o solo atingir a capacidade de campo, que é indicada pelo tensiómetro mais profundo (Agostinho, 2005).

A Estação de Avisos de Entre Douro e Minho, DRAPN, através de estações meteorológicas próximas do local da unidade experimental, forneceu dados diários relativos à temperatura (máxima, média e mínima), humidade relativa, precipitação, ventos, etc.

Pela análise dos dados fornecidos podemos observar que os valores registados foram perfeitamente normais para a época do ano e para o local. Não existiram alterações significativas ao longo dos seis meses do ensaio na UE. As temperaturas médias muito equilibradas e as precipitações pouco significativas permitiram fazer uma gestão das regas conforme o plano programado.

Planeamento da rega

A precipitação natural muitas vezes não é suficiente para satisfazer as necessidades das culturas e como tal em produção biológica deve-se fazer um plano de rega de modo a proporcionar-se um fornecimento controlado de água em quantidade suficiente e de acordo com as previsões meteorológicas, de forma a assegurar a produtividade e a sobrevivência da plantação. O planeamento da rega com tensiómetros, em termos de determinação da oportunidade de rega e das dotações de rega, deve obedecer às exigências hídricas da respectiva cultura. Na UE a oportunidade de rega foi estabelecida quando o tensiómetro superficial, colocado a 18 cm de profundidade, marcasse de 35 a 38 cbar. A dotação de rega foi 21,01 mm a que correspondeu 1 hora de rega (Agostinho, 2011). Estes valores foram calculados de acordo com os seguintes valores:

A distância entre gotejadores na linha 0,35 m. A distância entre ramais de rega 0,4 m. Área/gotejador 0,14 m2 e o n.° de gotejadores/m2 - 7,14. A partir destes valores determinou-se o caudal gotejador que foi 2,88 L/h de média e a taxa de gotejamento de 20,6 mm/h.

Resultados e Discussão

Dados Experimentais

A cultura do limonete, Aloysia citriodora Palau, da UE, já se encontrava instalada desde 2006. Trata-se de uma cultura perene caducifólia e que tem um ciclo de produção rentável na ordem dos doze anos. Foi podada nos últimos dias do mês de Abril que corresponde ao início do seu ciclo vegetativo e não houve mais cuidado algum especial em relação à cultura.

Fertilização da Cultura

Em relação aos procedimentos (metodologia), realizou-se a aplicação dos tratamentos designados por T0, T1 e T2. O tratamento T0, fertilização corrente do produtor para toda a parcela da cultura, 5000 m2, foi realizado nos camalhões 5, 13 e 23 com um total de 105,2 m2. O tratamento T1, com um acréscimo de fertilização de 20%, em relação ao tratamento T0, foi realizado nos camalhões 3, 15 e 19 com um total de 98,6 m2. O tratamento T2, com um acréscimo de fertilização de 40%, em relação ao tratamento T0, foi realizado nos camalhões 7, 11 e 21 com um total de 99,2 m2. Em função das dosagens recomendadas e das áreas dos ensaios a realizar, procedeu-se às fertirregas que estão demonstradas no quadro seguinte:

p38 qua1

Foram realizadas três fertirregas no ciclo da cultura da unidade experimental distribuídas no tempo e com os produtos e quantidades indicados da seguinte forma:
1.ª Fertirrega – Realizada a 06 de Maio de 2011.

p38 qua2

Nos 5000 m2 da parcela onde estava instalada a UE procedeu-se a fertilização idêntica ao tratamento zero e que se traduziu em 1,5 kg de Organihum Nitro, 10 litros de Organihum Fulvital e 1,5 litros de Organihum Fosnatur.
2.ª Fertirrega – Realizada a 06 de Julho de 2011.

p38 qua3

Nos 5000 m2 da parcela onde estava instalada a UE procedeu-se a fertilização idêntica ao tratamento zero e que se traduziu em 1 kg de Organihum Nitro, 5 litros de Organihum Fulvital e 2,5 litros de Organihum Fosnatur.
3.ª Fertirrega – Realizada a 29 de Setembro de 2011.

p38 qua4

Nos 5000 m2 da parcela onde estava instalada a UE procedeu-se a fertilização idêntica ao tratamento zero e que se traduziu em 1 litro de Organihum Fosnatur.

Foram realizadas três fertirregas no ciclo da cultura e distribuídas no tempo e com os produtos e quantidades indicados da seguinte forma:

1.ª Fertirrega – Realizada a 06 de Maio de 2011. Nos 5000 m2 da parcela onde estava instalada a UE procedeu-se a fertilização idêntica ao tratamento zero e que se traduziu em 1,5 kg de Organihum Nitro, 10 litros de Organihum Fulvital e 1,5 litros de Organihum Fosnatur.

2.ª Fertirrega – Realizada a 06 de Julho de 2011. Nos 5000 m2 da parcela onde estava instalada a UE procedeu-se a fertilização idêntica ao tratamento zero e que se traduziu em 1 kg de Organihum Nitro, 5 litros de Organihum Fulvital e 2,5 litros de Organihum Fosnatur.

3.ª Fertirrega – Realizada a 29 de Setembro de 2011. Nos 5000 m2 da parcela onde estava instalada a UE procedeu-se a fertilização idêntica ao tratamento zero e que se traduziu em 1 litro de Organihum Fosnatur.

A colheita

Realizaram-se quatro colheitas sempre com a mesma máquina, nas primeiras horas da manhã para evitar perdas por evaporação. A colheita foi realizada pela ordem dos camalhões referentes aos diferentes tratamentos. Em primeiro lugar fez-se a colheita das plantas dos camalhões do tratamento 0, depois das plantas dos camalhões do tratamento 1 e finalmente das plantas dos camalhões do tratamento 2.

Os procedimentos foram sempre iguais, nas quatro colheitas de Maio, Junho, Agosto e Outubro. Os valores das colheitas totais estão representados no quadro seguinte:

p38 qua5

Verifica-se assim que na produção total do ciclo da cultura a correspondem os quatro cortes efetuados, devidamente assinalados, temos os seguintes valores: T0 = 60 + 72 + 24 + 8 = 164 kg - T1 = 81 + 104 + 32 + 12 = 229 kg - T2 = 85 + 124 + 44 + 20 = 273 kg

Se atendermos à produção por planta temos os seguintes valores: T0 = 158.8 + 190.5 + 63.5 + 21.2 = 434 g - T1 = 223.8 + 287.3 + 88.4 + 33.1 = 632,6 g - T2 = 234.2 + 341.6 + 121.2 + 55.1 = 752,1 g, conforme os quadros seguintes referentes às quatro colheitas.

p38 qua6

Avaliação da Produção

A metodologia adoptada foi a seguinte:

i) A colheita referente aos camalhões da UE foi feita de forma individualizada. Primeiro colheram--se as plantas dos camalhões 5, 13 e 23 a que correspondia o tratamento T0, depois as plantas dos camalhões 3, 15 e 19 pertencentes ao tratamento T1 e finalmente as plantas dos camalhões 7, 11 e 21 que correspondiam ao tratamento T2. Este procedimento foi igual nas quatro colheitas do ciclo da planta. ii) A pesagem foi também ela individualizada e realizada imediatamente seguir à colheita e pela mesma ordem e metodologia. Assim à medida que se realizava a colheita, o material era transportado para o armazém onde era colocado em tabuleiros para posterior pesagem e registo. A pesagem foi realizada com os tabuleiros ao que naturalmente se registava o peso subtraindo o peso do tabuleiro. Seguidamente os tabuleiros eram encaminhados para a câmara de secagem. iii) Determinação do peso total da produção. iv) Determinação do peso médio por planta.

Conclusões

A 1.ª colheita teve valores assinaláveis caracterizados por uma boa rebentação da cultura, a que não são alheios os efeitos do Organihum Nitro que lhe proporcionou um bom desenvolvimento do sistema radicular, acelerou o desenvolvimento e o metabolismo vegetativo, graças aos princípios que intervêm na síntese das proteínas e restabelece o equilibrio natural da planta, estimulando a função clorofílica e o crescimento vegetativo. A aplicação do Organihum Fulvital forneceu às plantas os nutrientes indispensáveis que podem absorver e assimilar rapidamente, melhorando ainda a actividade microbiana do solo. O Organihum Fosnatur proporcinou às plantas a assimilação de fósforo e potássio fundamentais para estimular e desenvolver o crescimento das raízes e também favorecer a maturação dos tecidos (importante numa cultura que se deseja obter vários cortes e que em todos eles se obtenha material com boa maturação) e criar resistências para contrariar alterações fisiológicas provocadas por factores bioclimáticos.

A 2.ª colheita é claramente aquela em que se obteve a melhor produção. O bom arranque da cultura e uma melhor regularização do complexo de troca usufruindo da fertilização efectuada que melhorou a qualidade de nutrientes da solução do solo. Melhorou a estrutura do solo pelo fortalecimento do complexo argilo-húmico, o que fez aumentar o intercâmbio catiónico, melhorando a assimilação dos nutrientes.

Na 3.ª colheita é visivel um decréscimo acentuado, pois após dois cortes intensos a capacidade de renovação da cultura não é a mesma e a cultura já se encontra numa fase de menor rendimento. Também coincidiu com os períodos mais secos e quentes do ciclo, em que a intensa exposição solar que a UE apresenta, aumenta exponencialmente a evapotranspiração o que reduz o aumento da massa foliar.

A 4.ª colheita teve uma produção muito residual. Foi realizada já no final do ciclo vegetativo da cultura em que se pretendeu fazer um aproveitamento do último material vegetativo. Este corte foi precedido da última fertirrega em que apenas foi incorporado o Organihum Fosnatur para proporcinar às plantas a assimilação de fósforo e potássio fundamentais para favorecer a maturação dos tecidos para contrariar alterações fisiológicas, conferindo-lhes resistências importantes para enfrentar novo período de repouso vegetativo. É importante a utilização deste fertilizante em todas as fertirregas e em especial na última devido à sua acção na maturação da cultura.

Em relação aos resultados da produção em função das fertirregas com os tratamentos efectuados, verificamos o seguinte: na produção total, e em termos percentuais foi possível observar que o tratamento T1 obteve um acréscimo de produção, em relação a T0 de 65 kg a que corresponde um aumento de 39,6 % e o tratamento T2 obteve um acréscimo de produção, em relação a T0 de 109 kg a que corresponde a um aumento de 66,4 %.

Na produção por planta, e em termos de percentuais verificamos que o tratamento T1 obteve um acréscimo de produção, em relação a T0 de 208,6 g a que corresponde um aumento de 48,06 % e que o tratamento T2 obteve um acréscimo de produção, em relação a T0 de 318,1 g a que corresponde a um aumento de 73,29 %.

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Regiões

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