Por: Bernardo Madeira
Embora raro, não é inédito termos inícios de Outono suficientemente quentes para que as plantas se iludam e rebentem de novo, “convencidas” de uma falsa Primavera. Este foi um desses anos.
Agosto e Setembro foram frescos. Deu-se o normal atempamento da lenha do ano em árvores fruteiras e até videiras, com queda de folhas como normalmente ou até mais cedo do que o normal. Porém, um final de Setembro quente e um Outubro anormalmente quente (pelo menos o mais quente desde há 70 anos), levou a que muitas árvores de fruto, de flor (como camélias), e videiras rebentassem de novo e se apresentassem no final do mês cobertas de flores e rebentos como se estivéssemos numa verdadeira Primavera.
A produção deste fenómeno é algo temido pelos fruticultores e viticultores. A rebentação outonal, e especialmente a floração nesta época, resulta do facto de ter havido uma acumulação de temperaturas (somatório) que permite a rebentação. Esta desregulação leva, obviamente, à perda dos botões florais que agora se desenvolveram, abrolharam e que nunca produzirão fruto com a chegada do frio.
Pior ainda é o facto de estes gomos que deveriam produzir fruto no próximo ano se perderem e não haver tempo para as plantas produzirem novos botões e dar-se o atempamento dos rebentos que agora se geraram, podendo comprometer, em parte, a fertilidade das árvores no próximo ano. Este fenómeno está relacionado com o facto de algumas plantas estarem dependentes de somatórios de temperaturas, positivas no Verão e negativas no Inverno. Assim, como é por de mais conhecido, no milho fala-se em somatórios de temperatura desde a sementeira, ou seja, os requisitos de graus de temperatura acima de 6 ºC. Se uma variedade está indicada como necessitando de 1.200 ºC, significa que para que complete o ciclo é necessário que haja calor suficiente, acima de 6 graus, para que o milho amadureça. Se um dia estiverem 16 ºC em média, então, esse dia conta como 10 ºC, somando-se assim os dias até se atingir os requisitos requeridos pelas plantas (se todos os dias tivessem esta média, o crescimento e maturação dar-se-iam em 120 dias). Por este motivo, quando se diz que uma variedade é de ciclo de 90 dias, tal apenas se reporta a situações médias, dependendo, obviamente, do clima.
O mesmo sucede com as temperatura negativas. Algumas plantas não abrolham regularmente se não se sujeitarem a um certo somatório de temperaturas negativas. Isto para que não rebentem sem que termine o Inverno e assim serem queimadas por geadas. Porém, estes requisitos de frio podem ser “baralhados” com Outonos quentes que levam a um excessivo somatório de graus de temperatura positiva, como sucedeu este ano.