Perspetivas da Nova Agricultura - O papel da pesquisa na União Europeia
Por: Maria Navajas, Institut National de la Recherche Agronomique (INRA)
A agricultura deve atender às mudanças nas necessidades da sociedade, não somente em termos de consumo, mas também nas questões ambientais relacionadas à produção agrícola, e assegurar produtividade. Garantir a sustentabilidade ambiental da agricultura é o foco das políticas e medidas europeias. Isto faz parte de uma visão de longo prazo sobre pesquisa e inovação implementada na União Europeia (UE) por meio do programa de pesquisa Horizonte 2020 (H2020).
O objetivo é conduzir a pesquisa agrícola em estreita conexão com o contexto e os desafios sociais em sentido amplo. Isto está reunido em cinco prioridades estratégicas (Figura 1). Este contexto será particularmente favorável ao apoio de práticas sustentáveis e à agricultura biológica, reforçando simultaneamente a proteção do ambiente, em especial, promovendo ações de combate e adaptação às alterações climáticas.
Colocando a nova visão de agricultura em ação
Nas próximas décadas, mudanças profundas na agricultura devem ser implementadas para promover a proteção da biodiversidade e amenizar os riscos associados ao uso de pesticidas químicos convencionais. Também está claro que a agricultura está altamente exposta às mudanças climáticas atuais, já que as atividades agrícolas dependem diretamente dessas condições. São também necessárias medidas para suavizar os efeitos das alterações climáticas. Estas tendências apontam a necessidade de mais pesquisas sobre sistemas sustentáveis integrados e funcionais, incluindo os de produção de plantas em agricultura biológica e inovação agrícola.
Redução de pesticidas -compromisso da Europa
A redução de pesticidas na agricultura está no centro da legislação recentemente adotada pela União Europeia. A Diretiva 2009/128/EC do Parlamento Europeu prevê uma série de ações para alcançar a utilização sustentável dos pesticidas, reduzindo os riscos e os efeitos à saúde humana e ao ambiente. Já estão em curso, medidas tanto em nível da União Europeia como nacionais, incentivando a utilização do uso integrado de pragas e uso de estratégias não químicas. Estas medidas são apoiadas pelas Políticas de Pesquisa Europeia, por meio do programa H20202, e por medidas nacionais. Como exemplo, na França, os esforços concentram-se principalmente no Plano Ecophyto, que já evidencia uma redução de 20% a 30% no uso de pesticidas alcançados por alguns agricultores. A generalização desses resultados para toda a agricultura é a prioridade das políticas atuais. É também uma resposta à sociedade, porque os produtos para proteção de plantas são frequentemente considerados pelos cidadãos como prejudiciais à saúde humana e ao ambiente.
A dimensão global da agricultura
Tendo em conta a política científica da União Europeia, a nova agricultura será mais sustentável, com práticas que levem em conta as ânsias sociais pela saúde humana e pela proteção ao ambiente. Fica claro que esses objetivos de desenvolvimento sustentável, embora enquadrados por políticas da União Europeia, têm implicações e correlações em nível global. A sustentabilidade é claramente diferente nos principais países produtores de commodities agrícolas, devido a diversos fatores, como as diferentes formas de utilização das áreas, clima, contexto político etc. Com a globalização, o mundo está interconectado, os mercados mudam, as exigências de importações mudam. Colocar essa nova visão da agricultura em ação, não se baseia em uma única solução, mas em um equilíbrio de soluções para alcançar a sustentabilidade. Esta é uma tarefa desafiadora, mas realista. Requer novas abordagens nas quais os atores do sistema alimentar devem colaborar para desenvolver soluções adaptadas localmente. Prioridades são reforçadas para algumas culturas pela inserção de novas tecnologias digitais, com potencial disruptivo da atual agricultura. Este conceito inovador está sendo desenvolvido atualmente por meio de várias iniciativas e projetos-pilotos. Um exemplo é a vinícola Mediterrânea em Montpellier, na França.
Efeito cascata do impacto das alterações climáticas na distribuição de pragas agrícolas
Projeção de T. evansi (a) em 2050 (Scenario CSIRO MK 3.0) na bacia mediterrânea (b: Migeon et al., 2009). Manipulação do ecossistema agrícola, através da introdução de ácaros exóticos predadores Phytoseiulus longipes (c) na área invadida, são métodos em estudo para controlo destas pragas destrutivas em solanáceas (d: plantas de tomate cobertas de teias de ácaros).
Prever o potencial de pragas invasivas sob cenários de alterações climáticas é necessário. Como exemplo, o ácaro vermelho do tomate, Tetranychys evansi, nativo da América do Sul, tem emergido como nova praga danosa em áreas mais temperadas do planeta, como na Europa. Há provas que diferentes genótipos de T. evansi estão respondendo ao clima de diversas formas, e isso tem permitido às populações adaptarem-se e tornarem-se invasivas (Migeon et al., 2015). Modelos de distribuição de nichos ajudam a predizer a influência das mudanças climáticas sobre essas transições em um futuro próximo (Meynard et al., 2013). Os processos de expansão e adaptação de pragas e também de inimigos naturais são fundamentais para entender o impacto que pragas importantes de cultivos agrícolas têm ou terão nas populações, comunidades e ecossistemas sob novas condições climáticas.
Fonte: Cultivar