Pera Rocha: «A instalação dos jovens no setor é extremamente importante»

A produção de pera rocha deverá ter, este ano, uma quebra de 50%, situação que tem deixado os produtores preocupados. A produção do fruto está comprometida pela seca que se tem sentido. Em entrevista ao Agronegócios, Aristides Sécio, presidente da direção da Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha (ANP), fala dos desafios e preocupações, entre eles, «os custos de produção elevados» que tornam «a atividade cada vez menos atrativa». A ANP estima que na fileira estejam instalados mais de cinco mil produtores que criam diretamente 4700 postos de trabalho e que, na época das colheitas, emprega 150 mil pessoas por dia. As exportações (que rondarão os 100 milhões de euros) e os investimentos no setor são outros temas em análise numa conversa sobre o fruto considerado pela ministra da Agricultura, Assunção Cristas, como «a estrela da agricultura portuguesa».

pera rocha

Agronegócios: A pera rocha tem sido uma das bandeiras do setor das frutas para a internacionalização. Quando é que o mercado externo começou a ser uma realidade e a que se deveu esse salto, em concreto?

Aristides Sécio: Há mais de 30 que a pera rocha é exportada, começou por ser enviada para os chamados «mercados da saudade», como foi o caso por exemplo do Brasil, França e Canadá, tendo sido gradualmente conhecida noutras geografias, graças às suas características únicas, em face das suas qualidades organoléticas, boa resistência ao transporte e à sua lenta maturação em ambiente natural.

AN: Quais são as atuais preocupações do setor e com que dificuldades se debatem os agricultores?

AS: Como qualquer outra atividade são sempre muitas as preocupações desta fileira, nomeadamente questões relacionadas com as aleatoriedades climáticas, custos dos fatores de produção, a limitação cada vez maior dos meios de combate aos problemas fitossanitários, próprios dos países do sul da Europa, os custos da burocracia pública, uma postura leonina por parte da generalidade das empresas de distribuição que cada vez mais condiciona a viabilidade dos setores produtivos, a falta de uma política de investigação pública direcionada ao setor agrícola, a ausência de um projeto nacional para o aproveitamento hídrico, capaz de dar resposta às necessidades da fileira, etc.

AN: A conservação do produto é algo que também o torna único e que ajuda no campo da exportação. Ao nível de inovação, processos e tecnologias, o setor está bem apetrechado? Que problemas existem, eventualmente, nesta matéria?

AS: Efetivamente nos últimos anos a fileira da pera rocha tem vindo a fazer fortes investimentos ao nível da inovação de procedimentos, usando para tal as mais modernas tecnologias disponíveis para o setor. Hoje a generalidade das nossas centrais estão dotadas do que há de mais moderno nos sistemas de frio. Todavia em face de alterações legislativas da União Europeia (UE) têm sido retirados alguns meios que permitiam uma melhor conservação, sem que estejam disponíveis alternativas eficazes, impedindo os produtores europeus de poderem concorrer com as produções de outras latitudes, as quais estão autorizadas a enviarem para a Europa, frutas tratadas com produtos que no espaço europeu não são permitidos.

Investimentos

AN: Os investimentos das empresas e agricultores a este nível são elevados? E os custos de produção? De que forma são compensados?

AS: São muito elevados os investimentos necessários para tornar viáveis as explorações agrícolas e as centrais fruteiras, ao mesmo tempo que é necessário responder à multiplicidade de sistemas de certificação de procedimentos exigidos, cujos custos são bastante acentuados o que tornam os custos de produção igualmente elevados. Infelizmente nem sempre se consegue fazer face aos custos de produção, dado que é uma atividade muito exposta às alterações climatéricas e às excessivas exigências das empresas de distribuição, que de uma forma geral são implacáveis com os preços a pagar à produção, verificando-se normalmente uma margem substancial entre o que é pago à produção e o preço que o consumidor paga. Estas condicionantes têm contribuído nos últimos anos para resultados negativos do setor produtivo, contribuindo para o desaparecimento de algumas empresas.

pera

AN: A pera rocha é hoje uma atividade económica atrativa para investimento por parte dos produtores profissionais e novos produtores?

AS: A produção de pera rocha é bastante complexa e exige conhecimentos técnicos aprofundados pelo que, como atrás referi, tem custos de produção elevados o que torna a atividade cada vez menos atrativa, sobre tudo para os produtores profissionais, pelo que o abraçar desta atividade por novos produtores, deve ser uma decisão muito ponderada face aos avultados investimentos necessários e ao baixo e lento retorno do investimento realizado.

AN: Tem havido, nos últimos anos, jovens a apostar no setor desta fruta? O que os move e que importância têm tido na fileira?

AS: Naturalmente que tem havido pessoas novas a apostar no setor da fruticultura, na maioria dos casos são jovens descendentes de agricultores há muito instalados, mas verifica-se também, através de projetos cofinanciados, a instalação de jovens agricultores a abraçar a atividade. A instalação dos jovens no setor é extremamente importante, desde logo porque asseguram a continuidade das explorações com novas visões, com mais e adequada formação, fator decisivo na gestão de qualquer empresa, por outro lado e também face à escassez de outras oportunidades de trabalho/investimento, trazem para a agricultura investimentos avultados com uso de tecnologias modernas que são fundamentais para a viabilidade do setor primário.

AN: Quantos produtores existem no país atualmente?

AS: A ANP estima que na fileira da pera rocha estejam instalados mais de cinco mil produtores que criam diretamente 4700 postos de trabalho e que na época das colheitas emprega cerca de 150 mil pessoas por dia, para além de criar uma atividade económica de grande expressão em toda a região Oeste, sendo responsável por milhares de postos de trabalho indiretos.

AN: Na sua opinião qual o valor acrescentado que a pera rocha tem dado à produção nacional?

AS: Muito, desde logo pelo forte contributo para o equilíbrio da balança comercial, sendo mesmo o produto hortofrutícola com maior saldo positivo nas transações com o exterior, acima de 20%. Por outro lado constituiu um exemplo claro de que a agricultura portuguesa tem um grande potencial para exportar, dada a sua excelente qualidade bastando para tal uma melhor organização para a centralização de procedimentos e de oferta nos mercados internacionais.

AN: Qual a produção nacional atual (últimos valores dos últimos cinco anos, se os tiver)?

AS: Na colheita de 2014 a produção nacional ultrapassou as 200 mil toneladas sendo que 85% foi produzido pelas associadas da ANP. Nos últimos cinco anos estimamos que tenham sido produzidas 1.060.000 toneladas das quais 706 mil pelos produtores das central nossas associadas.

AN: Qual o valor de produção esperado para 2015?

AS: Estamos perante um ano atípico em face das condicionantes climáticas de vária ordem que se fizeram sentir. Estima-se uma redução substancial da produção que rondará os 50% pelo que a produção em 2015 rondará as 100 mil toneladas.

Exportações

AN: Falando das exportações. Pode dar-me valores da última década por exemplo? Desde que ano, essencialmente, começou a pera rocha a ter sucesso ao nível da internacionalização?

AS: A tonelagem produzida nos últimos dez anos rondará 1.800.000 toneladas, estimando-se que as exportações nesse período tenham atingido as 800 mil toneladas.

pera

AN: Qual o peso do valor das exportações de pera no setor agrícola (dados mais recentes que tenha disponível)?

AS: As exportações de pera rocha rondarão os 100 milhões de euros.

AN: Quais os mercados mais importantes (em termos de peso) e que novos mercados estão em marcha no futuro?

AS: Os mercados com mais expressão na importação de pera rocha têm sido o Brasil, a Inglaterra, a França e Marrocos. Neste momento há um esforço das nossas associadas na divulgação e abertura de novos mercados, um pouco por todo o mundo, estando em fase mais adiantada de abertura, os mercados da Colômbia, Peru e o México, no entanto verificam-se incursões importantes em diversos países da Ásia. Todavia há ainda grande potencial nos mercados europeus, quer os que já são consumidores quer outros onde o produto não é tão conhecido.

AN: Como olha para a forma como o atual Governo tem dado importância à pera rocha?

AS: O atual Governo tem tido um papel importante, sobretudo com a diplomacia económica levada a cabo, na tentativa de abertura de novos mercados, de uma forma geral têm-se associado a grandes ações de promoção internacional como foi caso recente na feira internacional Fruit Logística de Berlim, o maior evento mundial de promoção de frutas e legumes.

AN: Qual o contributo mais relevante da ANP para o setor e quais as vossas prioridades atuais?

AS: A ANP tem como principal missão a promoção e divulgação da pera rocha e é a gestora da DOP - Denominação de Origem Protegida, detém a marca PERA ROCHA DO OESTE que garante a genuinidade do produto com a garantia de embalamento, respeitando as normas estabelecidas e observadas pela entidade certificadora Codimaco. Neste momento a ANP está a iniciar a execução de um projeto de promoção da pera rocha no estrangeiro cujo orçamento global ascende a um milhão de euros, a primeira ação acabou de ter lugar com a vinda de um conjunto de jornalistas de órgãos de comunicação social de vários países, dando-lhes a conhecer as características e potencialidades deste fruto genuinamente português a PERA ROCHA.

Saiba mais sobre a pera rocha aqui:

Pera Rocha bate recordes de exportação

Associação investe um milhão de euros na promoção da pera rocha

Produtores de pera rocha esperam quebra de 50%

Fotos: ANP e Agronegócios

Regiões

Notícias por região de Portugal

Tooltip