Penamacor é o primeiro concelho abrangido pelo regadio de Cova da Beira

A construção do Bloco de Rega da Meimoa, no início da década de 1990, foi uma das obras mais importantes em Penamacor e o primeiro passo para a concretização do Regadio da Cova da Beira.

Reivindicado desde o tempo do Estado Novo, o Regadio da Cova da Beira, projeto que aproveitando a gravidade permite levar água aos concelhos de Penamacor, Belmonte, Covilhã, Fundão e Sabugal, num total de 12.500 hectares, demorou várias décadas a chegar ao terreno e outras tantas a ficar concluído.

Foram mais de 30 anos de obra até que o Regadio ficasse concluído, conforme se lê na placa descerrada em 2015 pela então ministra da Agricultura, Assunção Cristas, e na qual figuram as datas de conclusão de cada um dos blocos.

A encabeçar a lista estão exatamente os trabalhos realizados em Penamacor. Primeiro, a Barragem da Meimoa (concluída em 1986) e, depois, o Bloco de Rega (1993), que se estende por 3.400 hectares. A água chegava finalmente a campos onde nunca tinha sido possível regar.

«Foi uma bênção. Passámos a ter água com fartura e a poder fazer culturas de regadio», recorda António Soares, 62 anos, que antes de se dedicar à agricultura começou por tentar a sorte em Lisboa, de onde regressou pouco antes de a Barragem da Meimoa começar a ser construída.

Da montagem do estaleiro, passando pela construção da barragem e mais tarde pelo canal condutor, António Soares acompanhou tudo de perto. Trabalhou como motorista nas empresas que realizaram as diferentes fases da obra deste bloco de rega. No final, manteve-se na terra onde nasceu, dedicando-se à produção agrícola. O regadio foi peça fundamental na hora de tomar a decisão: «sem ele, se calhar tinha ficado nas empresas ou, como outros fizeram, teria emigrado», aponta.

Não foi caso único. Luís Cabanas, produtor agrícola, que foi o primeiro presidente eleito da Associação de Regantes da Cova da Beira, também viveu um período em Lisboa, tendo voltado na altura em que este primeiro bloco do Regadio da Cova da Beira ficou concluído. Apostou na agricultura e garante que não o teria feito se não fosse a existência do regadio.

De resto, o Bloco da Meimoa também assumiu importância em termos reivindicativos. O facto de haver uma parte do projeto global já concretizada e de não fazer qualquer sentido não tirar o melhor aproveitamento desse investimento foi argumento muitas vezes repetido nos anos seguintes, quando as restantes obras do sistema tardavam em ser lançadas.

«Foram tempos em que não sabíamos o que iria acontecer. Não havia dinheiro, nem fundos, nem peso reivindicativo. Lutávamos com o que tínhamos, uma obra iniciada e que tinha de ser concluída para, efetivamente, poder beneficiar o território», recorda António Cardoso, que presidiu à Associação de Regantes, entre 2001 e 2008.

António Cardoso sublinha o papel relevante que a obra também teve a nível local e só lamenta que tenha chegado com muitos anos de atraso e sem o prometido emparcelamento, ou seja, sem a junção de pequenas parcelas de terra.

Uma crítica partilhada por muitos, como o atual presidente da Câmara de Penamacor, que reconhece as virtudes do projeto, mas gostaria de poder tirar mais proveito do mesmo.

«Foi uma obra importantíssima para o concelho, pena é que não se tenha resolvido o problema do minifúndio da propriedade, que ainda hoje nos cria enormes obstáculos à captação de investimento agrícola. Ainda assim, a mais-valia existe e é por isso que estamos a desenvolver todos os esforços para alargar o seu potencial, nomeadamente na fileira hortícola», diz António Luís Beites.

De olhos postos no futuro está também a Associação de Regantes, que pretende apresentar uma candidatura ao Programa de Desenvolvimento Rural (PDR 2020) para a reabilitação e valorização do Bloco da Meimoa, como explica António Gomes, atual presidente desta entidade.

Um investimento estimado de cerca de dois milhões de euros, que, não podendo resolver o problema do envelhecimento dos produtores ou do abandono dos campos, poderá, pelo menos, pôr fim às fugas de água e outros problemas típicos de uma estrutura que já tem 30 anos.

Fonte: Lusa
 

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