Panasco: Dactylis glomerata (Família: Poaceae)

Panasco: Dactylis glomerata (Família: Poaceae

Por: Carlos Aguiar e Francisco Mondragão Rodrigues, SPPF - Sociedade Portuguesa
de Pastagens e Forragens

Origem

Bacia do Mediterrânico; Europa e Ásia de clima temperado até à China. Introduzida como planta pratense em muitos outros territórios de clima temperado ou mediterrânico (e.g. Açores, Madeira, Américas do Norte e do Sul, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul).

Como distinguir no campo

Corpo vegetativo

Planta perene, sem pelos (glabra) e formando toiças densas de caules (cespitosa). Caules até 1,2 m, espalmados na base. Folhas largas (4-12 mm), sem nervuras evidentes, sem aurículas, de lígula muito comprida branca e irregular, aquilhadas na extremidade apical; bainhas e folhas jovens dobradas pelo meio (conduplicadas).

O panasco é uma das poucas gramíneas que se identifica com facilidade na fase vegetativa porque apresenta pseudocaules (estrutura que resulta da compactação das bainhas das folhas antes do encanamento) espalmados e folhas conduplicadas. Na maior parte das gramíneas os pseudocaules são roliços e as folhas enroladas em espiral (convolutas).

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Flores e inflorescência

O nome genérico Dactylis provém do grego dactylos “dedo”; o restritivo glomeratus “como uma bola” é latino. O nome científico do panasco resume a melhor forma de distinguir esta espécie – sobretudo as plantas da subsp. glomerata – na fase reprodutiva: uma panícula ereta de espiguetas organizadas em grupos compactos, onde o ramo inferior parece separar-se dos restantes como o dedo polegar numa mão erguida. Espiguetas com 3-6 flores. Floração entre maio e agosto.

Variabilidade

O panasco é uma espécie complexa. Em função da morfologia e do número de cromossomas são correntemente aceites pelo menos dezoito subespécies. A Euro+Med Plantbase admite a presença de cinco subespécies em Portugal: glomerata, hackelii (= marina), izcoi, lusitanica e hispanica. A subsp. hackelii com as suas folhas papilosas e ecologia litoral tem um escasso interesse agronómico. As subsp. glomerata, izcoi e lusitanica são difíceis senão impossíveis de distinguir no campo, por essa razão são reunidas por muitos autores numa subsp. glomerata s.l. (de sentido lato), critério este seguido nesta ficha.

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As subespécies glomerata s.l. e hispanica distinguem-se com base nos seguintes caracteres:

  • Subsp. glomerata s.l.– Folhas largas (até 12 mm). Inflorescência ampla (aberta). Eixos secundários da inflorescência (ramos diretamente inseridos no eixo primário que resulta do prolongamento do colmo) longos; o eixo secundário inferior maior do que o primeiro entre-nó do eixo primário. Lema geralmente bidentada e com uma arista até 1,5 mm. Frequente nas regiões mais húmidas de Portugal (e.g. faixa litoral e sublitoral oeste, noroeste e montanhas) em lameiros, pousios de terras profundas, orlas de bosque, taludes terrosos e margens de caminhos. As cultivares comercializadas em Portugal enquadram-se nesta subespécie.
  • Subsp. hispanica.– Folhas mais estreitas (até 4,5 mm). Inflorescência contraída (compacta), raramente com mais de 1 cm de largura. Eixos secundários da inflorescência curtos, menores do que o primeiro entre-nó do eixo primário da panícula. Ápice das lemas lobulados e com uma arista até 1 mm. Frequente em orlas de bosques, clareiras de matos, taludes e margens de caminhos em áreas de clima mediterrânico.

Ecologia

Sobe desde o litoral a grande altitude (atinge os 2500 m nos Alpes). Requer valores de precipitação de pelo menos 450 a 650 mm. Cessa o crescimento quando as temperaturas são inferiores a 5,0 ºC. Prefere solos moderadamente ácidos a alcalinos (pH entre 5,8 e 7,5, de preferência), húmidos mas bem drenados. Para além de não suportar períodos prolongados de excesso de humidade no solo, também vegeta bem em solos salinos. Indiferente à textura e à fertilidade do solo, por desenvolver um forte sistema radicular que favorece a adaptação a situações menos favoráveis. Ao contrário do azevém-perene (Lolium perenne) suporta bem o ensombramento, grandes variações de humidade no solo ao longo do ano, e verões secos (as cultivares de proveniência mediterrânica como a ‘Kasbah’ ou a ‘Porto’ entram em dormência estival). O corte favorece mais esta espécie do que o pastoreio. Aguenta razoavelmente o pastoreio mas é prejudicada por pressões de pastoreio demasiado elevadas, sobretudo quando o solo está muito húmido, ou por ovelhas no verão. O pastoreio estival intensivo por ovelhas é uma das explicações do insucesso desta espécie em algumas pastagens de sequeiro. Tomando o L. perenne como referência, o Dactylis produz uma biomassa de menor qualidade alimentar mas consome menos azoto para produzir a mesma quantidade de biomassa.

Implantação e maneio

A implantação do panasco numa pastagem deve ser feita no período de Outono-Inverno, sobre uma cama de sementeira bem preparada. Evitar enterrar as sementes a mais de 2 cm de profundidade, pela reduzida dimensão das mesmas (1000 sementes pesam 1,2 a 1,4 g). O panasco é geralmente semeado em misturas com outras gramíneas e leguminosas, à razão de 1 a 4 kg/ha. Quando semeado estreme a quantidade de semente a usar pode alcançar os 15-20 kg/ha. Esta espécie germina com facilidade, mais rapidamente até do que outras gramíneas, mas apresenta um desenvolvimento lento nas primeiras fases do ciclo. O crescimento lento na primavera do ano de implantação é compensado posteriormente por um desenvolvimento acelerado. Em pastagens de sequeiro, deve-se ter algum cuidado com o pastoreio no ano de implantação, para deixar que as plantas produzam semente suficiente de modo a assegurar uma boa persistência desta espécie na pastagem. Deve-se evitar o sobrepastoreio que poderá levar à diminuição da persistência do panasco. Cuidados acrescidos devem ser tomados em pastoreio com ovinos que efetuam um corte mais rente ao solo e podem comprometer seriamente a manutenção desta espécie na pastagem. Responde muito bem à fertilização azotada (recomendada quando se efetuam cortes em verde ou para feno) e ao regadio. Em pastagens bem estabelecidas, o seu crescimento arranca mais rapidamente que o de outras gramíneas após as primeiras chuvas outonais e prolonga-se até mais tarde em condições de ensombramento, nomeadamente em pastagens sob-coberto (e.g. montados de azinho ou de sobro).

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Possibilidades de uso

O panasco é geralmente usado em misturas com outras gramíneas e leguminosas em pastagens permanentes. Esta espécie pode ser usada para pastoreio direto, corte em verde, produção de feno ou silagem. As pastagens que incluem o panasco são apropriadas para todas as espécies pecuárias, havendo algumas referências na bibliografia que as recomendam para a criação de cervídeos (veado, corço, gamo, etc.). Proporciona uma pastagem de excelente qualidade, tendo a particularidade de continuar a crescer durante o pastoreio, desde que as condições de humidade e temperaturas sejam as adequadas. Este facto faz com que seja uma das espécies mais difundidas nas pastagens de sequeiro e de regadio, em Portugal e no Mundo. Ao crescer bem em condições de ensombramento apresenta boas produções em pastagens sob coberto, frequentes em muitas regiões de Portugal. As plantas apresentam teores de açúcares mais elevados que os de outras gramíneas, pelo que a biomassa que produz é mais apetecida pelos animais. No entanto, a palatabilidade diminui abruptamente a partir do final da floração.

Variedades comerciais

Consideram-se 2 grandes grupos de variedades: um que agrupa as variedades de climas frios ou temperados, do Norte da Europa, com plantas resistentes ao frio, com dormência invernal e crescimento ativo no verão; outro, designado por “mediterrânico”, com variedades cujas plantas apresentam crescimento Outono-Invernal e são resistentes à secura, algumas com dormência estival. As primeiras apenas são adequadas para zonas de altitude da região Norte enquanto que as outras são indicadas para a generalidade do País. As variedades comerciais mais difundidas em Portugal pertencem ao grupo das “mediterrânicas” e são a “Kasbah”, a “Currie” e a “Porto”. A “Kasbah” é a mais precoce, resiste muito bem à secura, apresenta dormência estival, vai bem a partir de 350 mm de precipitação e adapta-se bem a solos ligeiros e ácidos. A “Currie”, de ciclo médio a tardio, é indicada para pastagens de sequeiro por ser resistente à secura, apresenta dormência estival relativa, adequada para misturas e consociações e requer 450-500 mm. A “Porto” é uma variedade tardia, indicada para regadio (em sequeiro só a Norte do Mondego), que requer mais de 500 mm de precipitação. Em 2011, o INRB-L/INIA de Elvas inscreveu no Catálogo Nacional de Variedades a variedade “Delta 1”, de ciclo médio, muito produtiva, sem dormência estival e resistente à secura.

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