Opinião: O desperdício da água e os abacates!

Opinião de João Paulo Pereira

abacate

O Alqueva é o exemplo claro de como o regadio faz toda a diferença na agricultura. Porém irrigou também o populismo fácil e fertilizou a desinformação superintensiva! Escreveu-se que «qualquer Ministra da Agricultura estaria em pânico com as culturas intensivas, à conta da água do Alqueva». Eu diria antes: qualquer Ministra da Agricultura estaria em pânico, se não tivesse um Alqueva que permitiu a transformação completa da agricultura no Alentejo! Pena que tivesse demorado tantos anos a construir.

Surgiram agora vozes que procuram limitar as plantações de abacates, revoltadas contra aquilo que chamam de monocultura. Monocultura? Os abacates representam apenas 7% da área frutícola do Algarve, enquanto os citrinos, em 2019, representavam 80%. É contra esta «monocultura» de 7% que estão contra?

Apontam também a questão das estufas do Sudoeste e da «exaurida barragem de Santa Clara!» Por acaso sabem estes «especialistas», que o sistema de rega desta barragem desperdiça (em permanência!) uma parte significativa dessa água para o mar? É uma dor de alma! E que tal se lutassem antes para uma disponibilização de fundos para a modernização do sistema de canais, evitando o desperdício? Mas não, preferem indignar-se contra a «recente moda do abacate». Este populismo fácil «paga», sabemos! Mas não é sério!

É claro que o abacate consome muita água! Todos concordamos! Mas convém comparar com as outras frutas! Bem que poderiam antes de opinar, procurar informar-se! Não junto dos agricultores (porque sendo parte interessada poderão ser tidos como tendenciosos), mas junto das fontes oficiais, em princípio, credíveis e imparciais.

Não vou referir números pois todos eles estão devidamente publicados (Armindo Rosa, Rega de Culturas, edição da DRAPALG, 2019). Basta consultar antes de emitir opinião. Dá trabalho? Pois dá, mas é a única forma de não falar de cor! Apenas direi que os abacates encontram-se a meio da tabela do consumo de água, abaixo dos citrinos, diospireiros, nogueiras, romãzeiras ou vinha.

Dizem que «anda tudo à maluca a plantar abacate no Algarve, em grandes plantações intensivas que secam os poços e os furos dos agricultores locais». Então, mas a água das captações subterrâneas que os abacates usam não é exatamente a mesma? O problema não são os abacates, é a água. Se é água pela água, os abacates consomem menos que os citrinos ou que a vinha, por exemplo, e contra estes ninguém se insurge!

Mas imaginemos que, isso sim, o problema é não ser uma cultura autóctone! Aconselho-os primeiro, a enumerar as culturas autóctones; e depois a convencer os agricultores a produzirem aquilo que o mercado não valoriza!

«Mas não conseguimos viver sem o abacate?» Claro que conseguimos! Podemos viver sem o abacate, sem alfarrobeiras, sem amendoeiras, sem carvalhos, sem eucaliptos, sem pinhais, sem vinha e até sem sobreiros regados. Podemos importar tudo, mas alguém calculou a pegada de carbono associada ao transporte transcontinental dos produtos que diariamente compramos no supermercado?

Acusam os agricultores que, por terem sistemas de rega evoluídos que permitem reduzir os consumos de água, tudo lhes é permitido! A primeira parte é verdade. A segunda é uma lucubração de má-fé!

Em Israel aproveitam a água da chuva, depuram a água, colocam as ETAR a funcionar corretamente e dessalinizam já uma grande quantidade da água do mar (31% da água utilizada nos sistemas de irrigação provêm do tratamento de águas residuais). Parte do deserto do Negev é irrigado por uma estação com qualidade muito próxima da usada para consumo humano, tratando águas residuais de Telavive onde vivem 300 mil pessoas. Mas o mais importante é o muito baixo desperdício que Israel faz da água. Se na maioria dos países o desperdício é de cerca de 30%, em Israel não ultrapassa os 7%.

Já quanto a nós, as perdas de água nas redes de distribuição (só em 2016) foram de 155 milhões de metros cúbicos. Aproveitamos uma ínfima parte da água da chuva e mesmo assim, uma parte significativa é desperdiçada.
E que tal se começássemos por aqui?

in Diário de Notícias

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