«O OOWC pretende ser um instrumento construído por todos» entrevista a Ricardo Miguelánez
No próximo ano, nos dias 26, 27 e 28 de junho, a sala de reuniões do Conselho Superior de Investigações Científicas, em Madrid, acolherá todos os operadores da cadeia de valor do azeite a nível mundial, com o objetivo de promover a colaboração entre os diferentes elos da cadeia oleícola. A Agrotec é parceira do Congresso Mundial do Azeite e esteve à conversa com Ricardo Miguelánez, coordenador do projeto.
AGROTEC: Quando e onde se realizará o Congresso Mundial do Azeite em 2024?
RICARDO MIGUELÁNEZ: O Olive Oil World Congress (OOWC) é um projeto criado pela Agrifood Comunicación, em colaboração com todo o setor, que terá lugar em Madrid em junho de 2024. Será um local rotativo mas, para a 1.ª edição estamos a fazê-lo em Espanha porque é onde vivemos e também tem meios e infra-estruturas suficientes para poder ser realizado com garantias.
AG: Qual é o objetivo da organização deste evento?
RM: O Olive Oil World Congress (OOWC) é um projeto colaborativo construído por todos os elos da cadeia do azeite nos países produtores, com o objetivo de promover o conhecimento sobre o produto e o setor. Desta forma, as associações, empresas e instituições que queiram aderir a esta iniciativa podem contribuir com o seu conhecimento e experiência para que as mensagens e acções, acordadas entre todos nos órgãos de decisão do OOWC, sejam amplificadas e cheguem a todos os produtores e consumidores de azeite do mundo. Sob o lema “Taste it, Enjoy, It’s Olive Oil ”, o congresso pretende posicionar-se como uma marca reconhecida, sob a qual os diferentes elos da cadeia podem trabalhar para o objetivo comum de todos os operadores da cadeia do azeite e do óleo de bagaço de azeitona: transmitir os benefícios do produto e promovê-lo como uma categoria ou como uma marca privada.
AG: Quantos países se espera que participem no evento?
RM: Os organizadores esperam a participação dos principais países produtores e consumidores de azeite, como Portugal, Grécia, Itália, Albânia, Turquia, Tunísia, Marrocos, Argentina, Brasil, Estados Unidos e China, entre outros.
AG: Como foi o evento em Portugal, no dia 30 de junho, e qual o objetivo deste tipo de iniciativas?
RM: A resposta do setor do azeite em Portugal à apresentação do 1.º Olive Oil World Congress foi muito positiva. Durante o evento, o OOWC realizou uma conferência intitulada “O setor do azeite, soluções tecnológicas para o seu futuro”, dirigida tanto aos produtores como aos lagares do setor. Com este tipo de iniciativa, pretendemos não só internacionalizar o projeto, mas também envolver os profissionais na divulgação da organização do projeto. A apresentação já foi feita em Itália e em Portugal e vamos continuar noutros países.
AG: Que outras ações estão a promover até ao evento oficial em Madrid?
RM: O Olive Oil World Congress está a levar a cabo um programa de atividades promocionais durante o ano de 2023, que visam criar a marca Olive Oil World Congress e gerar uma comunidade de profissionais que, através destas atividades, melhoram os seus pontos de colaboração. Desta forma, queremos desenvolver a grande comunidade de todos nós que amamos este produto. A primeira das atividades teve lugar no dia 27 de fevereiro com a celebração da conferência “Olive Hoy!”, que analisou a situação do setor nos países produtores da zona mediterrânica, desde a produção até à perceção dos consumidores, passando pela indústria, tentando vislumbrar o futuro deste setor tão importante para todos os países produtores de azeite. Além disso, durante o mês de março, em Roma, apresentámos o Olive Oil World Congress a toda a cadeia de produção italiana e ao Ministério da Agricultura e Soberania Alimentar italiano, enquanto em abril o OOWC foi apresentado ao corpo diplomático de vários países acreditados em Espanha. Estes encontros serviram para realçar os objetivos desta iniciativa como uma ferramenta de colaboração entre países.
O OOWC pretende ser um instrumento construído por todos os elos da cadeia oleícola em todos os países produtores, incluindo as associações de produtores capazes de promover o conhecimento do produto e do setor, especialmente tendo em conta a situação complicada que a indústria do azeite está a atravessar neste momento. Os nossos próximos destinos serão todos os países produtores que possamos abordar nos próximos meses, antes do congresso, e também alguns países consumidores.
Por outro lado, e para promover a internacionalização do congresso, assinámos um acordo com o CIHEAM Zaragoza, uma referência internacional na investigação agroalimentar no Mediterrâneo, com o qual aumentaremos a nossa capacidade de divulgação internacional numa região estratégica para a produção e consumo de azeite como é o Mediterrâneo. Também organizámos várias conferências técnicas sobre temas de interesse para os profissionais, incluindo uma conferência sobre Denominações de Origem Protegida e Indicações Geográficas Protegidas, e outra conferência sobre a utilização do azeite na indústria alimentar.
AG: A produção de azeite para a campanha de 2022/23 está estimada em 125 000 toneladas, menos 39,4% do que na campanha anterior. Qual o motivo?
RM: A campanha de 2022/23 teve uma colheita muito fraca, pelo que se registou uma quebra na produção. Para além disso, a seca teve um efeito negativo, principalmente nos olivais tradicionais, de sequeiro, que ainda representam uma área muito significativa em Portugal: cerca de 75% da área total de olival ainda não é regada.
AG: O declínio da produção ocorreu apenas em Portugal ou também noutros países produtores de azeite?
RM: O setor do azeite a nível mundial está a passar por um momento complicado, olhando com preocupação para 2023. A situação no setor do azeite é totalmente diferente de outros anos para todos os operadores, que enfrentam uma campanha que se prevê mais curta do que o habitual. De acordo com dados do Conselho Oleícola Internacional (COI), da Comissão Europeia e do próprio setor, estima-se que a produção nos países da União Europeia tenha diminuído 34% em relação à campanha anterior. No caso da Espanha, os números provisórios da última campanha mostram uma queda de 55%, para 680 000 toneladas em 2022/23. O mesmo parece ter acontecido em Itália e Marrocos, onde se estima uma queda de 26% e 22%, respetivamente. No entanto, no caso da Grécia, estima-se que a produção para esta campanha aumente em quase 51% e em países como a Turquia, estima-se que a produção aumente em 62%, para 380 000 toneladas. Porém, em termos gerais, estima-se que a produção de azeite a nível mundial diminua 20% em relação à campanha anterior, situando-se em cerca de 2 700 000 toneladas em 2022/23.