O impacto do Centro de Frutologia Compal na agricultura nacional

O Centro de Frutologia Compal (CFC) foi criado em 2012, com o principal objetivo de estimular a inovação no setor frutícola ao longo da cadeia de valor, valorizando a fruta nacional nas variadas vertentes. Atualmente, representa um apoio essencial para vários fruticultores, que beneficiaram da inovação por este concretizada. Madalena Faria, uma das responsáveis do Centro, esteve à conversa com o Agronegócios e explicou o trabalho dos últimos anos.

Centro Frutologia Compal

AGRONEGÓCIOS: Em primeiro lugar, gostaria que nos fizesse uma pequena introdução sobre o Centro Frutologia da Compal.

MADALENA FARIA: O Centro de Frutologia Compal (CFC) começou por ser um sonho e de certa forma uma aventura que iniciámos sabendo que nos estaríamos a desafiar a nós próprios e àqueles com quem passámos a trabalhar em parceria, tendo como mote a valorização da fruta nacional. Sabíamos que o setor enfrentava alguns desafios aos quais era necessário dar resposta.

O CFC foi criado em 2012, com o principal objetivo de estimular a inovação no sector frutícola ao longo da cadeia de valor, valorizando a fruta nacional nas vertentes da produção, da transformação e do consumo, através de iniciativas de investigação, formação e/ou sensibilização.

Com um espírito colaborativo e multidisciplinar, o CFC reúne entidades e organizações do setor frutícola, públicas e privadas, governamentais, académicas empresariais e associativas, sempre em torno da valorização da fruta nacional. Dentro dos pilares de atividades do CFC, destacamos o pilar da “Academia”, que promove formação no sector frutícola a jovens empreendedores que querem desenvolver os seus negócios, no âmbito da fruticultura, programa este que conta com a atribuição de três bolsas no final de cada edição, para ajudar a concretizar os projetos de investimento que são selecionados pelo painel de jurados.

É um projeto de extrema importância para a marca Compal, que conta já com oito anos de existência, com muito conhecimento gerado e partilhado entre os diferentes stakeholders, com o objetivo único de promoção do sector frutícola em Portugal, essencialmente numa perspetiva de inovação.

AG: “Colaborar para promover a inovação no setor agrícola” é o grande mote deste projeto. Atualmente vivemos uma situação complicada, devido à pandemia da Covid-19. Como é que tal veio alterar essa missão?

MF: Considerando as condicionantes atuais, e encarando-as não como problemas, mas como oportunidades, lançamos este ano a “Academia 2020” com algumas características novas. Decorre integralmente em formato online, explorando os desafios do novo contexto mundial, onde o digital se impõe.

Em 2020, assume o objetivo complementar de reforçar as competências que permitem capacitar os empreendedores frutícolas para a transformação digital do seu negócio, abordando temas como os mercados digitais e as mais-valias para os empresários frutícolas, como escalar um negócio no digital, logística e pagamentos adaptados ao contexto online, bem como agricultura de precisão e sistemas digitais de suporte à tomada de decisão. 

AG: Criaram alguns apoios específicos para os produtores tendo em conta a situação atual? Reforçaram recursos?

MF: Os recursos que reforçámos na Academia prendem-se com a aposta no digital, ao promovermos a participação e a criação de networking com empresas especializadas na digitalização agrícola e na comercialização digital.

Na edição deste ano, estão a ser abordados temas como os mercados digitais e as maisvalias para os empresários frutícolas. Para além disso, iremos atribuir, como em edições anteriores, três bolsas de instalação, no total de 60 000 euros, para os três melhores projetos dos empresários frutícolas participantes na edição deste ano.

A digitalização da agricultura e as parcerias como base de crescimento

AG: Recentemente, a aposta voltou-se para as competências digitais. É esse o futuro do setor, correto? Têm em vista novos projetos nesse seguimento?

MF: Embora muitos ainda tenham a perceção de um mundo agrícola algo rudimentar e manual, a verdade é que o setor tem vindo a desenvolver alterações profundas, modernizando-se e utilizando cada vez mais a tecnologia.

Se a transformação digital já era uma realidade, o contexto de pandemia veio acelerá-la e reforçá-la. Da produção ao consumo, são muitos os exemplos desta mudança de paradigma: agricultura de precisão, em que o agricultor tem no seu tablet ou telemóvel a informação para gerir, por exemplo, a água que utiliza no solo e dá a “ordem de comando” a partir do seu dispositivo; a utilização de drones, que permitem, por exemplo, recolher informação sobre as árvores, sobre o solo, sobre pragas; lojas online; páginas de Facebook e Instagram, onde os consumidores podem acompanhar a evolução dos trabalhos no terreno e das culturas, entre outros.

Assim como a “Academia 2020” foi repensada para ter como principal foco a transformação digital, estaremos sempre atentos e a pensar no desenvolvimento de novas oportunidades que possam reforçar estas competências, que cada vez mais farão sentido na gestão de um negócio frutícola. 

AG: Os parceiros têm vindo a aumentar. O que consideram aliciante neste projeto para as restantes empresas?

MF: O mais aliciante neste projeto para essas entidades, organizações e empresas, e mesmo para os próprios formandos é o networking que se estabelece. Através do CFC foi possível desenvolver uma rede de contactos entre os principais intervenientes no setor agrícola português. Arrisco-me a dizer que são poucos os contactos que ainda não estabelecemos.

Para as empresas parceiras, para além do networking conseguem também ficar mais próximas destes fruticultores, podendo estabelecer negócios ou parcerias com eles no futuro e, também, trocar experiências e ideias, tendo em conta os objetivos do CFC: fomentar a inovação no setor frutícola e contribuir para alavancar os negócios de empresários frutícolas, valorizando o que é nacional.

Entre os formadores e parceiros nesta iniciativa, temos vindo a contar ao longo destes oito anos com entidades, organizações e profissionais do setor agrícola, tais como: Associação dos Jovens Agricultores de Portugal (AJAP); Associação dos Produtores Agrícolas da Sobrena; Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha (ANP); Associação Portuguesa de Nutrição; Boa Energia; Centro Operativo e Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN); Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas (Confagri); Crédito Agrícola de Portugal; Coopérnico; Frutalmente; Frutus - Estação Fruteira de Montejunto; Geodouro; Instituto Superior de Agronomia (ISA); Luís Sabbo Frutas do Algarve; Quinta d’Aléns; Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) e Wisecrop.

A estas, juntam-se este ano a Advanced Products Portugal e Dott, entre outros. 

A valorização do produto português 

Pomar Pedagógico Centro Frutologia Compal

AG: A valorização da produção nacional é um tema que está em cima da mesa. De que forma o Centro Frutologia estimula a respetiva?

MF: Um dos principais objetivos do CFC, desde a sua origem, sempre foi promover a valorização da produção frutícola nacional. Somos um país com excelentes condições geográficas e climatéricas que nos permitem ter uma fruta de excelência, que devemos aproveitar. O trabalho desenvolvido no âmbito do CFC assenta na valorização do que é português, ao promover um contacto mais próximo com os fruticultores, permitindo-nos conhecer diferentes formas de produção e obter conhecimentos fundamentais sobre a cadeia de valor.

Temos uma associação forte às origens, estamos no terreno, acompanhamos a realidade junto das pessoas que constroem o setor diariamente e conhecemos os desafios, promovendo a colaboração para construir as soluções. Sempre que possível, incorporamos matéria-prima nacional nos nossos produtos, privilegiando os produtores portugueses e reforçando a aposta na fruta nacional.

AG: Pode falar-nos um pouco do Observatório do projeto?

MF: Para além do pilar da “Academia”, já mencionado antes, o CFC conta ainda com o pilar do “Observatório”, que tem como objetivo a sensibilização. Estimular o consumo, disseminar conhecimento, sensibilizar para questões nutricionais. No Observatório, desenvolvemos, desde 2016, um conjunto de iniciativas de sensibilização e educação para o consumo de fruta, onde se incluem o desenvolvimento do primeiro Mapa das Frutas de Portugal, em colaboração com o Centro de Informação Geoespacial do Exército, com o apoio institucional da Direção Geral de Desenvolvimento Rural e da Associação Portuguesa de Nutrição.

Com o objetivo de promover a importância do consumo de fruta entre as crianças, criámos o primeiro pomar pedagógico interativo em Portugal, que permite a todas as crianças que o visitam um contacto privilegiado com a origem da fruta. Temos desenvolvido outras iniciativas, nomeadamente o pomar pedagógico da Quinta Pedagógica dos Olivais e a Volta a Portugal em Fruta.

No pomar pedagógico, as crianças podem conhecer inúmeras variedades de árvores de fruto, desde as tradicionais macieiras, pereiras e figueiras a espécies mais exóticas. E graças às várias atividades pedagógicas e à informação disponível, podem também perceber mais sobre a fruta e descobrir o que é um fruticultor, quais os melhores meses para comer a fruta de acordo com a sua época específica e que frutas certificadas são produzidas em Portugal e em que regiões. Foi ainda aliado o ar livre à tecnologia, este é o primeiro pomar interativo do país ao permitir aos visitantes aceder nos seus dispositivos (telemóveis, tablets) a informação detalhada sobre as árvores e frutos existentes no pomar. Esta informação pode ser visualizada não só durante a visita, em tempo real, mas também, posteriormente, nas salas de aula e em casa.

A Volta a Portugal em Fruta é também uma iniciativa do Observatório que pretende colocar o Mapa das Frutas DOP e IGP nas escolas, e fazer professores e alunos utilizá-lo em contexto de ensino. O ano piloto desta iniciativa foi 2018, envolvendo apenas escolas das regiões de produção das frutas DOP e IGP, e em 2019 foi alargado para todas as regiões do país. Para além do mapa, a Volta a Portugal em Fruta disponibiliza alguns materiais pedagógicos que mostram a importância da fruta nos hábitos alimentares e transmite conhecimento sobre a mesma.

AG: Por último, quais as principais ambições para o futuro do projeto?

MF: O futuro passa por continuarmos a apostar no desenvolvimento da atividade do Centro de Frutologia Compal, através da afirmação e consolidação de uma fileira única da fruta em Portugal, mediante aposta numa estratégia integrada para a cadeia de valor da fruta que envolva os stakeholders chave para o setor. Cada vez mais, com a aposta na digitalização e utilização das oportunidades que o contexto digital nos traz.

O Centro de Frutologia Compal já formou mais de 70 empresários frutícolas e atribuiu 18 bolsas de instalação no valor global de 360 000 euros. Este ano atribuirá 20 000 euros a cada um dos três melhores projetos. No futuro, pretendemos continuar a apoiar este setor que é tão importante para a economia e sociedade nacional.

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