O impacto da Covid-19 na produção nacional

Segundo o Boletim Mensal da Agricultura e Pescas de maio, publicado pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE),  em abril foram observadas nas regiões fronteiriças algumas dificuldades na compra de palha e rações industriais, habitualmente provenientes de Espanha, devido às restrições de circulação provocadas pela pandemia de Covid-19.

Aves

Por outro lado a adoção do código de boas práticas para a realização das operações agrícolas está a ter, na fase inicial de adaptação, impacto negativo sobre a produtividade do trabalho.

Em março, assistiu-se a um aumento do volume de abate de aves e de gado, muito devido ao aumento da procura de carne. Este aumento, particularmente no caso dos suínos, foi conseguido exclusivamente à custa do abate de animais mais pesados, já que as categorias animais mais leves, destinadas sobretudo ao setor da restauração, foram fortemente penalizadas com o seu encerramento.

O aumento do consumo das famílias fez igualmente disparar a produção de ovos de galinha para consumo, que aumentou em 14,3%, e aumentar o volume de produtos lácteos em 1,7%. Em contrapartida, registou-se uma diminuição significativa das capturas de pescado em março, registado em menos 34,1%.

Abates

A ocorrência de um forte aumento da procura de carne por parte dos consumidores suscitado pela situação, contribuiu para o incremento dos abates no mês em análise.

Relativamente ao abate de gado, mais 11,4% no volume total), foi notório este impacto, sobretudo no caso dos bovinos e suínos. A variação homóloga do volume de abate dos bovinos, que ficou nos 19,8%, é a maior da última década. Nos suínos houve um aumento mais expressivo do volume de abate, registado num aumento de 9,3% comparativamente ao registado no número de cabeças, que se ficou pelos 1,6%).

Esta situação ficou a dever-se ao abate de animais mais pesados (aumento do abate das categorias porcos de engorda e reprodutores), associado a uma redução expressiva do abate de leitões. As restrições impostas pela crise pandémica no setor da restauração tiveram um efeito quase imediato, registando-se uma quebra do mercado dos leitões para assar, destinados quase exclusivamente à restauração e a grandes eventos.

No mês de março de 2020 verificou-se uma acentuada diminuição do número de leitões abatidos face ao verificado nos dois meses anteriores, tendo a taxa de variação homóloga em março de 2020 sido de menos 28,2%, face a mais 8,3%, valor da taxa em termos médios no período janeiro-fevereiro 2020.

Contrariamente, para os suínos de engorda houve um incremento de 9,7% face ao decréscimo verificado nos dois meses anteriores (-3,4% em termos médios no período janeiro-fevereiro). Destaque ainda para o abate de reprodutores de refugo, que apresentaram uma subida em março (+64,9%) após um acréscimo de +35,0% no período janeiro-fevereiro.

No caso das aves e coelhos, registou-se igualmente um maior volume de abate total, que aumentou 7,2%, isto devido ao acréscimo registado para as principais espécies de aves (frango e peru), mas também pato e codorniz.

Houve um aumento do número de frangos abatidos face ao verificado nos dois meses anteriores (+4,5% em março de 2020, face a +3,5% em termos médios no período janeiro-fevereiro 2020), bem como de perus, em que o incremento foi de 7,5% face a +0,9% verificado nos dois meses anteriores. Os patos, apresentaram uma subida em março (+2,6%), após o decréscimo de 3,3% registado no período janeiro-fevereiro. 

A produção de ovos para consumo registou igualmente um crescimento expressivo, registado em mais 14,3%, a maior variação homóloga dos últimos 20 anos.

Recolha e transformação do leite de vaca

O pico de consumo das famílias incluiu os produtos lácteos (leite, queijo e iogurtes) durante a segunda quinzena de março.

Assim, no mês em análise houve aumento das vendas das empresas do setor, e, apesar de algumas unidades terem sido já confrontadas com problemas devido à falta de pessoal, em acompanhamento familiar ou em confinamento, e escassez de equipamentos de proteção individual, não foi colocado em causa o processamento industrial (volume de produtos lácteos subiu 1,7% relativamente ao mês homólogo, com aumento dos principais produtos, exceto o queijo).

Também ao nível da produção de leite de vaca não se verificaram, em março, constrangimentos significativos, nomeadamente ao nível do fornecimento de fatores de produção, pois a recolha de leite de vaca aumentou 2,1%.

No entanto, de acordo com informação do setor, houve desde o início da crise sanitária sérios problemas de comercialização da produção no subsetor do leite de pequenos ruminantes, na medida em que o setor da restauração, muito relevante no escoamento da sua produção, em particular dos queijos de ovelha e cabra, foi fortemente afetado pela crise pandémica. Eventos, feiras, mercados locais e encontros festivos foram cancelados, prejudicando igualmente e de forma particular este subsetor.

Problemas na campanha da cereja

A campanha da cereja também está a ser afetada pelas consequências da pandemia. Existem junto dos produtores preocupações acrescidas quanto às quebras de produtividade do trabalho, pelo menos numa fase inicial de adaptação, resultantes da implementação de boas práticas indicadas para a realização de trabalhos de colheita de produtos hortofrutícolas em tempo de pandemia Covid-19, como sejam o uso de EPI ou a salvaguarda da distância de segurança entre trabalhadores, o que implicará, muitas vezes, a presença de apenas um trabalhador por árvore.

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