O efeito da pandemia económica provocado pelo coronavírus "Covid-19" no setor agroalimentar português

Na alimentação, já existem diversas necessidades sinalizadas. As empresas já se encontram em preparação e as organizações fazem diferentes recomendações aos seus associados.


A Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP) está a recomendar aos 15 mil produtores associados que comecem a planificar fatores de produção, como adubos, para enfrentar quebras de fornecimento.

«A China é um dos centros industriais de produção», afirmou o presidente da FNOP Domingos Santos ao Dinheiro Vivo. Este defende que, se as paragens aumentarem, «corremos o risco de faltarem princípios ativos ou fitofarmacêuticos», assegurando não haver ainda quebras ou oscilações de preço por aumento da procura, num momento em que arranca a produção de frutas e hortícolas ao ar livre.

«Há atenção e apreensão, mas ainda sem preocupação relativamente ao impacto nas exportações», realça também Eduardo Oliveira e Sousa, presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). «Mas as exportações agrícolas nacionais - as que mais cresceram na última década e representam 20% do total da venda de bens transacionáveis para fora, 10,5 mil milhões - sentem estes movimentos globais». O impacto vai depender de vários fatores, «a começar pela duração do surto e pela gravidade das medidas para o combater».

«A maioria das empresas está a operar normalmente», garante Pedro Queiroz, diretor-geral da Federação das Indústrias Portuguesas Agro-Alimentares. «Embora seja um mercado de grande atratividade, a China representa pouco mais de 1% dos nossos clientes e fornecedores. Já Espanha, por exemplo, nosso principal destino, merece maior preocupação». Também os retalhistas têm escapado ao impacto. «A APED (Associação Portuguesa de Empresas e Distribuição) não registou alterações ao normal funcionamento dos espaços comerciais. Consumo e abastecimento decorrem com normalidade».

Se em janeiro nada havia a declarar, um mês depois a Super Bock «criou uma comissão interna com acompanhamento médico para monitorizar a situação do Covid-19», contacto médico específico para onde os colaboradores canalizam questões e informações. Foi o que ditou o alastrar do contágio «a zonas fora da China, nomeadamente Itália, Japão, Singapura, Coreia do Sul e Irão», explica o grupo, que desencoraja viagens e especificou um conjunto de recomendações aos trabalhadores, incluindo contactos de grupos de risco com o gabinete médico de forma a facilitar a «monitorização do estado clínico e despiste de qualquer possível incubação». A empresa liderada por Rui Lopes Ferreira reforçou a aposta na China em 2019, com a joint-venture com o importador local; as exportações representam um quarto das vendas, num volume de negócios de 458 milhões em que a China pesa 30% nas vendas para fora.

E os vinhos?

No vinho, o principal efeito do Covid-19 são as exportações bloqueadas para a China e o adiamento da principal feira de promoção, a Prowein Shangai para a segunda semana de junho.São duas semanas apenas mas faz o evento colidir com o programa de promoção dos vinhos nacionais e provavelmente obrigará a ViniPortugal a cancelar ações em Shenzhen e Hangzhou.

Dos mais de 820 milhões de euros de vinho que o país vendeu no ano passado, Pequim absorveu perto de 20 milhões. Mas embora o mercado chinês esteja há dois anos a fechar-se aos vinhos europeus, Portugal "ganha quota", pelo que a intenção é manter o nível de investimento. Mas há que procurar mercados alternativos, reforçando, provavelmente, as ações nos EUA.

«A administração Trump confirmou a intenção de manter a sobretaxa de 25% sobre os vinhos de Paris, Berlim, Madrid e Londres (parceiros da Airbus), o que pode abrir oportunidades», diz Jorge Monteiro, presidente da ViniPortugal.

Também a APCOR aponta impactos «na gestão diária das empresas», como o cancelamento de viagens e a ameaça de não realização de feiras, como as questões que mais preocupam as empresas da cortiça. A China é a 9.ª entre os maiores clientes das rolhas portuguesas, tendo adquirido, em 2019, cerca de 21 milhões: 2% do total das exportações nacionais.

Recentemente, a ProWein 2020, a maior feira vitivinícola do mundo, adiou a sua realização.

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