Moçambique: agricultura só terá sucesso com erradicação da pobreza

O representante da organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) em Portugal e CPLP, Hélder Mutéia, deixa o alerta: o setor agrícola em Moçambique só terá sucesso após a erradicação da pobreza e da fome.

«Só o compromisso para a erradicação global da pobreza e da fome vai permitir que haja uma atenção para a agricultura, não apenas para a produção mas também para a comercialização», declarou em Maputo o especialista moçambicano e ex-ministro da Agricultura, no âmbito da conferência “Os desafios da agroindústria em Moçambique”, organizada pelo Fórum Económico e Social de Moçambique (Mozefo).

A agricultura moçambicana, segundo o técnico da FAO, «é dominada pela agricultura de subsistência e tem como caraterística a escassez de excedentes», além da baixa produtividade e concentração em produtos que são também alimentos básicos de baixo valor por unidade de peso.

«Isso cria problemas no acesso ao mercado de forma sustentável», alertou Hélder Mutéia, vincando o atraso do setor agrícola moçambicano em relação a outros países africanos, com realidades económicas, sociais e culturais similares, o que revela a existência de «um potencial para crescer muito mais».

Moçambique tem «altas vantagens comparativas e óbvias», defendeu Hélder Mutéia, na presença dos ministros da Economia e Finanças, da Educação e da vice-ministra da Agricultura, mencionando a abundância de terra e água, a preços módicos, e mão-de-obra disponível e motivada.

«Não podemos ambicionar um mercado internacional se não tivermos um mercado local forte, sólido, ou vão faltar os alicerces do processo», alertou o representante da FAO, que aconselhou também Moçambique a apoiar-se nas estruturas internacionais a que pertence, a começar na Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), mas também na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e no Mercado Comum da África Austral e Oriental (Comesa).

Por outro lado, o especialista sugeriu que o país invista na agroindústria, uma vez que «o processamento acrescenta valor, absorve excedentes, conserva e reduz as perdas, fortalece exportações, promove qualidade e tem um efeito multiplicador no emprego».

Hélder Mutéia incentivou os agricultores a constituírem-se em cooperativas, como forma de inclusão e de ganharem capacidade de negociação, instando o Estado e o setor privado a manterem uma ligação permanente, bem como as instituições de ensino para garantir formação e alcançar-se uma «agricultura moderna».

A conjuntura, de acordo com o técnico da FAO é favorável, uma vez que «há um novo entusiasmo na agricultura», quando há 30 anos os governos se desinteressaram por um setor marcado pelos preços baixos, mas que mais recentemente recrudesceu.

«O preço dos alimentos começou a subir e isso ressuscitou o interesse e os governos e empresas que continuaram a apostar na agricultura estão hoje a colher os benefícios», referiu, lembrando também que há reduções palpáveis na redução da pobreza e que, «quando alguém chega à classe média, a primeira coisa que pede é um prato de bife».

Além do previsível aumento do consumo de carne, na ordem dos 60%, a procura de cereais vai também subir, à medida que a população cresce e a pobreza diminui.

Entre os desafios globais, contam-se «distorções internacionais», traduzidas em «dumping mascarado de donativos, importações subsidiadas - em que um agricultor europeu ou americano é subsidiado até 4% e um moçambicano recebe um subsídio zero -, barreiras tarifárias e sanitárias e fitossanitárias». E ainda as mudanças climáticas, que vão obrigar a «um esfoço de mitigação e de adaptação quase sobrenatural».

Lançado pelo grupo de comunicação social privado, o Mozefo propõe-se «criar uma plataforma alargada de diálogo e ação para alavancar o crescimento económico de forma acelerada, inclusiva e sustentável», através de cinco conferências temáticas, que vão culminar no Fórum Económico e Social de Moçambique.

Fonte: Lusa

 

Regiões

Notícias por região de Portugal

Tooltip