Mirtilo: “Rei dos Antioxidantes”

A baga azul-ceroso é actualmente ex-libris de Sever do Vouga, onde lhe dedicam quatro dias de festa no final de Junho.

A Política Agrícola Comum e a globalização levaram, em Portugal, ao parcial abandono de uma das principais actividades económicas – a agricultura. Com o Programa de Iniciativa Comunitária LEADER, criado em 1991, na região de Sever do Vouga foi feita uma tentativa de implementar uma maior diversificação das actividades nas explorações agrícolas, introduzindo novas culturas, como foi o caso do Mirtilo. As primeiras plantações deste pequeno fruto surgem em Sever do Vouga na década de 90, região que, com a maior área plantada no país se tornou na capital do pequeno fruto.

Nos dias que correm os produtores de Sever do Vouga vêem 95% da sua produção exportada, com a vantagem de colocarem o Mirtilo de Sever no mercado europeu antes dos seus concorrentes, ou seja, nos meses de Maio/Junho. Grande parte da comercialização é feita pela Mirtilusa (Sociedade de Produtores Horta-Frutícolas, Lda.), que exporta cerca de 80% da produção para países da União Europeia como a Holanda, Bélgica e França.

O Mirtilo (Vaccinium corymbosum) cresce num pequeno arbusto que alcança, quando em pomar, 1 m a 1,5 m de altura, planta natural da América do Norte, e por isso, geralmente exigente em frio, é conhecido como o “Rei dos Antoxidantes” e o “Fruto da Juventude”, sendo ainda rico em vitaminas A, B, C e PP, tendo uma composição equilibrada de sais minerais como magnésio, potássio, cálcio, fósforo, ferro, manganês e ainda de açúcares, pectina, taninos, ácido cítrico, málico e tartárico.

A versatilidade culinária é outra das características que lhe está associada, combina com pratos de caça, saladas, entre outras iguarias. Na pastelaria é usado em tartes, bolos, pudins, biscoitos, gelados, batidos, no fabrico de rebuçados, não podendo deixar de se salientar o chá e compotas.

Quem pensa cultivar plantas de Mirtilo para produção de frutos tem de ter atenção ao local, solo, clima e disponibilidade de água. Segundo António Strech, na ‘Palestra do Mirtilo’, que decorreu no âmbito da Feira do Mirtilo 2012 em Sever do Vouga, “uma produção biológica eco-sustentável de Mirtilo deve atender às condições edafo-climáticas locais, basear-se na utilização dos recursos endógenos e valorizar o comércio local”. Todas as características físicas e químicas do solo são importantes, solo ácido, de pH entre os 4.0 e os 5.5 é fundamental, uma vez que a cultura absorve melhor, e de forma directa, os adubos na forma amoniacal amónia (NH4) e pode apresentar clorose de ferro quando o pH é superior. Boa drenagem na época primaveril e estival e elevado teor de matéria orgânica (>3%) são outros dos requisitos.

Do ponto de vista climático é uma planta muito flexível, havendo plantas adaptadas a todas as regiões do país, dependendo das necessidades de frio de cada planta variedade.

Uma das palestras ministradas na feira do mirtilo foi da responsabilidade da Planasa,  viveirista espanhol que se dedica à produção de plantas de mirtilo por propagação “in vitro”, sublinhando a importância da escolha das variedades e sua adaptação à região (salientando o interesse e adaptabilidade de algumas novas variedades disponíveis no mercado) e as vantagens da propagação em laboratório face à propagação tradicional, por estaca, nomeadamente quanto ao vigor inicial das plantas.  

Em Portugal, a cultura tem-se mantido relativamente livre de doenças e pragas, pelo que para se manter esta feliz conjuntura é importante que sejam escolhidas plantas de alta qualidade, saudáveis, vigorosas, livres de vírus e com um sistema radicular já bem desenvolvido, devendo optar-se por viveiros que forneçam plantas com garantias de sanidade de modo que, na situação actual,  “a cultura do Mirtilo em Portugal pode ser considerada como praticamente isenta de problemas fitossanitários”, como explicado pelo Eng.º Pedro Brás de Oliveira, do INRB.

Para este investigador é fundamental “ter em conta as principais ameaças, através de medidas de prevenção”, como por exemplo “antecedentes culturais; escolha de viveiristas certificados; época e momento da plantação; proximidade de outros produtores e limpeza de terrenos adjacentes”.

As plantações de Mirtilo podem ser afectadas por pragas, como é o caso dos ácaros, pássaros, mosca do vinagre, tripes, lagartas ou escaravelhos. Este tipo de pragas é frequente em regiões com climas semelhantes ao nosso.

A Feira do Mirtilo, uma organização conjunta da AGIM (Associação para a Gestão, Inovação e Modernização do Centro Urbano de Sever do Vouga) e da Câmara Municipal de Sever do Vouga, teve, este ano, a sua 5ª edição, contando com a presença de dezenas de milhares de visitantes, oriundos de todo o país, e de dezenas de expositores e artesãos, quase todos processando ou trabalhando com o mirtilo e seus produtos derivados.

A AGROTEC acompanhou uma das visitas técnicas, juntamente com o Sr. Secretário da Estado da Agricultura, Eng.º José Diogo Albuquerque, visitando uma exploração de um jovem agricultor, que adoptou práticas ecologicamente sustentáveis e conservacionistas, como a rega com sistema de bombagem accionado por energia solar e um sistema de enrelvamento na entre linha da plantação, tendo, na linha de plantação, e junto a cada pé, casca de pinheiro para controlo de infestantes.

Porém, a maioria dos produtores da região utiliza telas de solo para o controlo de infestantes, destacando, Pedro Sampaio, da COTESI (um dos expositores da feira), que as suas telas de solo que além de permitirem as trocas gasosas do solo, mantêm eficazmente a humidade e permitem um aquecimento precoce do solo, em comparação com os sistemas com mulchings vegetais, podendo, em boas condições uma tela manter-se por cerca de 10 anos.

Além das telas de solo, um dos produtos mais procurados pelos produtores de mirtilo é a rede anti- pássaro, embora na região de Sever do Vouga este artigo tenha menos procura do que em zonas onde a cultura se está a instalar de novo, pois o risco dos ataques de aves está reduzido pela grande quantidade de plantações.

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O Sr. Engº José Diogo Albuquerque pôde ainda visitar as instalações da Mirtilusa, onde se inteirou do processamento pós-colheita que é realizado nas instalações da central fruteira, onde se concentra a produção de várias explorações, se faz a categorização e expedição da fruta para o resto da Europa. Foi neste contexto  que o Sr. Secretário de Estado sublinhou que o Governo dará cada vez maior prioridade nos apoios a agricultores que se instalem ligados a agrupamentos de produtores, pelas maiores hipóteses de sucesso e vantagens corporativas.

A AGROTEC foi media partner da Feira do Mirtilo.

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