Mau tempo destrói culturas e leva agricultores ao desespero em tempo de pandemia sanitária

Durante o último domingo, dia 31 de maio, uma forte trovoada com queda de granizo e chuva intensa destruiu a produção agrícola de várias regiões do país. Bruno Cardoso, da Associação Inovterra, conta-nos que, além da destruição das culturas, ocorreu a «destruição psicológica» dos agricultores, já fragilizados perante a situação da pandemia sanitária. Esta é uma ideia que se traduz nas diferentes zonas do país. Os agricultores encontram-se desmotivados e esperam, agora, apoios do Ministério da Agricultura, sob pena de verem até as suas culturas do próximo ano prejudicadas.

Granizo Agricultura

Quando questionado inicialmente sobre a situação em que ficaram as exploações agrícolas da região, Bruno Cardoso afirma que «se não se perdeu 100%, perdemos 99% da produção». Segundo o representante da Associação InovTerra, perdeu-se tudo: «Perdemos vinhas, cerejeiras, tudo. Este ano não temos nada. Não vale a pena sequer pensarmos no que quer que seja. As vinhas ficaram só com as varas, as macieiras foram todas derrubadas e, se alguma cereja existia, também foi tudo destruído. Se não tivemos 100% das explorações destruídas, tivemos 99%».

Bruno Cardoso destaca, ainda, a «destruição psicológica» face a todo o processo que se tem vivido nos últimos meses. «As pessoas já estavam debilitadas com a questão da Covid-19, com o não escoamento dos produtos para alguns mercados, que estão a abrir com muito medo, e com o encerramento do canal Horeca, que já abriraram mas continuam sem comprar. Depois disto, estavamos todos a ver a luz ao fundo do túnel e, de repente, os agricultores perdem novamente a esperança». 

O representante da Inovterra realça que «ninguém previa» o que aconteceu e acredita que a situação irá «condicionar toda a vida do concelho», receando que, provavelmente, muitos agricultores abandonem as suas terras. «As pessoas trabalham, investiram dinheiro e, de repente, vai tudo por água abaixo», realça. 

«Agora temos que elaborar um pedido de audiência ao Ministério da Agricultura», afirma, destacando que a Inovterra já realizou alguns contactos, para «pelo menos, um responsável pela Agricultura nos visitar e ver os estragos que foram provocados».

«É um concelho, neste momento, completamente devastado, com a moral em baixo e com os agricultores a fazerem contas à vida para descobrirem se devem continuar nesta atividade ou não», concluiu. 

O problema sistemático e regular com as intempéries nos últimos anos

André Gouveia, técnico responsável de uma empresa distribuidora de produtos fitofarmacêuticos da região de Tarouca, afirma que as granizadas do fim-de-semana fustigaram vários concelhos da região Douro Sul.

«Toda esta zona que é caracterizada pela produção de maçã, de uva e de baga de sabugueiro foi devorada por esse granizo», explica, acrescentando que culturas como a da cereja também foram fustigadas. «Se traduzirmos todo este prejuízo em números, o valor é muito avultado e creio que estamos a falar em alguns milhões de euros de prejuízo».

Sobre o ânimo dos produtores agrícolas, André Gouveia conta que «os agricultores encontram-se desanimados» e que «estão a tentar arranjar medidas mais seguras», pois o granizo é uma intempérie que tem vindo a causar vários estragos nos últimos anos. «Aqui há 10 anos as situações aconteciam de forma esporádica mas agora não, agora tem sido mais sistemático e regular, algo anual, o que tem sido muito mau para quem diariamente trabalha nesta atividade económica», aponta.

O engenheiro explica que, se formos a analisar freguesia a freguesia de Tarouca, existem regiões mais fustigadas do que outras, como Mondim da Beira, Salzedas e São João de Tarouca, onde a perda é, praticamente, total.

André Gouveia, que representa um bom número de clientes da região, afirma que agora aguardam uma resposta por parte da tutela central. «Estamos completamente cheios de retóricas», aponta, afirmando que é necessário serem tomadas medidas que se traduzam na vivência do agricultor que, «em termos de futuro, não está muito salvaguardado, porque não existe a palavra garantia». O representante quer medidas que sejam «palpáveis» e «mensuráveis», que permitam «um futuro na agricultura».

Em outras zonas do país, a Associação Distrital de Agricultores de Castelo Branco reivindicou a declaração de estado de calamidade pública, exigindo medidas urgentes de apoio aos agricultores afetados pelo mau tempo.

Os presidentes das Câmaras do Fundão e da Covilhã, Paulo Fernandes e Vítor Pereira, respetivamente, também já apelaram publicamente ao Governo para que adote medidas de apoio aos agricultores.

Além disso, cerca de 80% da área de produção de maçã em Armamar foi destruída no fim de semana com o mau tempo, num prejuízo superior a oito milhões de euros.

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