Leite: Açores tem de ter estratégia conjunta para o setor

Jorge Rita, Presidente da Federação Agrícola dos Açores, desafiou ontem o setor dos laticínios nos Açores a «deixar de olhar para o seu próprio umbigo e conseguir uma estratégia conjunta, em todas as vertentes, com vista à expansão dos produtos lácteos para o exterior».

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O líder dos lavradores falava num seminário organizado pela eurodeputada Sofia Ribeiro, na Associação Agrícola de S. Miguel, onde também participaram os industriais de laticínios Jorge Costa Leite, Presidente do Conselho de Administração da Insulac, Eduardo Vasconcelos, Diretor de Compras da BEL, e Lurdes Rego, Diretora Geral do Grupo Marques/Solmar.

Jorge Rita criticou a indústria por obrigar os produtores a reduzirem a produção de leite, mas incentivarem os produtores a manterem as novilhas até 11 ou 12 meses à espera que seja necessário mais leite, enquanto se abatem as vacas.

«É preciso uma estratégia conjunta no marketing dos nossos produtos lácteos, na promoção comercial, na articulação da venda, e não cada um para seu lado; terá que haver menos reservas mentais», sublinhou Jorge Rita, acrescentando que «estamos todos no mesmo barco».

Deu como exemplo o CAL, o centro do leite dos Açores recentemente criado, «que devia ter sido criado há 12 anos».

O industrial Jorge Costa Leite propôs mesmo a criação de um organismo «que congregue as várias empresas, com vista à exportação internacional dos nossos produtos, à semelhança do que faz a Lactoaçores para o continente, não apenas para as cooperativas mas para as outras empresas, para obtermos economias de escala e reduzir custos».

O industrial diz que o sucesso das exportações dos produtos açorianos está «na redução dos custos de transportes, já que a distância impõe condições difíceis de competir com outros produtos de grande escala».

Jorge Costa leite deu como exemplo o que acontece na Irlanda, que criou há 20 anos uma empresa que só atua a nível da exportação dos seus produtos, integrando todas as empresas irlandeses do setor.

Criticou, por outro lado, a Comissão Europeia, por ter promovido as ajudas ao setor na redução da produção de leite apenas dois anos depois do embargo à Rússia.

«Isso prejudicou-nos muito. Se tivesse sido mais cedo, o problema seria diferente», comentou.

Aquando do período da adesão à União Europeia os Açores produziam 370 milhões de litros de leite, hoje produzem cerca de 600 milhões, num «mercado volátil, com oscilações de preços, onde agora se assiste a uma subida muito rápida, mas isso às vezes implica depois ajustamentos e novas quedas», concluiu Jorge Costa Leite.

Eduardo Vasconcelos, da BEL, falou das dificuldades em colocar produtos lácteos dos Açores no continente devido à concorrência de outros produtos estrangeiros a chegar com preços mais baratos.

«Temos de conquistar novos mercados, mas pelo lado da qualidade dos produtos e não pelo preço», sugeriu o industrial, referindo-se também aos problemas burocráticos que enfrentam nos países onde pretendem colocar os produtos.

Eduardo Vasconcelos concorda que a promoção deve ser feita como «leite dos Açores» e não individualizar os produtos, numa promoção conjunta e com uma estratégia definida sobre os países que pretendemos atingir.

Por sua vez, Lurdes Rego, dos supermercados Solmar, falou da quebra de vendas do leite ao consumidor, numa altura em que «está na moda dizer que a lactose faz mal à saúde, para além de algumas escolas nutricionais dizerem que não é preciso que os humanos consumam leite, e isso contribui para a menor venda do leite na distribuição».

Mesmo assim, adiantou, nota-se um aumento de vendas nos produtos de valor acrescentado, como o queijo e os iogurtes, «porque é mais fácil os consumidores armazenarem em casa».

Disse ainda que os distribuidores são pressionados pela concorrência e pelos consumidores a baixarem os preços e a fazerem promoções, tendo a consciência que este não é o caminho para os produtos açorianos, sugerindo que se expanda para outros países, abrindo lojas nesses países, «até porque são os próprios turistas que nos visitam a pedir, já que não podem levar na bagagem muito queijo ou manteiga».

Todos se manifestaram esperançados de que a abertura de fronteiras com os EUA, o alargamento da quota para o Canadá e a criação de outros mercados nos países da lusofonia poderão ajudar à exportação dos produtos lácteos açorianos.

A eurodeputada Sofia Ribeiro incentivou toda a fileira a unir-se neste sentido, tendo apresentado na sessão o Diretor Geral da Comissão Europeia que tem à sua responsabilidade esta área, que fez uma exposição aos presentes sobre as oportunidades e ajudas comunitárias.

Fonte: Diário dos Açores 

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