Por: José E. Silveira Matos / Universidade dos Açores
Tendo como solar a ilha de Jersey, no Canal da Mancha, os animais da raça Jersey popularizaram-se internacionalmente no final do século XIX pela sua docilidade e especialmente pelas características do seu leite. De pequeno porte (sempre menos de 500 kg), rústicos, ainda habilitados ao pastoreio, produzem naturalmente – e de forma independente da sua dieta – leite com teores de gordura e de proteína mais elevados do que a maioria das raças leiteiras.
Se é certo que produzem menos leite, a literatura é diversa e alguma considera-os mais eficientes na conversão de alimento, havendo mesmo assim animais que ultrapassam já as 10 toneladas/ano.
Na verdade, sendo uma raça que se popularizou muito nos Estados Unidos da América, surgiu nesse país uma linhagem distinta da europeia, em que os animais são mais corpulentos e produtivos, vantagem que, no entanto, compromete a referida qualidade do leite. Mas não é apenas uma questão de teor de proteína e de gordura que distingue estes animais. A diferença está também ao nível da qualidade das proteínas (especialmente as caseínas ßda caseína k, como no caso do leite de ovelha), com influência no rendimento queijeiro e do tipo de glóbulos de gordura com influência na qualidade do queijo, manteiga, leite natural e iogurtes. Assim, os produtos elaborados com leites destes animais são, geralmente, de qualidade superior em vários níveis, e por isso estes são animais de eleição dos produtores de leite e derivados em Modo de Produção Biológico. Em Portugal encontram-se animais desta raça em algumas manadas onde cumprem apenas uma missão de melhoramento do leite do tanque total. Porém, e dado o seu potencial, não são animais que estejam a ser aproveitados na sua plenitude.
A Nova Zelândia tem a maior população de vacas Jersey do mundo – cerca de 600 mil vacas leiteiras Jersey num rebanho nacional de 4,4 milhões de vacas em lactação (13,6%). Mas destas, 1,6 milhões são vacas cruzadas FriesianxJersey (36 % do rebanho).
Estudos de campo feitos neste país – onde o leite é produzido fazendo uso exclusivo da erva, em pastoreio directo – demonstram, que as Holstein são "superiores" para a produção de grandes volumes de leite, mas as Jersey e as cruzadas de JerseyxHolstein são superiores, quando se trata de produzir sólidos, especialmente gordura e proteína, sendo por isso mais lucrativas naquelas condições de produção.