Investigadores estudam vegetação mediterrânica preferida por cabras em pastoreio

Investigadores da Estação Zootécnica Nacional, em Santarém, seguem há um ano um rebanho de cabras para saberem que vegetação mediterrânica preferem comer, o seu efeito na redução de parasitas e o contributo do pastoreio na limpeza da floresta.

pastoreio

A investigadora da Estação Zootécnica Nacional (EZN), polo de Santarém do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária (INIAV), responsável pelo estudo, Ana Teresa Belo, disse à Lusa que, além de conhecer a dieta selecionada por cabras em pastoreio, analisando o seu valor nutritivo e as suas propriedades anti-helmínticas, o projeto visa também ajudar os produtores a melhorar a produção e promover a biodiversidade e o controlo da vegetação combustível.

«Sabemos que os caprinos são muito atreitos a parasitismo gastrointestinal», disse a investigadora à Lusa, salientando que um dos objetivos é reduzir os gastos com antiparasitários sintéticos, «que são caros, além da parte ecológica e de poderem entrar na cadeia alimentar».

O estudo, que desenvolve em parceria com a docente da Universidade de Évora Ludovina Padre, quer «mostrar aos produtores que podem utilizar o mato para controlar a carga parasitária e aconselhá-los a nível de suplementação dos animais», para que a produção seja rentável, frisou.

No terreno há um ano, os investigadores, alguns deles bolseiros apoiados por estagiários, registam que plantas e que parte da planta, cada animal do rebanho seguido come em pastoreio no pinhal existente na Fonte Boa, durante quanto tempo, bem como os tempos de paragem e de ruminação, informação que depois é tratada estatisticamente para determinar a composição da dieta.

Esta recolha é complementada em laboratório, com análises às fezes recorrendo a técnicas que permitem, pelos alcanos, hidrocarbonetos, existentes na cutícula das plantas, ver o que os animais ingeriram, sendo igualmente recolhidos parasitas de um grupo de controlo, que não tem acesso a plantas arbustivas, explicou Ana Teresa Belo.

Os extratos das plantas são depois replicados, na proporção verificada na observação de campo e no laboratório, em testes antiparasitários in vitro, acrescentou. «Queremos não só estudar as propriedades antiparasitárias dos arbustos como também ver qual a composição da dieta que vai dar melhor controlo da carga parasitária», disse.

O estudo “Vegetação mediterrânica: anti-helmínticos naturais na dieta selecionada por cabras em pastoreio” é um dos 20 projetos de investigação da EZN aprovados e em curso e que contam com um cofinanciamento comunitário de perto de dois milhões de euros.

Olga Moreira, diretora da EZN, disse à Lusa que os projetos vieram «colmatar o défice» de trabalho e de experimentação, bem como de recursos humanos, que este polo do INIAV viveu nos últimos anos, e frisou a pertinência de estudos como o que está a decorrer com o rebanho de cabras na quinta da Fonte Boa, no Vale de Santarém.

«É uma temática atual que se insere na limpeza da floresta, dos espaços rurais, e pelo benefício para os próprios agricultores, porque têm animais em produção, saudáveis e felizes», afirmou.

O projeto, a decorrer até ao final de 2019, inclui ainda a recolha de amostras de leite, para verificar que alterações acontecem com a mudança do pasto, onde atualmente se encontra o rebanho, depois do nascimento das crias, para o pinhal, adiantou Ana Teresa Belo.

Instalada na quinta Fonte Boa, em 240 hectares de uma área total de cerca de 600 hectares, a EZN é a única infraestrutura do país vocacionada para a investigação e experimentação em produção, reprodução e melhoramento animal, albergando o banco nacional de germoplasma animal.

O trabalho aqui realizado tem «um impacto grande na produção», porque é feito «em estreita ligação com as associações de criadores», afirmou Olga Moreira, realçando o facto de parte dos projetos em curso estar direcionado para a vertente da «economia circular, resíduos zero e reaproveitamento de subprodutos».

Em particular referiu três projetos que estudam a utilização de subprodutos agroindustriais, um usando larvas de Mosca Soldado Negro (BSF) para biodegradação desses resíduos, outro, a iniciar em maio, para substituir parcialmente concentrados por esses subprodutos na engorda de bovinos e outro para inventariar os subprodutos existentes e construir uma plataforma com o valor nutritivo de cada um.

Ao «sonho» de ver crescer o número de investigadores permanentes, Olga Moreira acrescenta a confiança de que a candidatura a fundos comunitários para a criação do Centro de Excelência para a Agricultura e a Agroindústria, pronta para avançar logo que saia o respetivo aviso, será «bem-sucedida», permitindo a recuperação das degradadas instalações e um melhor apetrechamento dos laboratórios.

Fonte: gazetarural

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